O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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18 a 24 de abril, 2018

Entre os dias 18 e 24 de abril de 2018, as 41 páginas que monitoramos publicaram 6.661 posts, que geraram 5.983.227 compartilhamentos

Entre os dias 18 e 24 de abril de 2018, as 41 páginas que monitoramos publicaram 6.661 posts, que geraram 5.983.227 compartilhamentos. As páginas que mais postaram esta semana foram: UOL (499 posts), Juventude Contra Corrupção (475 posts) e Catraca Livre (466 posts).

Tabela 1: 10 posts mais compartilhados da semana (18/4/2018 a 24/4/2018)

semana 24

Os 10 posts da tabela acima concentram 8% do volume total de compartilhamentos alcançados pelas 41 páginas ao longo do período. O recurso mais usado nos posts foi a foto (70%), seguida do vídeo (30%).

O ranking dessa semana apresenta uma composição muito semelhante ao da semana passada, sendo dominado pelas páginas Vem pra Rua Brasil, Movimento Brasil Livre (MBL) e Jair Messias Bolsonaro. Tivemos apenas a inserção do post de uma página diferente, mas também da nova direita, pertencente à Juventude Contra Corrupção.  Sendo assim, novamente analisaremos os posts em blocos.

O post mais compartilhado da semana pertence ao MBL. Este consiste em um alerta a seus fãs sobre a pré-candidata à deputada estadual do PC do B, MC Carol, tomando trecho de letra de uma de suas músicas de modo descontextualizado: “Larguei minha família, a escola, você sabe, parei com a maconha, tô tô usando crack, tô usando crack”.

O MBL responde também pelos quarto, quinto, nono e décimo posts do ranking. No quarto post, o movimento traz uma foto da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) com a mensagem: “E aí, PGR? Uma senadora da República vai ficar chamando ‘o mundo árabe’ para desafiar a justiça brasileira sem ser punida?”. Neste caso, mais uma vez o grupo deturpa os fatos. A senadora concedeu entrevista à TV AL Jazeera, do Catar, em que denunciou a perseguição política, midiática e jurídica à Lula. Os grupos conservadores se aproveitaram do episódio para alardear na internet que Hoffman falava para a Al- Qaeda e convocava o Exército Islâmico para defender o PT no Brasil. As fake news chegaram a tal ponto que o deputado Major Olímpio protocolou um pedido de investigação contra a presidente do PT na PGR, que foi rejeitado logo em seguida. No nono post, o MBL insiste no assunto e reproduz um vídeo de Willian Waack comentando a entrevista de Hoffman. Em uma argumentação pouco linear e lógica, o jornalista diz se sentir confuso sobre a quais árabes a senadora se referia, citou a amizade de Lula com Kadaf e finalizou chamando-a de ignorante, por não entender a conjuntura nacional e tampouco a internacional.

No quinto post, o grupo compara as prisões de José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e do deputado Paulo Maluf, alegando que apesar de terem a mesma idade, o primeiro está preso nos Estados Unidos e o segundo conseguiu prisão domiciliar no Brasil “por estar muito velho”. O grupo termina o post questionando: “É ou não é uma palhaçada?”. Na verdade, o ministro Dias Toffoli concedeu prisão domiciliar a Maluf, a despeito da decisão anterior do seu colega Edson Fachin, devido ao seu estado de saúde, e não por sua idade, prevista pelo artigo 318 do Código Penal, embora a segunda condição também seja contemplada no artigo.

No décimo post, o movimento critica mais uma vez a prisão domiciliar de Maluf. Apresentando o mesmo recurso comunicacional de combinar foto e texto, o MBL registra sua indignação com o fato de Maluf “ter roubado a vida toda”, “ter foro privilegiado”, “ter demorado 20 anos para ser condenado” e ainda “ser mandado para prisão domiciliar em sua mansão pelo Supremo”.

Já os dois posts do Vem Pra Rua que se destacam no rol atacam o PT. O post que ocupa o 2º lugar consiste numa foto da fachada do prédio do STF e da estátua da justiça com a expressão: “Nojo do STF”. Um texto complementa a mensagem justificando o asco do grupo a partir de supostos esforços dos ministros do Supremo para tirar Lula da cadeia. O Vem pra Rua ainda questiona se tal atitude é motivada por chantagem ou ameaças. O sexto post da lista, assinado igualmente pelo grupo, informa que o TRF-4 determinava a prisão do ex-ministro José Dirceu em 19 de abril.

Quanto aos posts de Jair Bolsonaro (PSL-RJ), estes trazem dois videos, recurso predileto do deputado, sobre a chamada na capa da revista VEJA dessa semana, que denunciava o uso de robôs por sua campanha para obter sucesso na internet. No terceiro post mais compartilhado da semana, Bolsonaro afirma que os especialistas convidados pela entrevista para comentar o caso são de esquerda (Paulo Paulino, diretor do Datafolha, e o Prof. Sergio Denicoli). Diz ainda que este último se equivoca ao comparar sua capacidade de mobilizar recursos com a de Trump, e rebate dizendo que sua militância é verdadeira, e conta com o apoio do povo brasileiro e de Deus, acima de tudo. No oitavo post, vários apoiadores de Bolsonaro desfilam satirizando: “Eu sou robô do Bolsonaro”, “Aqui ninguém rouba não”, “Pelo voto impresso”.

Por fim, temos o post da página Juventude Contra Corrupção, que ocupa a sétima posição do ranking. Este, de maneira muito semelhante ao post do Vem pra Rua, repudia a decisão do STF de ter tirado parte do processo da Lava Jato das mãos do juiz Sergio Moro. Em foto dos ministros acompanhada da legenda “Vergonha do STF!”, o grupo apela para que seus fãs apoiem Moro e curtam a página que o homenageia: “Juiz Sergio Moro – O Brasil está com você”.

Em resumo, as páginas da nova direita seguem na liderança dos compartilhamentos no Facebook quando o assunto é política. Além dos seus habituais ataques a Lula, ao PT e à esquerda de modo geral, nesta semana observamos que outros atores foram alvejados: o STF, Paulo Maluf e MC Carol. Este comportamento provavelmente é oriundo do caráter conservador e punitivista desses grupos, que parecem estar mais alinhados ao justiçamento do que à justiça. Ademais, atacar Paulo Maluf, um político conservador mas decrépito e com parco poder político, possibilita ao movimento dizer que não é pautado exclusivamente pelo anti-petismo, mas sim pela abjeção à corrupção, a despeito de quem seja o corrupto.

Destacou-se também a volta das fake news ao ranking, a partir do caso Gleisi Hoffmann, por um ator que já é reconhecido por disseminá-las, o MBL. Neste sentido, observamos que a principal estratégia do grupo na deturpação dos fatos é apresentá-los parcialmente e contar com a pouca informação de seus seguidores. Finalmente, temos Bolsonaro tentando refutar aqueles que identificaram o uso de robôs para viralização dos seus posts. Aguardamos uma resposta do Facebook sobre o caso. À propósito, segundo a reforma eleitoral de 2017, o controle de robôs e das campanhas negativas ficará a cargo dos próprios candidatos. Desse modo, ou as campanhas esse ano deverão dispor de uma equipe voltada exclusivamente para isso, ou não teremos controle algum sobre esse tipo de conduta nociva ao processo eleitoral.

Por Natasha Bachini e João Feres Jr.

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