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Boletim Editorial 6

 

Período: 18/9 – 24/9/2019 Número de editoriais: 50 Jornais: Folha de S. Paulo/O Estado de S. Paulo/O Globo.
Período: 18/9 – 24/9/2019
Número de editoriais: 50
Jornais: Folha de S. Paulo/O Estado de S. Paulo/O Globo.

Juliana Gagliardi, Eduardo Barbabela, Lidiane Vieira e João Feres Júnior

No período de 18 a 24 de setembro os editoriais da grande imprensa abordaram as temáticas listadas na Figura 1. Consideramos, para análise mais específica em nosso boletim, os três eixos principais: governo Bolsonaro, economia e educação.

Grafico

Figura 1: Temáticas presentes nos editoriais (18 a 24/9/2019)

Nesta semana Bolsonaro e seu governo foram o eixo temático principal nos editoriais dos três jornais que monitoramos. Um dos subtemas recorrentes foi o meio ambiente. Para a Folha,[1] o posicionamento do governo diante da crise climática é de “miopia”. Antes mesmo que o presidente fizesse o discurso da última terça-feira (24/9), na Organização das Nações Unidas (ONU), a Folha opinava haver “escassas chances de reverter o desgaste de sua imagem em boa parte do mundo”. O Estado de S. Paulo (OESP)[2] critica o discurso do governo sobre globalismo e defende a preservação da amazônia e a luta contra a crise climática. Em outro editorial,[3] OESP ressalta que as queimadas devem ser consideradas nas contas externas do país e argumenta que a postura do  governo federal prejudica o agronegócio e a economia brasileira. O Globo,[4] de forma mais genérica, também considera o impacto econômico da crise amazônica, defendendo que se encontrem meios de defender a floresta, mas sem impedir a sua exploração, e responsabiliza o governo por desmantelar os sistemas de vigilância. Poucos dias depois, O Globo[5] também abordou previamente o discurso que Bolsonaro faria na ONU. Fazendo críticas ao posicionamento pregresso do presidente, esse editorial apresentou, contudo, a ocasião como uma oportunidade  e previu a possibilidade de êxito para o Brasil caso o presidente tivesse competência política, não insistisse no negacionismo e se comprometesse a buscar soluções. Para o jornal, essa instrução “não se trata de filantropia”, mas se justifica porque isso é bom para os negócios.”

A política externa também compôs o eixo de críticas ao governo. Enquanto OESP[6] criticou sua política externa “imprudente”, de afinidade ideológica  – com atores como Netanyahu e Bannon –, O Globo[7] retomou o comentário de Bolsonaro sobre o pai de Michelle Bachelet, argumentando que isso resultou na inflexão da relação com o presidente chileno Sebastián Piñera, que o criticou  publicamente. O editorial do jornal reprova mais uma vez o posicionamento do presidente brasileiro e, fazendo comparação entre os dois países, conclui que a relação respeitosa entre Bachelet e Piñera, mesmo sendo adversários políticos, vem da estabilidade institucional alcançada pelo Chile após Pinochet.

Os jornais de São Paulo tocaram também na questão tributária em suas críticas ao governo. OESP[8] teve como alvos a equipe econômica e o ministro Paulo Guedes, acusados de não investirem nas discussões sobre a questão tributária que demonstrariam a necessidade de reforma. A Folha,[9] de modo semelhante, questiona a falta de diretrizes do governo para a reforma tributária.

Outros três pontos têm espaço no eixo temático do governo Bolsonaro. O Globo[10] aborda o aumento de preço dos combustíveis e, após criticar os governos petistas e “anteriores” por manipulá-lo, acusa o presidente de não cumprir a promessa de que não haveria aumento. Conforme o editorial, é necessário “dar garantia de estabilidade regulatória aos investidores”. De outro lado, OESP[11] também cobra promessas de Bolsonaro, apontando que seu governo continua defendendo interesses familiares e com base em negociações fisiológicas, contrariando promessas de campanha e interesses nacionais. Por último e em rara menção positiva, o mesmo jornal[12] aborda o setor de infraestrutura e elogia as ações do governo para atrair capital e melhorar o ambiente para os investimentos.

Economia foi o segundo eixo temático mais frequente nesta semana, sendo os gastos públicos um ponto principal presente nos três jornais que, em uníssono, defendem sua redução. Na Folha,[13] argumenta-se que “não há mais como expandir simultaneamente despesas. (…) Pelo contrário, é preciso definir quem perderá mais e menos.” No contexto de demanda de aumento de remuneração pelas Forças Armadas, a Folha critica que se faça isso enquanto se reduz a verba da educação e ressalta outras diversas demandas abertas. O jornal defende que é necessário definir prioridades, o que depende de mediação política, e atribui ao Congresso o papel de atuar mais ativamente no debate orçamentário para contrabalançar preferências pessoais do presidente.  Também com menção às Forças Armadas, mas com outro foco, O Globo[14] aborda a diminuição do orçamento da instituição para apontar, como causa, a “rigidez dos gastos públicos”, como salários do funcionalismo, previdência e gastos sociais em geral.  O grande motivo do editorial é defender que se quebre a rigidez desses gastos, ressaltando como oportunidade a PEC do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), que atende a esses fins, e destacando que o teto constitucional é necessário para conter as despesas do Estado. OESP[15] também defende a manutenção do teto de gastos aprovado durante o governo Temer, sublinha como importante que se discuta os gastos públicos durante a crise fiscal e recomenda a sua redução.

Além dos gastos públicos, este eixo temático no OESP engloba outros pontos. Um deles é a ênfase na importância da confiança nos negócios, com editorial[16] afirmando sua importância e apresentando sugestões sobre como melhorá-la. O segundo é o elogio[17] à atuação do Banco Central na retomada econômica, principalmente no que diz respeito à taxa de juros, acompanhada de crítica ao governo como gerador de crises que comprometem a imagem do país. O terceiro ponto, que engloba dois textos, é a observação do quadro geral da economia brasileira como um cenário terrível e prognóstico pouco animador. Um[18] desses editoriais avalia o cenário atual, enquanto o outro[19] inclui a possibilidade de melhora caso o Brasil foque na indústria e o governo seja competente.  Para além do fato de que são dois editoriais distintos com focos muito coincidentes e publicados no mesmo dia, destaca-se a atribuição de um “voto de confiança” no governo, quando se fala de economia, como já observamos em boletins anteriores.

O terceiro eixo temático mais frequente do período, com um editorial em cada um dos três jornais, foi educação. A Folha[20] aborda a flexibilização das lei de regulação do ensino à distância e o temor de que isso signifique redução da qualidade “já sofrível da educação superior.” OESP[21] demonstra preocupação com o fim da vigência da emenda constitucional do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) e defende, concordando com o Congresso, sua restauração. E O Globo[22] descreve um quadro de crise, enumerando problemas que atingem todos os estágios da educação pública, e critica a medida do governo Bolsonaro de gastar dinheiro em uma rede de escolas militares, o que aponta como sinal de “contaminação ideológica do MEC”.

Conclusão

Seguindo o mesmo padrão de semanas anteriores, o governo Bolsonaro e a economia são temáticas predominantes nos editoriais dos três jornais que monitoramos. Nesta semana, as críticas a Bolsonaro pelo seu posicionamento a respeito do crise amazônica se destacaram mais uma vez. Cabe ressaltar a tendência de apontar, como justificativa para essas críticas, o impacto que a imagem negativa do presidente traz para os negócios brasileiros em detrimento da discussão sobre impacto ambiental. No segundo eixo temático mais presente – o econômico –, a preocupação com os gastos públicos e a recomendação de limitá-los teve destaque. O terceiro eixo temático, diferentemente das semanas anteriores, foi educação, que, embora a partir de pontos mais difusos, também foi composto de críticas ao cenário atual e a medidas do atual governo.

[1]  Sinuca ambiental, Folha de S. Paulo (FSP), 22/9/2019.

[2] O clima como questão política, O Estado de S. Paulo (OESP), 24/9/2019.

[3] Risco de fogo nas contas externas, OESP, 24/9/2019.

[4] A busca pelo equilíbrio na Amazônia, O Globo, 19/9/2019.

[5] Êxito na ONU vai depender da competência política de Bolsonaro, O Globo, 22/9/2019.

[6] Amigos em apuros, OESP, 22/9/2019.

[7] Ataque de Bolsonaro a Bachelet levou a uma inflexão com o Chile, O Globo, 21/9/2019.

[8] Uma reforma sem projeto, OESP, 19/9/2019.

[9] Mais turbulência, FSP, 23/9/2019.

[10] Devem-se evitar intervenções nos preços da Petrobras, O Globo, 20/9/2019.

[11] Apoio para quê?, OESP, 18/9/2019.

[12] Infraestrutura verde, OESP, 22/9/2019.

[13] Meu pirão primeiro, FSP, 19/9/2019.

[14] A crise silenciosa dos projetos das Forças Armadas, O Globo, 18/9/2019.

[15] O avanço do gasto obrigatório, OESP, 18/9/2019.

[16] Confiança nos negócios, OESP, 19/9/2019.

[17] Juros, uma política com rumo, OESP, 20/9/2019.

[18] Perdendo posições, OESP, 21/9/2019.

[19] O Brasil na armadilha do 1%, OESP, 21/9/2019.

[20] Longe da qualidade, Folha, 23/9/2019.

[21] Fundeb permanente, OESP, 23/9/2019.

[22] Desperdício de dinheiro na Educação, O Globo, 22/9/2019.

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