O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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13 a 20 de novembro, 2017

Os dados mostram que as páginas da nova direita seguem na liderança dos posts mais compartilhados. Nove dos dez posts da tabela pertencem a essas páginas.
Os dados mostram que as páginas da nova direita seguem na liderança dos posts mais compartilhados. Nove dos dez posts da tabela pertencem a essas páginas.

Nesta semana foram publicados 5.964 posts nas 40 páginas monitoradas, totalizando 2.138.611 de compartilhamentos. As páginas que mais postaram nesse período foram: Juiz Sergio Moro – o Brasil está com você, 521 posts; Catraca Livre, 519 posts; e Juventude Contra a Corrupção, 517 posts. Chama a atenção que as páginas das categorias Política e Político veicularam mais posts no período do que as páginas dos conglomerados midiáticos.

Tabela 1: 10 posts mais compartilhados da semana (13 a 20/11/2017)[1]13 a 20 de novembro

Os 10 posts da tabela acima concentram 12% do volume total de compartilhamentos obtidos pelas 40 páginas monitoradas ao longo dessa semana. Repetindo a constatação da semana passada, o vídeo se apresentou como o recurso mais empregado nos posts (60%), seguido da foto (30%) e link (10%).

Os dados mostram que as páginas da nova direita seguem na liderança dos posts mais compartilhados.
Os dados mostram que as páginas da nova direita seguem na liderança dos posts mais compartilhados.

Nove dos dez posts da tabela pertencem a essas páginas. A única página neutra a compor o do rol dessa semana é a do Exército brasileiro. Mais uma vez, as páginas dos deputados do Partido Social Cristão do Rio de Janeiro (PSC-RJ), Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, se destacam como os únicos políticos a participar do ranking dos 10 posts mais compartilhados, e o Movimento Brasil Livre (MBL) como o movimento mais popular. Observamos ainda que outro ator, ausente na lista da semana passada, essa semana emplacou quatro posts na lista dos 10 mais: o movimento Juventude Contra Corrupção (JCC).

É importante, contudo, notar um fato intrigante. Os posts da JCC, assim como os do MBL, apresentam uma discrepância significativa entre o número de curtidas e o número de compartilhamentos. De modo geral, as pessoas mais curtem do que compartilham os posts, e quando tomam a segunda decisão, ela tende a ser precedida pela primeira. Em outras palavras, quase sempre o número de curtidas é bastante superior ao de compartilhamentos, isso quando as curtidas e compartilhamentos são feitos por seres humanos. Esse dado incomum pode indicar a existência de robôs utilizados para inflar artificialmente o número de compartilhamentos dos posts da página.

Pesquisadores do Facebook têm enorme dificuldade de detectar o uso de robôs pelas páginas, pois eles não apresentam um padrão. Mas o trabalho dos robôs não é puramente um simulacro. Ao contribuírem para a superestimação dos dados, eles alimentam o algoritmo de entrega do Facebook, de modo que a sua atuação resulta no aumento da visibilidade do conteúdo das páginas para as quais trabalham. De uma maneira ou de outra, é importante notar a estratégia desses grupos em usar o Facebook para influenciar a opinião pública sobre suas posições políticas.

No tocante ao conteúdo dos posts, verificamos a predominância do pacote interpretativo anti-esquerdista, que associa o socialismo, e mais especificamente, o PT e os movimentos sociais a ele vinculados, ao ateísmo, à depravação, à incompetência e à corrupção. Os atores que partilham desse pacote se colocam como uma alternativa aos que anseiam um governo patriótico, cristão, idôneo e em prol da família heteronormativa.

No post mais compartilhado da semana, Bolsonaro critica, em vídeo de 5 minutos, a cobertura midiática negativa que recebeu nas últimas semanas, e se defende das acusações das revistas Veja, e Isto É e do jornal O Globo. O deputado rebate os rótulos de ditador e preconceituoso, tacha a grande imprensa de governista e parcial, e aproveita a deixa das capas das revistas para dizer que os reais “perigo” e “ameaça” são o socialismo, o kit gay e o MST. Bolsonaro termina o vídeo com imagens de quando foi ovacionado em Vitória e exaltando sua candidatura para 2018 como uma opção para os cidadãos religiosos, honestos e patriotas.

O segundo, o quarto, o quinto e o nono posts mais compartilhados também têm forma de vídeo e são da página Juventude Contra a Corrupção. Embora a foto da página seja do juiz Sergio Moro, ela parece ser um instrumento de campanha permanente para o Delegado Francischini (Solidariedade –PR), pois todos os vídeos contêm sua marca. O segundo se dedica ao descaso com a saúde pública, a partir da reportagem da Record sobre a visita de um procurador da República a um hospital precarizado de Joinville-SC; o quarto denuncia a suposta fraude das urnas eletrônicas; o quinto é uma foto de Jorge Picciani com a frase “Brasil é um país onde 39 corruptos decidem o futuro de outro corrupto”; e o nono é um vídeo do Lula criticando a atuação do judiciário e argumentando por sua democratização. No entanto, o conteúdo do vídeo é deturpado no post, e a legenda diz que o “corrupto” Lula “controlará” o judiciário se eleito.

O terceiro post é um vídeo de Marco Feliciano repudiando o novo episódio do grupo Porta dos Fundos, que coloca o personagem de Jesus numa cena de sexo. O deputado diz que o vídeo é uma agressão ao cristianismo e acusa os criadores do site, Fábio Porchat e Gregório Duvivier, de grosseiros, vazios, destruídos, subversivos, ateus e petistas. Feliciano encerra o vídeo com a frase de efeito: “O nosso país nunca será ateu e a nossa bandeira nunca será vermelha”.

Já o MBL dedica-se a atacar o PT nos seus posts por meio de montagens de fotos. O sexto post do ranking responsabiliza Dilma e Lula pelo calote da Venezuela. No sétimo, a página ironiza afirmando que enquanto o PT pede contribuições para a caravana de Lula, o Ministério Público solicitou o bloqueio de R$ 30mi em suas contas. Em seguida, no mesmo post, o MBL aproveita para pedir doações aos seus fãs, quase que propondo uma espécie de silogismo: “não doe para eles, que têm dinheiro, doe para nós, que não temos”. No décimo post, em vídeo, Kim Kataguiri defende o enrijecimento da legislação penal brasileira a partir de dados sócio-econômicos e de segurança pública, na tentativa de descontruir os argumentos da esquerda em prol da ressocialização dos condenados, que se baseiam na correlação entre desigualdade e violência. No meio do vídeo, Lula e alguns empresários investigados na Operação Lava Jato são chamados de ladrões.

Por fim, o post do Exército Brasileiro, que ocupa o oitavo lugar no ranking, consiste em um vídeo comemorativo do dia 19 de novembro, com o hino à Bandeira Nacional e imagens da instituição.

Em resumo, a nova direita domina as páginas campeãs de compartilhamentos que examinamos. Seu discurso é caracterizado, acima de tudo, pelo antipetismo, com especial atenção para a figura de Lula, alvo de inúmeras invectivas. No antipetismo anti-Lula unem-se o discurso contra a corrupção e a defesa de valores sociais conservadores. Com seus estilos próprios, tanto Bolsonaro quanto o MBL fazem esse movimento de fusão entre as duas pautas. Os propósitos eleitorais de tal estratégia discursiva mal podem ser disfarçados. O discurso contra a corrupção, construído historicamente pela grande mídia colocando o PT como principal agente e Lula como o maior responsável, e que mobiliza massas de classe média desde Junho de 2013, agora se une à defesa de valores cristãos e heteronormativos, típicos da agenda evangélica. Ou seja, esses são prenúncios da campanha eleitoral do ano que vem. Ataques ao potencial candidato Lula e formação de um eleitorado cativo para políticos como Bolsonaro e outros que o MBL venha a apoiar.

[1] O 5º post mais compartilhado pertencia ao Portal R7 e relatava a morte da menina vietnamita, eletrocutada pelo carregador do celular enquanto dormia. Como o tema não se enquadra em nossos interesses, descartamos o post, que foi substituído pelo próximo da lista.

Por Natasha Bachini e João Feres Junior

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