O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

Parceria

Série M: Cortes na Educação

Por Lidiane Vieira, Natasha Bachini, Eduardo Barbabela, Juliana Gagliardi e João Feres Jr.

Fernando Frazão/Agência Brasi
Estudantes e professores de institutos federais e universidades fazem manifestação na Avenida Presidente Vargas em protesto contra o bloqueio de verbas da educação.

Introdução

No dia 26 de abril de 2019, o presidente Jair Bolsonaro em sua conta pessoal do Twitter, escreveu que estaria em curso um estudo do ministro da educação, Abraham Weintraub, para “descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas)”. Desde então, o Ministério da Educação implementou diversos cortes nos recursos destinados à educação superior e básica. Formou-se no país um forte clima de insatisfação que culminou em um grande ato a favor da Educação no dia 15 de maio de 2019.

A proposta desse texto é analisar a cobertura dos jornais e das páginas analisadas pelo M Facebook para compreender como a crise na Educação foi noticiada nos jornais e nas redes sociais. O período estudado será de 26 de abril, dia da tuitada do Presidente, até 16 de maio, data seguinte à primeira manifestação nacional.

O Globo

Na cobertura de O Globo notamos um total de 45 textos sobre a pauta do corte de verbas, com apenas uma manchete em 16 de maio, dia posterior à primeira onda de manifestações. O jornal carioca inicialmente deu pouco espaço ao tema, apenas discutindo as possibilidades de cortes nos cursos de Sociologia e Filosofia[1]. Com a confirmação dos cortes no orçamento das universidades, o jornal se posicionou contrariamente à atuação do ministro Weintraub, não devido ao corte – que considerou justo, motivado pela crise econômica –, mas pelo “conteúdo ideológico radical da medida”[2] e por sua atuação que fazia “rir involuntariamente”[3]. Nos dias seguintes os reflexos dos cortes foram noticiados,[4] e tanto colunistas como articulistas convidados começaram a defender a importância da produção de conhecimento[5] e a criticar os membros do governo, chamado-os de rejeitados que seguem o exemplo do seu líder, o maior dos rejeitados, o próprio presidente.[6]

Os cortes nas bolsas de Mestrado e Doutorado e a convocação do ministro da Educação pelo Congresso também foi notícia nas capas. A partir do dia 12 de maio a manifestação dos estudantes do Pedro II em frente ao Colégio Militar foi noticiada e consequências dos cortes começaram a ser discutidos[7]. As críticas aos cortes na cultura[8] e na educação continuaram a ser temas de colunas e artigos de opinião, inclusive com a afirmação de que a destruição da universidade pública é um ataque rancoroso do bolsonarismo, representado pelo ministro Weintraub, para garantir o caos, que seria parte do modus operanti dos bolsonaristas[9].

Finalmente, no dia 16, as manifestações e cortes assumiram grande importância e ocuparam grande parte da capa, com a manchete[10] e uma grande foto da manifestação do Rio de Janeiro como exemplo. Nos textos opinativos, porém, houve apenas uma breve nota sobre a confusão criada entre o Planalto e a base aliada no Congresso quanto aos cortes na educação[11].

Em suma, a cobertura de O Globo apresentou três elementos básicos. O primeiro foi criticar o governo, descrito como composto por rejeitados, criadores do caos e que atuavam apenas por ideologia. Segundo, por meio de articulistas convidados, o jornal abriu espaço para elogios à universidade pública e ao conhecimento que é produzido nas mesmas. Por fim, cabe destacar que o jornal, apesar de criticar a forma como os cortes foram realizados, sempre noticiando os passos do governo, repete o argumento de que é necessário “transformar o ensino superior”, o qual inclusive precisaria de uma reforma, que se tornara uma caixa preta, além de ser necessário corrigir as distorções dos gastos públicos que favorecem adultos e idosos em detrimento de crianças e adolescentes[12].

 

Estadão

A cobertura do Estado de São Paulo teve um total de 26 inserções, o menor número que observamos entre os jornais impressos. A primeira chamada trata o fato como uma sugestão do presidente[13]. A primeira manchete foi publicada no dia 30 de abril com a afirmação sobre o corte de verbas para Universidades que promoverem a “balbúrdia” e a reprodução no corpo do texto da fala do ministro Weintraub de que “a universidade deve estar com sobra de dinheiro para fazer bagunça e evento ridículo”[14]. Nas capas o jornal cedeu espaço não apenas às informações relacionadas aos cortes e bloqueios de verba[15], mas também divulga a entrevista do reitor da Universidade Federal Fluminense, Antônio Cláudio Nóbrega, segundo o qual a universidade será inviabilizada pelo corte[16].

O jornal também publicou textos que defendem a academia, destacando as Ciências Humanas como um dos vetores para a evolução da sociedade e criticando a saída simples de corte de verbas para o problema complexos do Brasil[17]. O Estado também concedeu espaço aos cortes no ensino superior[18], mas também à educação básica[19]. A decisão de cortar verbas de cursos de humanas que “suscitam a visão crítica” foi duramente criticada, com a afirmação de que com as decisões do governo “passa a ser ‘proibido pensar’”[20]. Um editorial publicado no dia 4 de maio, posicionou-se contrário às decisões do governo Bolsonaro e apresentou dados que contradizem o argumento utilizado pelo presidente, concluindo que em uma democracia o presidente tem o direito de defender ideias retrógradas, mas não de asfixiar quem não concorda com seus valores[21].

Quanto à universidade pública em si, o Estadão criticou a “tolerância com a bagunça e a desordem” que existiria nesses espaços que ao invés de “ser de ensino se transforma em palco de extravagâncias e até de depredações e violências”. Além disso, o jornal apontou a conivência com manifestações político partidárias que desrespeitam a liberdade e o pluralismo e afirma que o ministro Weintraub se igualou a esses desordeiros. Seria preciso enfrentar o problema da desordem, mas não arbitrariamente como o MEC estaria atuando[22].

O jornal também abriu espaço para a defesa da autonomia universitária com dois textos assinados, um que defendeu a universidade, embora com a ressalva de que é necessário que existam avaliações constantes para evitar excessos[23]. E o segundo artigo de opinião, escrito pela vice-reitora da Unicamp, que relembrou a importância do ensino superior, criticando o desrespeito com a universidade[24].

No dia 15 de maio, data marcada para as manifestações, houve duas chamadas sobre os cortes no MEC. A primeira destacou os atos que ocorreriam em todo o país; a segunda destacou a convocação do ministro Weintraub pela Câmara dos Deputados para esclarecimentos. É no dia 16, porém, que tivemos novamente a manchete dos jornais destacando o tema, quando os protestos foram noticiados, inclusive com foto na capa do protesto realizado na Avenida Paulis.[25]

Apesar de uma cobertura menor, o Estado de São Paulo foi o jornal que deu o maior número de manchetes para a polêmica envolvendo a educação, duas. A cobertura se pautou prioritariamente por noticiar as ações do governo, criticando a forma arbitrária e autoritária com o qual o processo de corte foi realizado, e defender que é preciso sim agir para limitar a balbúrdia político-partidária nas universidades, embora reforce a importância das mesmas para o desenvolvimento da sociedade.

Contabilizando em torno de 40 inserções na cobertura da Folha de S. Paulo, a pauta do corte de verbas na educação e das manifestações recebeu a primeira e única manchete somente após as paralisações do dia 15 de maio. Ao longo do período analisado, entre chamadas, colunas e artigos de opinião é possível delimitar algumas temáticas recorrentes. O descrédito das ações governamentais ocupou espaço significativo, desde a identificação de uma agenda de “guerra ideológica”[26] até uma “necropolítica”, que ia além da precarização e “visa ao extermínio”[27] dos espaços de construção de conhecimento e de reflexão autônoma. O presidente da República não passou ileso. Ele foi considerado “inábil e arrogante”[28], especialmente no que toca suas declarações em Dallas, que “sem entender esse xadrez político, nem inteligência política para aprender” não consegue gerir o governo.

Decorre daí diagnósticos de instabilidade nos pronunciamentos, que a depender da reação da plateia, foram alterados, produzindo contradições, como foi o caso de escolher, a princípio, cursos de humanas que representam menos de 1% da universidade a partir de um argumento de necessidade de reduzir custos.

O Ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi frequentemente apresentado como uma ameaça, por sua maior capacidade de ação[29] se comparado ao ministro anterior. Em oposição ao pensamento maniqueísta do governo,[30] que categoriza como “idiotas úteis” os que dele discordam, a cobertura da Folha mobilizou diversos argumentos em defesa da utilidade das humanidades[31], bem como o impacto que a produção científica universitária, como um todo, tem na sociedade[32]. A única manchete desta pauta publicada pelo jornal narra as paralisações em 170 cidades e enfatiza o pronunciamento de Jair Bolsonaro a respeito do manifestantes serem “imbecis”. A matéria sob a manchete ainda vincula a defesa da educação e o repúdio a Reforma da Previdência, ao evidenciar que as manifestações foram “convocadas originalmente por sindicatos contrários à reforma da Previdência.”[33]

Foram dois editoriais dedicados especificamente ao assunto, um terceiro publicado no período tratou da crise do Fundeb. Embora construíssem uma crítica evidente à gestão do Governo Federal, a qual consideravam uma “sequência de equívocos”[34], os editoriais apresentaram as Universidades como instituições inchadas, corporativistas e vulneráveis ao aparelhamento de partidos políticos, especialmente da esquerda. Em outras palavras, eles justificaram algum tipo de ação governamental. Também houve apoio, por parte do corpo editorial, para justificação dos cortes devido à crise nas verbas públicas, já que “sem reformas e outras medidas restaram menos de 2% em 2020”[35]. Apesar das reformas econômicas apareceram novamente como argumento de necessidade última, as medidas do Ministério da Educação foram retratadas como “preconceito e desconhecimento da realidade”. Ao apresentar dados sobre a importância das universidades, especialmente as três federais que foram alvo de declarações do ministro no primeiro momento, o editorial afirmou ser a ação do governo “absurda tentativa de intimidação”.

No geral, a inclinação da cobertura foi negativa em relação à medida (o corte), ao Governo Federal, ao Ministério da Educação e a Bolsonaro e Weintraub. Mesmo os textos que apresentaram pontos positivos em algum âmbito, tinham caráter ambivalente, pois também continham críticas. Exemplo disso é a chamada do dia 16 de maio que relata a existência de cientistas favoráveis ao corte de verbas, porém acentua-se que são “poucos”.

Jornal Nacional

Desde o fatídico tweet do presidente da República no dia 26 de abril, prometendo descentralizar investimentos da área de humanas, até as manifestações do dia 15 de maio, o Jornal Nacional (JN) dedicou mais de 43 minutos de cobertura à pauta. O noticiário foi permeado por pronunciamentos de representantes do Governo Federal (581s),[36] como as lives do Ministro Weintraub, entrevistas com o Secretário de Educação, Vice-Presidente e com o próprio Jair Bolsonaro, em Dallas. Também foram ouvidos representantes contrários ao corte de verbas na educação (516s), principalmente reitores das Universidades Federais, Institutos Federais e do Colégio Pedro II, destaque para a doutoranda Samantha Tufic da UFRJ que compartilhou a angústia de conseguir entrar no doutorado e não ter verba para a pesquisa que havia sido aprovada. Os três grandes temas destas reportagens são: as diversas versões sobre a aplicação do corte de gastos e seus desdobramentos nas universidades, a convocação do Ministro da Educação pela Câmara dos Deputados e as manifestações de 15 de maio.

A respeito de cada temática o JN apresentou a versão do governo e as críticas a ela. Na mesma matéria na qual Weintraub disse que o estudo da filosofia não deveria ser custeado com dinheiro público, o filósofo Mario Sergio Cortella considerou incompreensível o ataque à filosofia e às ciências sociais devido ao baixo custo que representam, e acrescentou a ausência de “razões de base técnica” para tal decisão[37]. Em contraposição à declaração do ministro ao jornal O Estado de São Paulo sobre a “balbúrdia” nas universidades federais, a matéria informou que o corte inicial direcionava-se a três universidades (UFBA, UFF e UNB) que estão entre as 50 melhores da América Latina.[38] O principal argumento mobilizado pelo Governo Federal apresentado pelo noticiário foi de que os cortes previstos para o segundo semestre dependem da melhora do cenário econômico, vinculando novamente o investimento em educação à aprovação da Reforma da Previdência. Apesar de Hamilton Mourão, em entrevista, afirmar não haver corte e sim “contingenciamento”[39], a reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida alertou para os prejuízos de longo prazo que serão sentidos pela sociedade, já que 95% das pesquisas realizadas no país são feitas nas universidades, como sobre a dengue, por exemplo.

No segundo eixo a narrativa do jornal, embora enfatizada a derrota do governo no plenário da Câmara por 307 a 82 quando da votação da convocação de Weintraub para ser sabatinado pelos deputados[40], também foi apresentada uma cobertura desproporcional pró governo. A respeito da participação do ministro em audiência Pública no Congresso (7 de maio), o telejornal produziu uma matéria de 202 segundos, que contém extensa fala de  Weintraub, na qual afirma ser o “contingenciamento” resultado de respeito à Lei da Responsabilidade Fiscal. O Ministro ainda diz que, uma vez aprovada a Previdência, o aumento da arrecadação recomporia o orçamento[41]. Essa posição é contestada por representantes das universidades e pelo senador Randolfe Rodrigues (REDE) (16s).

A matéria sobre a convocação ao plenário durou 399 segundos, a mais extensa entre as nove produzidas sobre o tema, e reiterou os argumentos já comentados. Juntamente com as quatro inserções de discurso do ministro na Câmara (61s), foram apresentadas falas de Onyx Lorenzoni, Marcelo Guaranys e Major Vitor Hugo, representantes do Governo (63s), e apenas uma voz da oposição, do deputado Orlando Silva (16s), que declarou preocupação com as metas do plano nacional da educação.

Por fim, o terceiro eixo contrapôs as declarações do presidente da República em Dallas às ruas lotadas de professores e estudantes em 198 cidades, incluindo todas as capitais. 136s da matéria[42] é dedicada às declarações de Jair Bolsonaro, que culpou o Partido dos Trabalhadores pela desqualificação educacional dos desempregados e chamou os cidadãos manifestantes de “idiotas úteis”, “imbecis”, “massa de manobra”, e os profissionais concursados das Universidades de “espertalhões”. Em seguida, o Jornal Nacional apresentou as reações no Congresso e nas ruas. Entre deputados entrevistados foram dados 28s aos governistas e 58s aos de oposição[43]. No tocante às manifestações nas ruas, o recurso imagético foi amplamente explorado com cenas das principais avenidas do país tomadas por manifestantes, como a Paulista em São Paulo e a Presidente Vargas no Rio de Janeiro[44]. Além de mostrar as aulas públicas, também foram entrevistados alunos e professores contra o corte e contra as declarações do Presidente. Importante ressaltar que a cobertura apresentou as manifestações como protestos pacíficos, com ocorrências de violência após seu término, de maneira isolada.

 

Debate no Facebook

Semana anterior aos protestos

O assunto mais comentado da semana compreendida entre 5 e 11 de maio de 2019 foi o contingenciamento de 30% das verbas destinadas às universidades federais e programas de pesquisa, anunciado pelo governo no último dia 30 de abril. O presidente Bolsonaro tentou justificar a decisão em três posts que compõem a lista[45], alegando, por meio dos vídeos do vereador Carlos Molina (PSDB-SP) e do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que se trata do contingenciamento somente das despesas discricionárias, e que os governos petistas utilizaram-se do mesmo recurso. O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) apresentou o mesmo argumento em um de seus posts, acusando sociólogos, professores, jornalistas e estudantes de parcialidade em sua indignação.

Entretanto, houve divergência de informações nos próprios vídeos compartilhados por Bolsonaro. No vídeo do vereador, que se apresentou como professor universitário, falou-se em corte de 7%. Já na live, Weintraub explicou, com chocolates, que o corte é de 3,5%. Este último vídeo viralizou na internet entre os críticos da decisão, que acusaram o ministro de exemplificar erroneamente o corte de 30%, visto que este deveria ser ilustrado com 30 dos 100 chocolates, e não com 3,5, como ele fez.

Participaram também desta live os pesquisadores da Universidade Federal do Ceará responsáveis pela pesquisa sobre o uso da pele de tilápia no tratamento de queimados. Muito provavelmente este convite foi uma tentativa de minimizar a repercussão negativa da decisão perante a opinião pública. Em contrapartida, obtiveram alto número de compartilhamentos também as notícias de que a Alemanha destinará € 160 bilhões para universidades e pesquisa, e do manifesto assinado por mais de mil acadêmicos de todo o mundo contra a suspensão de verbas federais para os cursos de Sociologia e Filosofia no Brasil. A primeira matéria alcançou o ranking pela página do G1, e a segunda, pela página de Fernando Haddad (PT).

Semana posterior aos protestos

O assunto mais discutido na rede durante a semana de 12 a 19 de maio foram os protestos contra os cortes na Educação. Catorze posts da lista discorreram sobre o evento. Em um tom mais agressivo que o adotado na semana anterior, os posts mais compartilhados defenderam o contingenciamento e atribuíram sua necessidade aos “erros” dos governos anteriores. Esses atores do Facebook afirmaram ainda nas mensagens que os protestos não foram organizados por estudantes e profissionais da educação, mas pelos partidos da oposição e sindicatos parceiros, e tiveram como motivação real a soltura de Lula e a derrubada do governo.

O presidente Jair Bolsonaro emplacou seis posts no ranking, inclusive os dois mais compartilhados da semana. A maioria consiste em vídeos curtos, nos quais o presidente e o ministro da Educação, em diferentes situações, afirmam que: “o presente serve para mostrar quão grave são as consequências de um governo socialista, populista e completamente corrupto”; o termo certo para definir a medida adotada é “contingenciamento”; e que não lhes agrada tomar tal decisão, mas que ela é necessária, pois se não fizerem isso, teriam que imprimir mais dinheiro, o que geraria inflação, ou cometeriam crime de responsabilidade fiscal.

Dentre as estratégias adotadas nos posts, se destacam a participação do ministro em um programa da Jovem Pan, a reprodução de um vídeo do presidente Lula explicando o contingenciamento realizado durante o seu governo e uma fala de Weintraub sobre a análise realizada por Marilena Chauí anos atrás sobre a classe média. Segundo a avaliação deturpada do ministro, a partir dali a esquerda definiu a classe média como seu principal inimigo, e por isso esta última tentou destruí-la.

Nos vídeos foram atacados diretamente uma repórter da Folha, que ao indagar o presidente sobre os cortes, obteve a resposta que era “despreparada” e deveria “voltar para faculdade e fazer um bom curso de jornalismo”; que os governos Lula e Dilma realizaram cortes semelhantes em suas gestões ao mesmo tempo que destinavam bilhões a outros governos de esquerda, como Angola, Venezuela e Cuba; e que os manifestantes que foram às ruas no último dia 15 são uma “massa de manobra do bando Lula Livre”.

Os quatro posts do deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) miraram os estudantes e professores que protestaram contra os cortes, denunciados como “militantes petistas” e participantes de “um esquema corporativista entre os sindicatos e os partidos de esquerda”. Em uma de suas publicações, que possui evidente erro de concordância, mas viralizou no Facebook, o deputado afirma: “Metade dos estudantes que foram protestar não sabem a diferença entre corte e contingenciamento. E a outra metade na verdade não são é estudante”.

Saíram em defesa dos cortes também o movimento de direita Ranking dos Políticos e o jornalista Boris Casoy, da Rede TV, que diferenciaram os gastos obrigatórios dos discricionários, assim como explicaram o significado de contingenciar. Enquanto Casoy intercedeu explicitamente pelo governo, alegando que tal situação é “herança do governo Dilma” e que “Bolsonaro está tentando colocar ordem neste caos”, o Ranking afirmou que serão retidos temporariamente “apenas” 30% de 12% das despesas discricionárias. O grupo aproveitou o episódio para defender a Reforma da Previdência: “Pois é, cara pálida, você acabou de descobrir que o Brasil está dançando na beira do abismo: o modelo atual de previdência está tão desequilibrado que está engolindo o orçamento federal. Só que previdência é gasto obrigatório. Então, perceba: ou a gente alivia parte do orçamento reformando a previdência, ou esses contingenciamentos tornar-se-ão cortes e serão cada vez mais frequentes”.

Conclusão

Os diários abriram espaço para representantes de universidades públicas em matérias e artigos de opinião, permitindo não apenas ao governo apresentar sua versão, mas à academia também se defender dos vários ataques. Os três periódicos se pautaram por criticar a atuação autoritária do governo na decisão de cortar o orçamento da educação, apesar de defenderem também a necessidade de reformar a educação universitária, inclusive encampando a ideia, tão propalada pelo campo bolsonarista, de que ela está capturada pela militância político partidária. Uma posição similar foi manifesta pelo Jornal Nacional, que cobriu abundantemente o assunto, dando bastante visibilidade aos críticos às medidas do governo.

A cobertura das manifestações ocupou as três manchetes dos periódicos e destaque na edição diária do Jornal Nacional, sempre acompanhadas do contraponto do governo, principalmente da fala do presidente criticando aos manifestantes. Os jornais destacaram a característica pacífica das manifestações, destacando que violência e confusão não foram as tônicas desses atos, sendo apenas fatos isolados.

O caso em pauta confirma uma tendência que os estudos do Manchetômetro vêm mostrando desde o último período eleitoral: o não alinhamento automático entre a grande mídia e Bolsonaro. O tema da educação superior, bastante caro às elites, recebeu um tratamento crítico ao governo. Tal posição difere daquela tomada em relação ao caso Vaza Jato, cuja cobertura nas mídias do Grupo Globo, por exemplo, é bastante alinhada à defesa de Moro e da Lava Jato, como têm mostrado os boletins diários do Manchetômetro.

 

[1] FERREIRA, Paula; GRANDELLE, Renato. Risco de cortes para Sociologia e Filosofia. O Globo [ Chamada] . 27 de Abril de 2019

[2] EDITORAL. A falta de cuidado no trato com as Universidades. O Globo [Editorial]. 03 de maio de 2019.

[3] VENTURA, Zuenir. A direita ontem e hoje. O Globo [Coluna]; 08 de maio de 2019.

[4]  FERREIRA, Paula; MARIZ, Renata. Com anúncio de corte, Educação tem R$ 7,4 bilhões bloqueados. O Globo [Chamada]. 04 de maio de 2019

[5] KAHN, Suzana. Só o conhecimento salva O Globo [Artigo de Opinião]. 05 de maio de 2019.

[6] MELLO FRANCO. Bernardo de. Rejeitados no poder. O Globo [Coluna]. 05 de maio de 2019.

[7] MELLO FRANCO. A balbúrdia vai às ruas. O Globo [Coluna]. 12 de maio de 2019.

[8] DIEGUES, Cacá. Para não ser um idiota. O Globo [Coluna] 13 de maio de 2019.

[9] ANDREAZZA, Carlos. O bolsonarismo na prática. O Globo [Coluna] 14 de maio de 2019

[10] Mais de 200 cidades têm atos contra cortes na educação. O Globo [Manchete] 16 de maio de 2019.

[11] PEREIRA, Merval. Claro enigma O Globo [Coluna] 16 de maio de 2019.

[12] Idem nota 2.

[13] CAFARDO, Renata; KRUSE, Tulio. Bolsonaro sugere menos investimentos em Humanas. Estadão [Chamada]. 27 de abril de 2019.

[14] Universidade que promover ‘balbúrdia’ terá verba cortada. Estadão [Manchete]. 30 de abril de 2019.

[15] FORMENTI, Lígia. Bloqueio no MEC afeta mestrado e doutorado. Estadão [Chamada]. 06 de maio de 2019.

[16] NÓBREGA, Antônio Cláudio. Corte de verba inviabiliza UFF. Estadão [Chamada]. 02 de maio de 2019.

[17] GABEIRA, Fernando. As simples armadilhas. Estadão [Coluna]. 03 de maio de 2019.

[18] AGOSTINI, Renata. MEC recua e corta 30% da verba de todas as federais. Estadão [Chamada] 01 de maio de 2019.

[19] PALHARES, Isabela. MEC congela recursos da educação básica. Estadão [Chamada] 04 de maio de 2019.

[20] REALE JUNIOR, Miguel. Orgia de desatinos. Estadão [Coluna]. 04 de maio de 2019.

[21] EDITORIAL. Como Bolsonaro vê a educação [Editorial]. 04 de maio de 2019.

[22] EDITORIAL. A balbúrdia do ministro. Estadão [Editorial]. 05 de maio de 2019.

[23] SCHWARTZAN, Simon. Confiança e autonomia das universidades. Estadão [Coluna]. 10 de maio de 2019.

[24] ATVARS, Teresa. Sobre balbúrdias, filosofia e universidades públicas. Estadão [Artigo de Opinião]. 13 de maio de 2019.

[25] Governo enfrenta protestos de rua e pressão no Congresso. Estadão [Manchete]. 16 de maio de 2019.

[26] HADDAD, Fernando.História e Educação, Folha de São Paulo  [Coluna]. 11 de maio de 2019, p.2

[27] JOSÉ, Ferreira; ALVES, Fabio. Pedagogia da destruição, Folha de São Paulo [artigo de opinião]. 15 de maio de 2019, p.3

[28]JORGE, Mariliz.Não são só os 30% da educação, Folha de São Paulo  [Coluna]. 16 de maio de 2019, p.2

[29] Uma agenda antieducação, Folha de São Paulo [Chamada]. 30 de abril de 2019, p.1

[30] JORGE, Mariliz.Perseguição e vingança, Folha de São Paulo  [Coluna]. 02 de maio de 2019, p.2; BOGHOSSIAN, Bruno. Folha de São Paulo  [Coluna]. 16 de maio de 2019, p.2

[31] NETTO, Antonio Delfim. Direita Incultural.Folha de São Paulo  [Coluna]. 01 de maio de 2019, p.2;

[32] Cortes paralisam pesquisas e fazem federais temer apagão. Folha de São Paulo [Chamada]. 11 de maio de 2019, p.1

[33] Atos mobilizam 170 cidades contra arrocho na educação.Folha de São Paulo [Manchete]. 16 de maio de 2019, p.1

[34] Equívocos superiores. Folha de São Paulo [Editorial]. 02 de maio de 2019, p.2

[35] Grita por verbas. Folha de São Paulo [Editorial]. 05 de maio de 2019, p.2

[36] Foram consideradas falas de voz direta, tanto em entrevistas como em leitura de notas e pronunciamentos

[37] Jornal Nacional, 26 de abril de 2019. Acesso em: https://globoplay.globo.com/v/7572349/programa/

[38] Jornal Nacional, 30 de abril de 2019. Acesso em: https://globoplay.globo.com/v/7580847/programa/

[39] Jornal Nacional, 04 de maio de 2019. Acesso em:https://globoplay.globo.com/v/7591928/programa/

[40] Jornal Nacional, 14 de maio de 2019. Acesso em:https://globoplay.globo.com/v/7615780/programa/

[41] Jornal Nacional, 07 de maio de 2019. Acesso em:https://globoplay.globo.com/v/7598314/programa/

[42] Jornal Nacional, 15 de maio de 2019. Acesso em:https://globoplay.globo.com/v/7618650/programa/

[43] Jornal Nacional, 15 de maio de 2019. Acesso em:https://globoplay.globo.com/v/7618673/programa/

[44] Jornal Nacional, 15 de maio de 2019. Acesso em: https://globoplay.globo.com/v/7618712/programa/

[45] Para entender a metodologia, acesse: https://www.manchetometro.com.br/index.php/category/mfacebook/metodologia/

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