O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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19 a 25 de dezembro, 2017

Na semana do Natal foram publicados 4.597 posts nas 40 páginas monitoradas por nossa pesquisa, totalizando 2.191.846 de compartilhamentos.
Na semana do Natal foram publicados 4.597 posts nas 40 páginas monitoradas por nossa pesquisa, totalizando 2.191.846 de compartilhamentos.

Na semana do Natal foram publicados 4.597 posts nas 40 páginas monitoradas por nossa pesquisa, totalizando 2.191.846 de compartilhamentos. As páginas que mais postaram foram, novamente, as de mídia: Folha de S. Paulo (396 posts), UOL (383) e Catraca Livre (368). No entanto, nenhum dos posts dessas páginas viralizou de modo suficiente a garantir uma posição no ranking.

Tabela 1: 10 posts mais compartilhados da semana (19/12/2017 a 25/12/2017)[1]

Nessa semana, foram substituídos no ranking 2 posts, 1 da Metropolitana FM e outro do G1, por não tratarem de política.

Os 10 posts da tabela acima concentram 21% do volume total de compartilhamentos obtidos pelas 40 páginas monitoradas ao longo dessa semana. O vídeo segue como o recurso mais empregado nos posts (80%).

As páginas do Vem Pra Rua Brasil e de Jair Bolsonaro foram as que apresentaram melhor desempenho nessa última semana. Juntos, seus posts respondem por 50% da lista dos mais compartilhados. Completam o grupo os posts de direita oriundos das páginas do Movimento Brasil Livre (MBL) e Juventude Contra à Corrupção (JCC). Em contrapartida, temos também dois posts de páginas de esquerda marcando presença no rol: um de Lula e outro do Conversa Afiada Oficial, página do jornalista Paulo Henrique Amorim.

As duas primeiras posições são ocupadas por posts do Vem Pra Rua Brasil que criticam o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. O primeiro post consiste numa sátira que chama Mendes de Papai Noel dos políticos encarcerados, por ter soltado Adriana Ancelmo, rejeitado as denúncias contra Benito de Lira, Arthur Lira, Eduardo da Fonte e José Guimarães, e suspendido o inquérito contra Beto Richa. Contudo, o grupo deturpa os desdobramentos dos processos, misturando-os. Independente da opinião que se possa ter a respeito, a soltura de Ancelmo e a suspensão do inquérito de Richa são decorrentes do cumprimento de uma prerrogativa legal. Já o arquivamento das denúncias contra os parlamentares foi uma decisão da Segunda Turma do STF como um todo, não uma decisão monocrática de Gilmar Mendes.

O segundo post trata da liminar concedida por Mendes que proíbe as conduções coercitivas em todo o país. Tal prática teve sua constitucionalidade questionada, tanto pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil quanto pelo Partido dos Trabalhadores. Porém, o grupo atribuiu a autoria da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) somente ao PT e manifestou contrariedade à decisão do ministro nesse caso. O Vem Pra Rua também não se preocupou em esclarecer que a ADPF do PT pedia que a proibição se estendesse a suspeitos e réus, o que foi negado pelo ministro. Ou seja, em ambos os casos, observamos que os posts continham omissões de fatos importantes. Nota-se também uma narrativa que incita o ódio ao PT e a Mendes, corroborados pela finalização: “Gilmar Mendes envergonha a justiça brasileira. Se você concorda, compartilhe!”

O 3º post é do deputado Jair Bolsonaro e reproduz um suposto vídeo caseiro no qual um pai mostra sua indignação perante o material escolar do filho, que por meio de ilustrações, apresenta vários formatos de família, inclusive agrupamentos constituídos por pais gays. A imagem motiva a revolta do sujeito, que atribui aos comunistas a responsabilidade pela produção do material e pela difusão de “ideias imorais”. O conteúdo do vídeo foi considerado ofensivo e bloqueado pelo Facebook, que também criou um alerta a seu respeito.

O 4º post mais compartilhado da semana pertence ao MBL. Utilizando-se de uma foto do ex-presidente Lula, o movimento o culpa pelo preço do gás, atribuindo-lhe a frase: “Só pra lembrar que eu doei uma refinaria para a Bolívia e agora a gente paga uma fortuna para comprar o gás deles”.

O 5º post, do Conversa Afiada Oficial, é uma chamada para um texto no blog do jornalista Paulo Henrique Amorim acompanhado pelo seguinte meme: “Imaginar que 15 meses atrás a gasolina custava 2,80 e o gás 35,00. E tava ruim, é?”

O 6º post é assinado por Bolsonaro. Trata-se de um vídeo no qual o deputado aparece junto com sua filha caçula para desejar Feliz Natal aos seus fãs. Adotando um tom bem mais leve que o de costume, Bolsonaro diz que compartilha o desejo de muitos brasileiros de simplesmente “comemorar o natal, o dia do papai, da mamãe, paz em sala de aula”, e que o futuro presidente seja “honesto, patriota e tenha Deus no coração”.

A 7ª posição é ocupada por um vídeo do ex-presidente Lula, também desejando Boas Festas aos seus fãs. Lula diz que “O Brasil precisa ser um país de oportunidades e de justiça”, e deseja que 2018 seja um ano diferente para o povo brasileiro, com “menos ódio, menos violência e menos pobreza”. O ex-presidente fala ainda que “o futuro se constrói a cada dia”, exalta as conquistas relacionadas aos mais diversos setores, como a educação, o agronegócio, a ciência, a tecnologia e o empreendedorismo, e afirma que é possível reavivá-las.

O 8º post, do Vem Pra Rua, novamente remete a Lula. O movimento comemora a perda do processo conhecido por “Power Point” do ex-presidente contra o promotor Deltan Dallagnol. Iniciando o vídeo com uma frase “Lula se deu mal mais uma vez!”, o Vem Pra Rua sugere que os seus fãs compartilhem o vídeo, posto que “não é todo dia que Lula tenta ganhar 1 milhão sem trabalhar e no final acaba tendo que tirar dinheiro do próprio bolso”.

O 9º post foi publicado pela página do MBL e reproduz uma matéria da TV Bandeirantes sobre o reajuste dos salários dos vereadores da Câmara de Uberlândia sob o título “descontrolada”. Nesse vídeo, a procuradora jurídica da Câmara, Alice Ribeiro, irritada com pergunta do repórter acerca da imoralidade do aumento dos salários, o agride com o microfone.

O último post do ranking pertence à página do movimento Juventude Contra Corrupção, que por meio de vídeo, premia os melhores corruptos de 2017. Os campeões do irônico concurso por categoria foram: puxa-saco de bandido: Wladimir Costa, com a tatuagem do Temer; melhor áudio vazado: Romero Jucá, pelo “grande acordo nacional”; melhor funcionário da JBS: Michel Temer; o corrupto do ano: Sergio Cabral Filho; e o prêmio de honra foi para Lula.

Observamos que o predomínio da direita e o ligeiro avanço da esquerda na ocupação das posições do ranking se mantiveram durante essa semana, assim como a difusão do pacote interpretativo que associa o moralismo religioso ao repúdio de uma agenda política de esquerda, representada por Lula e pelo PT. No entanto, registramos uma diferença importante com relação aos dados levantados nas semanas anteriores. Os posts mais compartilhados do período se dedicaram, majoritariamente, a um único personagem: Lula. O ex-presidente foi mencionado diretamente em 50% dos posts dessa semana. A maioria desses posts são de autoria dos movimentos Vem Pra Rua Brasil e Movimento Brasil Livre, e têm como objetivo depreciar a imagem de Lula. Já havíamos registrado esse comportamento por parte dos mesmos atores em outros momentos, porém nunca o ataque fora tão concentrado como nessa semana. Destacamos a ausência de um personagem corriqueiro nos rankings:  Marco Feliciano.

Diante dessas constatações, entendemos que embora a política institucional e parte dos brasileiros estejam em recesso, a disputa eleitoral de 2018 segue a todo vapor no Facebook.

[1] Nessa semana, foram substituídos no ranking 2 posts, 1 da Metropolitana FM e outro do G1, por não tratarem de política.

Por Natasha Bachini e João Feres Jr.

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