De 1° a 15 de março de 2021
Entre os dias 1 e 15 de março de 2021, as 773 páginas monitoradas produziram 45.507 posts que geraram 23.129.360 compartilhamentos. Registramos uma média de 3033 publicações por dia. Os recursos mais utilizados nas publicações foram fotos (42%) e links (36%).
A despeito da crise sanitária e econômica, e da inexistência de um plano do governo federal para combatê-las, as páginas bolsonaristas seguem engajando maior volume de interações no Facebook. Estas foram resultantes, em larga medida, do conflito deflagrado entre o presidente e os governadores, que divergem acerca das estratégias de enfrentamento à pandemia, e do antipetismo.
Bolsonaro participa do ranking com dois vídeos relacionados que expressam esse embate. No terceiro post mais compartilhado da semana, reproduz uma carreata realizada por seus apoiadores em Brasília contra o lockdown.
Também na quarta posição, Bolsonaro mostra um casal sendo abordado pela polícia e pela vigilância sanitária ao passear na beira de um riacho, que se revolta com a situação, alega que o decreto é inconstitucional e um desrespeito aos cidadãos de bem.
Nessa linha, post do deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) insinua, a partir de uma reportagem da CNN, o desvio de R$7bi destinados ao combate da pandemia pelo governador do RS e afirma que se o recurso tivesse sido empregado em sua devida finalidade, hoje o sistema de saúde do estado não estaria colapsando.
Por sua vez, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), uma das maiores propagadoras de fake news da rede, reproduziu, o trecho de uma reportagem da Rede TV! em que alguns médicos defendem a administração de ivermectina em pacientes com Covid-19.
Contudo, o tema que mais engajou compartilhamentos na quinzena foi a votação da PEC do auxílio emergencial. Ocupando cinco posições do ranking, os deputados André Janones (AVANTE-MG) e Boca Aberta (PROS-PR) defenderam em vídeos e lives o retorno do auxílio e contestaram as alegações que vêm sendo feitas, sobretudo pelo ministro Paulo Guedes, de que não há dinheiro nos cofres da União para viabilizar a proposta, mostrando de onde poderiam sair os recursos.
Em discurso na tribuna da Câmara, Janones manifestou sua indignação com o valor sugerido pelo governo para o novo auxílio (R$ 250) e ofendeu o ministro Paulo Guedes, chamando-o de “covarde”, “bandido” e “canalha”.
Janones informou ainda sobre a aprovação na Câmara de R$2,5bi para a aquisição de vacinas através do consórcio internacional; o projeto que facilita a aquisição de vacinas pelos estados e municípios; e a autorização para que empresas do setor privado adquiram a vacina, desde que doe a metade para o SUS.
Os gráficos e as nuvens de palavras revelam outro tema que obteve larga repercussão na rede no período, a anulação das condenações na Lava Jato do ex-presidente Lula pelo ministro Edison Fachin do STF no dia 8 de março.
A decisão de Fachin incitou mais engajamentos na rede que o dia internacional da mulher, celebrado na mesma data. De um lado, os apoiadores de Lula, ao comemorem, em suas palavras, “a reparação de uma injustiça”, levaram o ex-presidente a terceira maior taxa de interação por post da quinzena. De outro, seus opositores, como Bolsonaro, Vem Pra Rua Brasil, Ranking dos Políticos e MBL, acusaram o ministro de agir de forma monocrática para beneficiar Lula. A notícia também rendeu muitos compartilhamentos nas páginas da imprensa, cujos links reportavam o fato.
A polarização política e a rivalidade observada entre o presidente e os governadores se refletem no desempenho das páginas das mídias noticiosas. Os posts mais compartilhados entre as mídias tradicionais foram veiculados pela Rede TV! e consistem, respectivamente, em uma entrevista com o Presidente da Federação de Caminhoneiros de São Paulo, Claudinei Pelegrini, que liderou protestos contra o governador João Dória pela decretação da fase vermelha em São Paulo, responsabilizando-o pela crise econômica e pelo desemprego no estado; e um vídeo do Jornalista Ernesto Lacombe, afirmando que a decisão de Fachin desmoraliza a Justiça brasileira e teve como objetivo colocar Lula novamente na disputa política. O caso Fachin também foi tema das publicações que mais repercutiram entre as páginas de mídias alternativas. O Ranking dos Políticos comentou o episódio a partir de uma frase da filósofa Ayn Rand sobre como as leis protegem os grandes, concluindo que vale a pena, nesse sistema, ser corrupto.
A anulação das condenações de Lula pautou igualmente os posts mais compartilhados entre as páginas de partidos e movimentos sociais. O meme com a foto de Lula “O pai tá on” e a nota dos seus advogados comentando a decisão levaram a página do PT a acumular 632.185 engajamentos no período
Já as páginas de direita reagiram negativamente ao acontecimento. Os posts do movimento Vem Pra Rua Brasil (VPR) foram os que mais viralizaram na rede. Em um deles, o VPR agradece os serviços de Deltan Dallagnol e Sergio Moro e afirma que eles sempre serão perseguidos pelo sistema corrupto. O outro post noticia, a partir de uma matéria do Portal BR7, as manifestações em Salvador contra as medidas de distanciamento adotadas pelo governador Rui Costa (PT) e pelo prefeito Bruno Reis (DEM), e corrobora o posicionamento de Bolsonaro a respeito do tema.
As medidas de restrição de circulação impostas por todo o país em decorrência do aumento do número de casos de Covid-19 e a consequente lotação dos hospitais foram tema dos posts mais compartilhados também entre os prefeitos.
Nesse rol destacaram-se o vídeos do prefeito de Curitiba, Rafael Greca, que visivelmente abalado pelo estado de coisas, informou sobre a abertura de novos leitos na cidade, decretou lockdown e apelou às pessoas que pratiquem o distanciamento social, pois a situação é muito grave.
A necessidade de impor medidas mais restritivas à circulação foi ainda o assunto que mais motivou engajamento nas páginas dos governadores. Dentre os posts mais compartilhados, sobressaíram os vídeos publicados pelos governadores de São Paulo e de Minas Gerais informando sobre as novas fases que os estados adentraram e pedindo que os paulistas e mineiros respeitem a quarentena, pois os sistemas de saúde não aguentam mais as demandas de atendimento por Covid-19.
Ambos reconheceram a impopularidade da medida e seus efeitos negativos para a economia, mas a denominaram como um mal necessário. Doria aproveitou o espaço para lembrar que São Paulo trouxe a vacina para o Brasil e criticar as (in)ações do governo federal. Verifica-se, a partir do gráfico abaixo, que os posts dos prefeitos e governadores foram aqueles que mais geraram reações negativas dentre as categorias.
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