O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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DONI # 45 – 02 a 08 de março de 2024

No DONI semanal são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente, ou algum personagem ou Instituição do Governo Federal, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. Esta semana foram analisados 104 textos.

Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[1]



[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.

[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula , na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.



Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal

O destaque da semana é o resultado do PIB brasileiro, que apresentou alta impulsionado pelo consumo das famílias e pelo agronegócio, conforme apontado por Fernando Haddad. Os jornais afirmam que o ministro conseguiu reverter a desconfiança do mercado financeiro, especialmente devido à baixa na inflação, o que permitiu às famílias consumirem mais. Os textos reforçam a fala de Haddad quanto à necessidade urgente de investimentos, já que um bom desempenho do PIB não se sustentará sem o volume necessário de investimentos e alertam para o equívoco do governo em priorizar o aumento de receitas em detrimento da revisão dos cortes de gastos para direcionar mais recursos para investimentos, o que, segundo a percepção dos jornais, pode comprometer o crescimento econômico sustentável no longo prazo.

O segundo tema é a própria administração federal. Os três jornais pontuam a preocupação do governo com o bloqueio no Orçamento no Congresso e que a responsabilidade seria em parte do governo Bolsonaro. Novamente notamos elogios para o ministro Haddad, que os jornais consideram estar bem na articulação da Medida Provisória da reoneração. Finalmente, os jornais acreditam que a piora na avaliação do governo é um reflexo de um dos polos da política, o que está no poder, ter que lidar com a moderação exigida pela democracia no Brasil.

A terceira posição é a proposta do governo para regulamentar o trabalho por aplicativo. Os jornais citam que o projeto prevê que os trabalhadores de transporte teriam piso salarial, limite de carga horária e aposentadoria. No entanto, os textos asseveram que os entregadores não seriam de fato beneficiados, o que evidencia uma falta de compreensão do governo sobre a autonomia e flexibilidade das novas relações de trabalho ao tentar impor uma concepção do passado.

Finalmente, o quarto tema é a relação entre o Executivo e o Legislativo, com os jornais apontando que as emendas estão perdendo seu propósito no atual contexto político, com a utilização desmedida pelo Congresso. Os textos também citam que a ala mais radical do Partido Liberal (PL) estará à frente da CCJ e da comissão de Educação com as nomeações de Caroline de Toni e Nikolas Ferreira para presidi-las, respectivamente. Segundo os jornais, a baixa qualificação desses nomes sugerem que a oposição não está preparada para contribuir para o debate político.

Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[3]

Esta semana o Estadão continuou a confirmar sua disposição mais contrária ao Governo, com cindo editoriais e seis chamadas de capa negativos, ainda que sejam dignas de notas as duas manchetes favoráveis, algo fora do padrão do periódico. A Folha amainou a carga negativa de sua cobertura, mas no âmbito dos editoriais os negativos ainda superam os ambivalentes. Já o Globo publicou somente um editorial negativo, mas um farto número de chamadas dessa natureza, 7. Os colunistas do jornal carioca continuaram a mostrar disposição contrária ao Governo.

[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.

Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal

Como sempre, Lula recebe cobertura significativamente mais negativa que seu Governo. Essa semana, O Globo ficou na liderança de negatividade, com um IV de – 3,5, seguido pelo Estadão, com IV de –2,17 e a Folha com IV igual a –1,00.

Gráfico 5. Temas mais presentes na cobertura do Presidente Lula

Assim como na cobertura do Governo Federal, as discussões sobre a relação Executivo e Legislativo e o Governo Federal ocuparam uma parte significativa das notícias relacionadas ao Presidente Lula. Contudo, três temas também tiveram destaque essa semana, o presidente Lula, a Venezuela e a Vale.

Os textos que focam no presidente Lula abordam diversos aspectos de sua gestão e influência política e destacam que, embora sua popularidade permaneça alta, especialmente entre sua base eleitoral fiel, a rejeição a Lula cresceu no setor evangélico. Os jornais consideram Haddad a única figura capaz de moderar os ímpetos de Lula, embora nem sempre suas visões estejam em sintonia com as do presidente.

O segundo tema é a Venezuela. Os textos pontuam que quanto mais Nicolás Maduro intensifica seus ataques à oposição, mais Lula o defende. Os jornais criticam a comparação de Lula entre a situação venezuelana e o Brasil em 2018, quando Haddad o substituiu na eleição presidencial. Ainda segundo os periódicos, ao defender Maduro, Lula estaria perdendo credibilidade em sua busca por liderança no Sul Global, especialmente considerando que o regime venezuelano teve um pedido negado em Haia.

Finalmente, a tentativa de interferência na Vale pelo governo é criticada pelos jornais. Os textos pontuam que tal atitude teria impacto negativo no volume de investimentos do país, o que é preocupante, especialmente considerando que o Brasil necessita de um aumento nos investimentos, apesar do bom desempenho do Produto Interno Bruto (PIB).

Gráfico 6. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

A militância do Estadão contra Lula não poderia ser mais explícita. São 7 editoriais e 5 chamadas de capa criticando o presidente. Mas a Folha não ficou distante de seu par paulista, ao publicar 7 chamadas e 4 editoriais negativos. O Globo não teve sequer um editorial negativo, mas dedicou ao presidente uma enxurrada de chamadas e colunas com esse viés. É digno de nota a manutenção nos quadros de O Globo de colaboradores contrários ao petista. Foram 6 essa semana. 

A cobertura em torno de Lula continua sendo menor em comparação àquela dedicada ao Governo Federal, embora permaneça mais negativa. A grande imprensa não retomou os patamares de negatividade que apresentou durante o período da Operação Lava Jato e do Mensalão, mas a disposição editorial de criticar Lula e seu governo, particularmente no que toca a pauta econômica é patente. Infelizmente, também como de costume, os outros textos jornalísticos de destaque são arranjados de modo a seguirem a linha dos editores, sacrificando a pluralidade do debate público.

Para baixar o nosso relatório, clique aqui.


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DONI

O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.

Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.

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[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.

[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula , na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.

[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.

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