O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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22 a 28 de julho, 2019

Observamos nesta semana que o governo federal segue se utilizando da rede e de sua militância digital (que muito provavelmente conta com engajamento robótico) para justificar suas controversas ações, que vem sendo alvejadas por cada vez mais numerosos setores da sociedade. Após emitir declarações que vão na contramão de diversos estudos sobre o meio ambiente, a economia, a segurança pública e a importância da cultura, que desrespeitam os direitos humanos e das minorias, além de invisibilizarem os mais pobres, o presidente tenta sustentar, na plataforma, a imagem de líder popular que defende os “interesses da nação” e do “cidadão de bem”, mesmo que isso “signifique o sacrifício de alguns”. Na internet, podemos criar a imagem que quisermos. A questão é até que ponto ou até quando esse avatar, elaborado a partir de tantas distorções, conseguirá se sustentar diante da realidade dos fatos.
Na internet, podemos criar a imagem que quisermos. A questão é até que ponto ou até quando esse avatar, elaborado a partir de tantas distorções, conseguirá se sustentar diante da realidade dos fatos.

Entre os dias 22 e 28 de julho de 2019, as 158 páginas que monitoramos publicaram 6.563 posts, que geraram 3.143.772 compartilhamentos. As páginas que mais postaram nessa semana foram: O Globo (336 posts), G1 (308 posts) e Catraca Livre (302 posts).

Tabela 1: 20 posts mais compartilhados da semana (22/7/2019 a 28/7/2019)[1]

semana 89

Os 20 posts da tabela acima concentram 17% dos compartilhamentos obtidos pelas 158 páginas ao longo do período. Os recursos mais frequentes nos posts foram vídeo (75%), foto (15%) e link (10%).

Jair Bolsonaro responde por 85% dos posts mais compartilhados da semana. O presidente se utilizou da rede para divulgar algumas ações do governo, suas viagens oficiais e relações com celebridades, além de se posicionar em questões relacionadas à Amazônia e à atuação dos militares. Estes últimos foram lembrados em diversos posts, que destacaram a escolta aérea presidencial, os presidentes que tivemos durante a ditadura militar e na defesa do excludente de ilicitude.

No post mais compartilhado da semana, Bolsonaro defendeu-se da matéria do jornal O Estado de S. Paulo (OESP), publicada após sua declaração de que “não há pessoas passando fome no país”, que relatava a pobreza em Eldorado Paulista, sua cidade natal, trazendo os depoimentos de pessoas nessa condição. O presidente respondeu apresentando outra reportagem, da TV Avant[2], que acusava os jornalistas do OESP de terem manipulados as falas dos depoentes, que de acordo com essa segunda versão, não passam fome.

Em outros posts, Bolsonaro noticiou suas viagens a Manaus (AM) e Vitória da Conquista (BA). O presidente aproveitou o fato de estar nesses locais para rebater as críticas que recebera, na semana anterior, ao defender a agenda do agronegócio em detrimento da ambientalista e o remanejamento dos recursos do Fundo Amazônia, no primeiro caso, e para minimizar o movimento dos governadores nordestinos ofendidos por sua declaração xenófoba, no segundo, ressaltando sua popularidade na região. Neste último quesito, Bolsonaro publicou vídeos com o cantor Amado Batista acompanhado de Ronaldo Caiado (DEM-GO) e com o técnico do Palmeiras, Luís Felipe Scolari; imagens de sua recepção nos aeroportos das cidades por pessoas que gritavam “mito”; além de vídeos de propaganda oficial da Semana do Presidente e das obras na BR 135.

O presidente informou também que vai enviar ao Congresso o projeto de lei do excludente de ilicitude para militares em exercício e que deseja estender esse direito para os “cidadãos de bem”, com porte de armas, para quando usadas em legítima de defesa, independentemente do número de disparos efetuados. Além disso, justificou novamente a necessidade da Reforma da Previdência; a importância da liberação dos saques do FGTS, embora a maioria das pessoas possua pouco dinheiro nesse fundo; afirmou que irá extinguir a Ancine, pois o governo não deve patrocinar produções cinematográficas, especialmente “as do tipo pornô, como o filme da Bruna Surfistinha”; e comemorou a retirada, pelo ministro Sergio Moro, do status de refugiados, concedido pelo governo Lula (2003), a “três terroristas do Exército do Povo Paraguaio” (EPP) .

Tivemos ainda no ranking desta semana um post da Revista Veja e dois da Mídia Ninja. A Veja alcançou alto volume de compartilhamentos com uma matéria que acusa Manuela D’Ávila (PCdoB) de ter apresentado Walter Delgatti Neto, detido recentemente como suspeito de ser o hacker que invadiu os celulares de autoridades, ao jornalista do Intercept Brasil Glenn Greenwald. Já os posts da Mídia Ninja trouxeram uma fala de Pedro Cardoso, no Programa da Maísa (SBT), em que o ator explica a relação entre autoridade e liberdade, e afirma que “autoridade sem liberdade é opressão”; e a denúncia de um indígena Wajãpi sobre  o assassinato de uma liderança por garimpeiros que invadiram reserva, na região da Floresta Amazônica, no Amapá.

Observamos nesta semana que o governo federal segue se utilizando da rede e de sua militância digital (que muito provavelmente conta com engajamento robótico) para justificar suas controversas ações, que vem sendo alvejadas por cada vez mais numerosos setores da sociedade. Após emitir declarações que vão na contramão de diversos estudos sobre o meio ambiente, a economia, a segurança pública e a importância da cultura, que desrespeitam os direitos humanos e das minorias, além de invisibilizarem os mais pobres, o presidente tenta sustentar, na plataforma, a imagem de líder popular que defende os “interesses da nação” e do “cidadão de bem”, mesmo que isso “signifique o sacrifício de alguns”.

Na internet, podemos criar a imagem que quisermos. A questão é até que ponto ou até quando esse avatar, elaborado a partir de tantas distorções, conseguirá se sustentar diante da realidade dos fatos.

[1] Nesta semana, excluímos da lista dois posts, um da Globo e outro da Rede TV!, por não tratarem de política.

[2] A TV Avant é um canal da região sul do Estado de São Paulo.

Por Natasha Bachini e João Feres Jr.

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