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Boletim Editorial 11

Por Juliana Gagliardi, Eduardo Barbabela, Lidiane Vieira e João Feres Júnior

Juliana Gagliardi, Eduardo Barbabela, Lidiane Vieira e João Feres Júnior

No período de 23 a 29 de outubro, os editoriais da grande imprensa[1] abordaram as temáticas listadas na Figura 1. Consideramos, para análise mais específica em nosso boletim, as temáticas presentes simultaneamente nos três jornais, que nesta semana foram: eleições na Argentina, eleições na Bolívia e reforma da Previdência.[2]

A Figura 2 apresenta, a título de acompanhamento, a posição dos editoriais sobre o presidente Jair Bolsonaro.

Figura 1: Temáticas presentes nos editoriais (23/10 a 29/10/2019)

 

ELEIÇÕES NA ARGENTINA. A vitória da chapa encabeçada por Alberto Fernández nas eleições argentinas foi abordada nos três jornais que monitoramos. Nos três casos aparecem especulações sobre quem governará de fato: o presidente eleito ou a vice, Cristina Kirchner. Também os três jornais, embora não expressem apreço pela vitória de Fernández e Kirchner, criticam a reação do presidente Jair Bolsonaro ao resultado. O Globo descreve um quadro de incertezas econômicas com a vitória da chapa e critica Kirchner, sugerindo que sua conhecida ambição traz dúvidas sobre se seria a cabeça da chapa a governar de fato.[3] Em um segundo editorial sobre o assunto, reforça o argumento de que o novo presidente não pode servir de biombo para o kirchnerismo governar, enquanto critica o posicionamento de Bolsonaro e a possibilidade de atrapalhar a relação com a Argentina por “antipatia ideológica”. Justifica seu temor por razões econômicas, uma vez que o país vizinha é nosso “terceiro parceiro comercial”, “o principal mercado para bens manufaturados pelo Brasil e representa 60% das exportações para o Mercosul”.[4] OESP também fala sobre o futuro do país, especulando que Cristina Kirchner poderia ser a verdadeira presidente, mesmo sendo vice, e sugere que Bolsonaro deve abrir mão de suas preferências ideológicas pelos interesses brasileiros.[5] A Folha, seguindo caminho semelhante, questiona se o novo governo será populista, como julga o ciclo kirchnerista, “ou se representará uma nova etapa para o país, em que previsíveis medidas de cunho social se combinarão a uma gestão responsável”. Critica, ainda, como os outros jornais, a tentativa de intervenção de Bolsonaro a favor de Macri, sugerindo “que as diferenças ideológicas de agora” devem dar logo lugar a uma relação pragmática e benéfica às duas nações.”[6]

 

ELEIÇÕES NA BOLÍVIA. A reeleição de Evo Morales para a presidência da Bolívia foi o segundo tema presente em todos os jornais. Os três foram contrários à vitória de Evo, destacando que o resultado é negativo para as instituições bolivianas e apontando para o que consideram posição autoritária do presidente. A Folha critica sua busca pelo quarto mandato e a condução do pleito, argumentando que só estão garantidas no país  “novas perdas para a credibilidade das instituições democráticas bolivianas”.[7] OESP discute o contexto boliviano a partir de olhar que considera Evo um bolivariano que não aceitaria nada diferente do que sua vitória no pleito, e defende, como saída para o país, a auditoria sugerida também pela Organização dos Estados Americanos (OEA).[8] O Globo levanta claramente dúvidas sobre a eleição boliviana, destacando suspeitas de fraudes e a posição internacional crítica ao processo. Põe também em dúvida a própria OEA por ter concordado com a tentativa de reeleição de Evo. Pede por fim uma nova eleição na Bolívia.[9]

 

REFORMA DA PREVIDÊNCIA. A reforma da Previdência foi outro tema eleito de forma unânime para aparecer nos editoriais. Em consonância com o tratamento que tem recebido de costume, sua aprovação no Senado foi festejada nos três jornais. OESP e O Globo destacaram ainda reformas futuras como necessárias. A Folha define a medida como necessária, embora amarga, mas foca no “significado histórico da aprovação”. Para o jornal, que saúda especialmente a definição de idade mínima para aposentadoria, a economia proporcionada abrirá espaço para investimento em áreas fundamentais.[10] OESP, de modo semelhante, refere-se à reforma como um passo importantíssimo para a retomada do crescimento do Brasil. O editorial destaca, ao final, que ainda há muito o que avançar nas reformas e que se deve depositar as esperanças nos chefes das casas Legislativas e não no presidente da República que não tem direcionado o debate e a votação.[11] O Globo defende a reforma aprovada, mas lamenta as alterações feitas no projeto original que “podaram” a economia prevista. Assim como OESP, defende, sobretudo, que outras reformas precisam ser feitas.[12]

 

Figura 2: Valências da abordagem a Jair Bolsonaro nos editoriais (23/10 a 29/10/2019)

 

[1] Para este boletim, consideramos 49 editoriais publicados por Folha de S. Paulo, O Estado de S.

Paulo e O Globo.

[2] Outros três temas ficaram fora do ranking, mas foram abordados por dois jornais cada. A indicação de Eduardo Bolsonaro como embaixador e a CPI das  fake news foram temas principais de editoriais na Folha e em O Estado de S. Paulo; e o tipo de discurso do presidente Bolsonaro foi tema central em editoriais de O Globo e O Estado de S. Paulo.

[3] Aumentam incertezas na Argentina com a disputa de poder na oposição, O Globo, 26/10/2019.

[4] Argentina e Mercosul são estratégicos, O Globo, 29/10/2019.

[5] O futuro da Argentina, O Estado de S. Paulo (OESP), 29/10/2019.

[6] Hora de conversar, Folha de S. Paulo (FSP), 29/10/2019.

[7] Vexame boliviano. FSP, 23/10/2019.

[8] Ranço bolivariano, OESP, 24/10/2019.

[9] Nova eleição pode ser a saída para a crise de confiança e o caos na Bolívia, O Globo, 24/10/2019.

[10] Página Virada, FSP, 24/10/2019.

[11] Seguir adiante, OESP, 24/10/2019.

[12] Modernização da Previdência vence uma etapa, O Globo, 23/10/2019.

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