O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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14 a 20 de março, 2018

março 2018

Entre 14 e 20 de março de 2018 observamos significativo aumento no número de posts e compartilhamentos nas 41 páginas monitoradas. Foram alcançadas as maiores marcas desde que iniciamos a pesquisa: 5.435 posts que totalizaram 3.452.508 compartilhamentos. As páginas que mais postaram foram as de mídia: UOL (446 posts), Catraca Livre (429 posts) e O Globo (375 posts).Entre 14 e 20 de março de 2018 observamos significativo aumento no número de posts e compartilhamentos nas 41 páginas monitoradas. Foram alcançadas as maiores marcas desde que iniciamos a pesquisa: 5.435 posts que totalizaram 3.452.508 compartilhamentos. As páginas que mais postaram foram as de mídia: UOL (446 posts), Catraca Livre (429 posts) e O Globo (375 posts).

Tabela 1: 10 posts mais compartilhados da semana (14/3/2018 a 20/3/2018)

19 semana

O post mais compartilhado da semana é do G1 e remete à matéria do portal sobre a resolução 726 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que muda os critérios de obtenção da primeira habilitação e de sua renovação. Entre as mudanças está a exigência de que o condutor faça 2 balizas em seu primeiro exame prático e a obrigatoriedade da realização de curso teórico e de prova para a renovação da habilitação. Contudo, no dia seguinte, o Ministério das Cidades informou que a resolução seria revogada, devido aos custos e dificuldades que ocasionaria na vida dos motoristas brasileiros. O sétimo post do ranking também pertence ao G1 e trata do mesmo assunto.

O segundo e o oitavo posts mais compartilhados são do Movimento Brasil Livre (MBL). O segundo consiste em imagem que compara a justiça brasileira às justiças estadunidense e francesa, fazendo-se alusão ao caso de Lula. De acordo com o MBL, enquanto a “lenga-lenga ridícula da justiça brasileira deixa solto o maior bandido do país”, nos dois últimos países a prisão ocorre imediatamente após a condenação em primeira instância. Esse post do MBL distorce bastante os fatos. A realidade jurídica desses países não parece ser bem essa. Nos Estados Unidos, registra-se um altíssimo número de prisões em primeira instância porque os réus tendem a declarar-se culpados para obter diminuição de suas penas e pelos jurados raramente serem favoráveis aos pedidos de suspensão de sentença por meio os recursos impetrados. Já na França, as prisões normalmente ocorrem após a condenação em segunda instância[1].  Nossa constatação, portanto, é que o post é mais uma das tantas fake news disseminadas pelo grupo registradas por nós.

Já no oitavo post, o movimento relativiza o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e se aproveita do crime para defender algumas de suas pautas punitivistas e armamentistas. O texto diz que “todos os homicídios são políticos”, pois resultam “da impunidade, da corrupção, da má aplicação do dinheiro público, da desvalorização da polícia, da glamurização de bandidos, da lei penal branda, da justiça que manda soltar, do desarmamento do povo e da ideologia que entende a lógica do crime”.

A execução de Marielle foi um dos temas que mais repercutiu nas mídias sociais durante essa semana[2]. Embora as páginas que mais geraram compartilhamentos sobre o assunto (como a da própria vereadora e a do PSOL) não estejam em nossa amostra de acompanhamento semanal devido aos critérios metodológicos adotados[3], dentre as páginas que acompanhamos, verificamos que a morte de Marielle foi tema de 543 posts, que geraram 324.065 compartilhamentos. Em nosso ranking dos dez mais, quatro posts dedicaram-se a esse tema.

O terceiro post é do Ministério da Educação e divulga as datas para inscrição e exame Enceja 2018. A prova é voltada a jovens e adultos que não concluíram seus estudos na idade apropriada e querem obter os certificados dos Ensinos Fundamental e Médio.

O quarto post, da Mídia Ninja, consiste em um vídeo da vereadora Marielle Franco falando sobre a sua história pessoal e sua trajetória, atuação e motivação políticas. Destacando especialmente seu trabalho nas favelas envolvendo cultura e educação, a vereadora assassinada declarava sustentar seu mandato sobre três pilares: gênero, raça e cidade.

O quinto post também trata do assassinato de Marielle, mas por uma outra perspectiva. O Facebook alerta que o vídeo pode mostrar conteúdo explícito ou violento. Embora Marco Feliciano (Pode-SP) lamente as mortes de Marielle e de seu motorista, Anderson, diz também que houve tentativa de apropriação do episódio por parte dos “esquerdopatas”, que se utilizaram dele para “difundir o ódio” e “faturar politicamente”. Feliciano também relativiza o crime, comparando-o às mortes de policiais em combate que não tiveram a mesma cobertura da imprensa ou geraram proporcional comoção, e diz ainda que as bandeiras levantadas em protesto contra morte de Marielle, como o “fim da Polícia Militar”, o “fim da Intervenção no Rio” e “Fora, Temer”, confundem quem observa os acontecimentos de fora do Brasil. Chama ainda os manifestantes de “manifestontos” que “vêem o criminoso como futuro revolucionário em estágio embrionário”, e arremata dizendo que o presente do socialismo para o país foi dividi-lo, quando todos deveriam se unir enquanto irmãos.

O sexto post, da página Deboas na Revolução, compara ironicamente a deturpação da gravidade implicada no assassinato de Marielle por parte da direita à condenação de Jesus: “Não sei pq tanta comoção por causa da morte desse tal Jesus, não era ele que ficava por aí andando com pobre e defendendo bandido e prostituta? Não entendo o motivo de tantas passeatas. Quando morre um soldado romano não vejo ninguém falar nada, não vejo uma postagem em homenagem. Ficar defendendo os direitos humanos dá nisso”.

O nono e décimo posts são do Vem Pra Rua Brasil. No nono, o grupo acusa os ministros do Supremo Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski de pautarem “na marra” a discussão sobre prisão em segunda instância e apela para Carmen Lúcia, que ilustra a foto, não permitir tal feito. O décimo post consiste em enquete que pergunta: “Lula tem que começar a cumprir sua pena de 12 anos de prisão?”, com a foto do ex-presidente ao fundo. No momento que analisamos o post, o resultado da enquete era: 141.034 ou 74% dos votos favoráveis e 48.484 ou 25% contrários à prisão do ex-presidente.

Em resumo, os principais assuntos que repercutiram no Facebook Brasil na semana referida entre as páginas que acompanhamos foram a morte da vereadora Marielle Franco e a discussão sobre a prisão após condenação em segunda instância do ex-presidente Lula. O assassinato da vereadora chocou e comoveu o país não somente por se tratar da execução de uma representante do povo em pleno centro da cidade, o que é muitíssimo grave e, por si só, uma afronta à democracia, mas por tudo aquilo que seu mandato exprimia: as lutas contra a desigualdade, contra a violência, pelos direitos dos favelados, das mulheres, dos negros e da população LGBT. Contudo, a direita no Facebook negou aos apoiadores e simpatizantes de Marielle e de suas causas um período de luto, usando a oportunidade para atacá-los. É bastante lamentável notar que um dos ataques mais ferozes vem de um pastor, Marco Feliciano, alguém que pela profissão deveria ser treinado para exercitar de maneira mais generosa a simpatia com o sofrimento alheio. Quanto a perseguição à Lula feita pelos posts do MBL, ela se assemelha demais ao que é publicado pelos grandes veículos de imprensa e noticiado nos telejornais das grandes emissoras: o conteúdo é o mesmo, fazem campanha por sua prisão, somente a forma muda ligeiramente.

[1] Alvo de disputa no Brasil, prisão após condenação em segunda instância é permitida nos EUA e em países da Europa. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-43480154. Acessado em: 22/03/2018.

[2] Morte de Marielle Franco mobiliza mais de 567 mil menções no Twitter, aponta levantamento da FGV DAPP. Disponível em:  http://dapp.fgv.br/morte-de-marielle-franco-mobiliza-mais-de-567-mil-mencoes-no-twitter-aponta-levantamento-da-fgv-dapp/ Acessado em: 22/03/2018.

[3] Para mais informações, ver o nosso primeiro relatório: http://www.manchetometro.com.br/index.php/mfacebook/relatorio-semanal/2017/11/16/principais-publicacoes-5-a-12-de-novembro-de-2017/

Por Natasha Bachini e João Feres Jr.

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