O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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DONI # 28 – 04 a 11 de novembro

No DONI semanal são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente, ou algum personagem ou Instituição do Governo Federal, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. Esta semana foram analisados 97 textos.

Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[1]

O Estadão e o Globo foram os mais negativos, com IV[1] de – 0,67, seguidos pela Folha, com -0,53. Ou seja, o viés negativo caiu em relação à semana passada.


Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal

O principal tema da semana foi novamente a discussão sobre a Meta Fiscal, com destaque para as divergências dentro do governo. Haddad é apontado como a principal figura a defender ainda o déficit zero, indicando um compromisso com a responsabilidade fiscal. A ata do Copom reafirma a posição de Haddad de perseguir esse objetivo. No entanto, o texto sugere que ele pode estar em conflito com uma ala política do governo, que busca alternativas. A narrativa também aponta para uma divisão dentro do governo, com a possibilidade de um parlamentar encaminhar a mudança ou o próprio governo tomar essa iniciativa. Lula é mencionado como agindo dentro da lógica eleitoral, indicando que suas falas sobre a meta podem estar relacionadas a estratégias para a eleição de 2026.

O segundo lugar foi ocupado pela discussão sobre a reforma tributária. O relator da reforma e Haddad são apontados como focando apenas no presente, sem considerar as consequências futuras das exceções propostas. O avanço da reforma tributária é atribuído mais aos presidentes das duas casas do que a uma articulação direta do governo Lula. Apesar de defeitos na reforma, é apontado que ela é melhor do que o projeto anterior. O governo teve que fazer muitas concessões para conseguir a aprovação da reforma, e setores do petróleo e mineração são identificados como os mais afetados.

Na terceira posição, tivemos a questão da Segurança Pública, tema recorrente nas últimas semanas. A crítica dos jornais aponta que o governo não está enfrentando adequadamente aqueles que corrompem o poder público, sugerindo uma lacuna na abordagem governamental em relação à corrupção. Apesar de medidas do governo serem reconhecidas por sua maturidade, há a observação de que falta um plano abrangente capaz de envolver tanto os governos estaduais quanto o Governo Federal. A implementação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pelo governo Lula é mencionada, mas há a previsão de que o presidente será cobrado por seus opositores em relação à segurança pública. Além disso, destaca-se a ausência de prestação de contas das Polícias Militares (PMs), sinalizando uma preocupação com a transparência e a responsabilidade nesse tema.

A quarta colocação está com o ENEM. Os jornais discutem o alto nível de abstenção da prova deste ano, comparado à alta abstenção durante o governo Bolsonaro, e a prova é acusada de ter sido vazada, levando à convocação do Ministro Camilo Santana para prestar esclarecimentos. A cobertura também aborda críticas específicas sobre o conteúdo da prova, com questões relacionadas ao agronegócio sendo interpretadas como um uso do ENEM como arma ideológica, em vez de uma ferramenta para medir conhecimentos. Essa análise levanta questões sobre a objetividade e imparcialidade do exame, ampliando o escopo da discussão para além da sua execução prática.

Finalmente, na quinta posição, temos o próprio Governo Federal. A cobertura dos jornais aborda vários aspectos, destacando um uso errático de expressões por parte dos ministros. Essa observação sugere uma comunicação governamental inconsistente, o que pode gerar confusão e interpretações diversas por parte do público e da mídia. Os jornais também afirmam que o terceiro governo de Lula difere dos anteriores, especialmente em relação à sua popularidade. A observação de que não possui a mesma popularidade de antes sugere um desafio para o governo em termos de apoio e aceitação pública. Além disso, a cobertura destaca que Lula recentemente enfraqueceu suas principais frentes de destaque, incluindo a Polícia Federal e o Ministério da Fazenda. Isso pode indicar mudanças na estrutura de poder e nas prioridades do governo, gerando questionamentos sobre os motivos por trás dessas decisões.

Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[3]

A cobertura dessa semana foi ainda bastante crítica ao Governo. Observamos três tipos de cobertura distintos: na Folha, há textos com abordagem negativa em chamadas, colunas e editoriais. No Estadão e no Globo, o principal número de textos críticos está nas chamadas. O excesso de textos negativos em chamadas denota disposição contrária dos editores para com o Governo, o que é corroborado pelos viés dos editoriais.

Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal

Essa semana, o Estadão ficou na liderança da negatividade, com IV de –3,67, seguido pelo Globo com –1,1, e pela Folha com IV igual a –1.  Apesar de ser quantitativamente menor, a cobertura do Estadão é a mais negativa sobre Lula. O IV de Lula é sensivelmente mais negativo do que o de seu governo.

Gráfico 5. Temas mais presentes na cobertura do Presidente Lula

Da mesma forma que ocorreu na cobertura do Governo Federal, a discussão sobre a Meta Fiscal e suas implicações no Governo, bem como a questão da Segurança Pública e a Reforma Tributária, ocuparam parte significativa das notícias relacionadas ao Presidente Lula. No entanto, na cobertura do presidente, outro tema também ganhou destaque: a Economia. A análise econômica discute a atuação do presidente diante do orçamento. Os jornais destacam que os recursos para o Programa de Aceleração e para a Saúde são justificáveis, porém falta responsabilidade fiscal por parte do presidente, em sua proposta.

Gráfico 6. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

Fica claro na comparação entre o gráfico acima e o gráfico 3, sobre o Governo Federal, que os editoriais dos jornais concentram alta carga de negatividade na figura de Lula.

No geral, é notável a correlação entre o ganho de importância da pauta econômica (meta fiscal e economia) e a negatividade da cobertura do Governo e, particularmente de Lula, que chamou para si parte da discussão ao fazer declaração crítica à manutenção do déficit zero.

Para baixar o nosso relatório, clique aqui.


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DONI

O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.

Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.

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[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.

[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula , na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.

[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.

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