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Boletim Editorial 9

Por Juliana Gagliardi, Eduardo Barbabela, Lidiane Vieira e João Feres Júnior

No período de 9 a 15 de outubro, os editoriais da grande imprensa[1] abordaram as temáticas listadas na Figura 1. Consideramos, para análise mais específica em nosso boletim, as duas temáticas mais frequentes e presentes nos três jornais. Nesta semana, o governo Bolsonaro volta à primeira posição, com maior número de editoriais. Em segundo lugar, o contexto de crises na América do Sul.

Figura 1: Temáticas presentes nos editoriais (9/10 a 15/10/2019)

Nesta semana, a Folha de S. Paulo construiu narrativa negativa sobre a possível saída do presidente do Partido Social Liberal (PSL), tratando a contenda como uma disputa para controlar o dinheiro do fundo partidário e a ação dos bolsonaristas como uma simulação (para encontrar brechas na lei e não perder o mandato e o financiamento). Para o jornal, Bolsonaro e o PSL, que se apresentaram como mudança de paradigma da política, são uma “farsa” dentro de um pacto “oportunista” que não tinha pretensão programática.[2] Outros dois editoriais sobre a crise do PSL focaram menos em Bolsonaro e mais no partido, portanto não foram contabilizados no primeiro eixo temático do ranking. Em um deles, O Estado de S. Paulo (OESP) discute a crise no PSL como reflexo de um sistema partidário com legendas sem compromisso com o país e sustentado por verbas públicas.[3] No mesmo caminho, O Globo aborda o caso a partir de “distorções do sistema partidário”, critica o financiamento público de campanha, que referencia como “antiga bandeira do PT” e finaliza criticando as disputas por dinheiro.[4]

Denúncias contra o ministro do Turismo do governo Bolsonaro, a respeito de desvio de dinheiro público para uso na campanha, também foram apontadas. Para O Globo, elas atingem a já “arranhada imagem de Bolsonaro de paladino anticorrupção”. O jornal defende que as denúncias por si só deveriam resultar no afastamento do ministro e usa o espaço para lembrar outras polêmicas de malfeitos no governo Bolsonaro.[5]

Como terceiro ponto deste eixo temático, O Globo faz crítica a Bolsonaro e seu governo pela censura às artes. Conforme o jornal, “o desapreço de Bolsonaro e de seu grupo pela liberdade de expressão é conhecido pelas agressões cotidianas a veículos da imprensa profissional, atacados inclusive com o uso de instrumentos de Estado”. Chama a atenção neste editorial, como seu início é construído buscando igualar Lula a Bolsonaro, colocando os dois no mesmo saco.[6]

Abordando obras públicas, OESP destaca grandes obras paralisadas e critica o grande  gasto de dinheiro público que representam. Julga também o que considera ser o imobilismo do governo e de Bolsonaro, embora elogiando o fato de o presidente não criar obras para serem exemplo de seu governo. [7]

Outro tema que reaparece neste eixo é o agronegócio que, mais uma vez, está na raiz de críticas ao presidente, em OESP, por não contribuir para a atividade, vista como estímulo ao  desenvolvimento da economia,  e por criar, em vez disso, dificuldades para investidores e exportadores brasileiros no mundo todo. [8]

Em raro elogio, OESP saúda a proposta da Secretaria de Desenvolvimento  da Infraestrutura, do Ministério da Economia, e do IPEA de criar regras básicas para os investimentos públicos em infraestrutura, ao contrário do que foi feito no histórico brasileiro até então.[9]

Outros dois temas foram motivos de críticas no jornal paulista. OESP critica a obrigatoriedade de gastos em áreas socialmente relevantes sem considerar necessidades reais e qualidade de projetos. Defende-se o contingenciamento, mas não da forma que foi feita pelo governo e pelo Congresso que, em sua visão, prejudica a gestão orçamentária.[10] Em outro editorial, Bolsonaro e seu governo são criticados pelo caso da OCDE, que resultou em perdas para o país. Para o jornal, o presidente focou em uma amizade (real ou imaginária) com Trump, que resultou em nada para o país, apesar de o governo tê-la apresentado, quando noticiou o suposto apoio, como uma grande vitória diplomática.[11] A Folha também aborda o caso da OCDE. Em editorial, julga que houve expectativa exagerada sobre o apoio dos EUA  e opina que “se estivesse menos preocupado em criar factóides, o governo brasileiro deveria ter sido o primeiro a destacar que a adesão seria lenta.”[12]

O segundo eixo temático do ranking nesta semana foi o contexto de crises na América do Sul, com destaque para o Equador.  OESP[13] descreve a crise equatoriana e faz críticas aos governos populistas, em referência ao governo anterior, de Rafael Correa. Para o jornal, embora as medidas tomadas pelo presidente Lenín Moreno, para lidar com a crise econômica – como o fim do subsídio aos combustíveis –, “tenham desencadeado uma onda de violentos protestos,” elas “têm fundamento”. A Folha[14] também se dedica a uma contextualização da situação do Equador e destaca a tensão entre o governo e os líderes indígenas. Segundo esse editorial, em contexto de desaceleração econômica não havia outras alternativas ao presidente a não ser tomar medidas impopulares para ajustar a economia. A conclusão da Folha é que ambos os grupos – governo e opositores – devem zelar pela ordem democrática. O Globo estende o escopo de análise, descrevendo, à sua maneira, crises que atingem países vizinhos ao Brasil, inclusive o Equador. Conclui com o seguinte diagnóstico: “a instabilidade sul-americana tem uma raiz comum: as crises derivam da redefinição do papel do Estado na condução do desenvolvimento, a partir da redistribuição dos orçamentos. Até agora, o pacto político pela racionalidade econômica que se provou mais efetivo é o do Chile.”

Conclusão

No boletim desta semana, Bolsonaro e seu governo voltaram a ser o eixo temático no topo do ranking a partir de vários subtemas, predominantemente negativos, como a crise no PSL, denúncias de corrupção sobre o ministro do Turismo, censura e agronegócio. O segundo lugar foi ocupado pelo contexto latino-americano, tema presente nos três jornais, com destaque para o caso do Equador, em que o atual presidente enfrenta protestos em reação a medidas austeras de ajuste econômico que os grandes jornais tendem a ver, lá como aqui, como inevitáveis.


[1] Para este boletim, consideramos 47 editoriais publicados por Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo.

[2] Duelo de oligarcas, FSP, 11/10/2019.

[3] Um gigante nanico, OESP, 13/10/2019.

[4] Fragilidade partidária na crise do PSL, O Globo,15/10/2019.

[5] Ministro do Turismo é desafio ao presidente, O Globo, 9/10/2019.

[6] Censura do governo Bolsonaro afronta a Carta, O Globo, 10/10/2019.

[7] Concluir obras paradas, OESP, 10/10/2019.

[8] Do plantio ao risco diplomático, OESP, 11/10/2019.

[9] Critérios para a infraestrutura, OESP, 10/10/2019.

[10] Vinculações orçamentárias, OESP, 11/10/2019.

[11] O Brasil, os EUA e a OCDE, OESP, 12/10/2019.

[12] O preço do factoide, FSP, 15/10/2019.

[13] A crise no Equador, OESP, 10/10/2019.

[14] Linha de fogo, FSP, 14/20/2019.

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