O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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22 a 28 de maio, 2018

Entre os dias 22 e 28 de maio de 2018, as 143 páginas que monitoramos publicaram 10.667 posts, que geraram 10.478.241 compartilhamentos.Entre os dias 22 e 28 de maio de 2018, as 143 páginas que monitoramos publicaram 10.667 posts, que geraram 10.478.241 compartilhamentos. Este são os maiores volumes registrados desde que implementamos a nova amostra. As páginas que mais postaram essa semana foram Juventude Contra Corrupção (482 posts), UOL (482 posts) e Juiz Sergio Moro – o Brasil está com você (471 posts).

Tabela 1: 20 posts mais compartilhados da semana (22/5/2018 a 28/5/2018)

coleta semana 29

Os 20 posts da tabela acima concentram 23% do volume total de compartilhamentos alcançado pelas 143 páginas ao longo do período. O recurso mais usado nestes posts foi a foto (60%), seguida do vídeo (30%) e do link (10%).

Todos os posts do ranking dessa semana tratam do mesmo assunto: a paralisação dos caminhoneiros. Duas páginas se destacaram por ocupar várias posições na lista: Vem Pra Rua e Fora Temer. Assim como na semana anterior, observamos a existência de diferentes narrativas a respeito desse acontecimento. Entretanto, há também pontos de convergência na avaliação dos atores. O primeiro deles é o apoio à greve/locaute. O segundo é a responsabilização de Michel Temer pela situação crítica. Discorreremos sobre elas nas linhas a seguir.

A página Vem Pra Rua, que responde pelo post mais compartilhado da semana e ocupa seis posições no ranking, se utilizou de recursos comunicacionais e argumentos distintos para construir sua narrativa sobre a greve. Elaborou enquetes sobre a redução dos impostos para viabilizar a diminuição do preço dos combustíveis (1º e 3º posts) e defendeu o cancelamento do fundo eleitoral, o corte dos auxílios recebidos pelos políticos, dos cargos comissionados e do número de deputados (6º, 8º, 13º e 15º posts).

Mais à direita, as páginas dos deputados Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e Cabo Daciolo (Patriota-SC) declararam apoio aos caminhoneiros de forma semelhante. Ambos, por meio de vídeo, endossaram a reivindicação da redução do valor dos pedágios, denunciaram a “indústria da multa”, a insegurança do transporte rodoviário e a oscilação do preço dos combustíveis baseada no mercado internacional. Bolsonaro lamentou ainda as críticas à greve feitas pela jornalista Rachel Sherazade, que pediu aos caminhoneiros que não bloqueassem as estradas, e afirmou que os bloqueios ocorreram foi porque “teve gente do PT e da CUT infiltrada no meio”. Com abordagem próxima, a página Partido Anti-PT responsabilizou os governos petistas pelo aumento no preço dos combustíveis. Já Daciolo utilizou-se da religiosidade, começando seu vídeo com orações, e citando Deus e passagens bíblicas diversas vezes durante uma conversa com caminhoneiros parados na Via Dutra. O deputado também fez um discurso anti-partidário e defendeu a intervenção militar.

Outras páginas se utilizaram de elementos religiosos. A página Falando Verdades veiculou um vídeo em que um garoto recita um cordel no qual afirma que Michel Temer é obra de um “Satanás desocupado”. Já a página Fora Temer veiculou uma ilustração do inferno onde o diabo respondia à possibilidade de Temer ir parar lá com a expressão “Deus me livre!”, e o outra em que o papa dizia que Temer era um discípulo de Judas.

A página Fora Temer respondeu por oito colocações no ranking dessa semana. Corroborou a greve e fez oposição ferrenha ao presidente, ora pedindo sua renúncia, ora afirmando que ele logo cairia, mas não foi clara quanto aos meios que levariam a esta última consequência (4º, 5º, 12º, 17º e 19º posts).  Em um dos vídeos que compartilhou, um caminhão guinchava o caixão de Temer e a bandeira do Brasil. Neste, uma pessoa diz: “Daqui a pouco a gente derruba ele”. No 5º post, afirmava: “A greve só irá parar quando Temer renunciar”. Compartilhe #somostodoscaminhoneiros”.

Fora Temer ainda veiculou dois vídeos de passeatas contra o aumento dos combustíveis, uma ocorrida em Brasília, e outra em Santa Catarina. Nesses vídeos, chama a atenção a presença de pessoas trajadas de verde e amarelo e de vermelho juntas nos atos, com bandeiras do Brasil, vuvuzelas, cantando o hino nacional, e pedindo cadeia para Temer. Observamos também pluralidade nos comentários dos posts. Alguns usuários defendem a intervenção militar, outros a repudiam. Há ainda aqueles que pedem a renúncia de Temer e outros que receiam esta possibilidade, visto que se ela se concretizar, provavelmente teremos eleições indiretas.

Por fim, compõem o ranking desse período a matéria da revista Exame que lembra as consequências nada democráticas da paralisação dos caminhoneiros no Chile em 1972, e o vídeo de pronunciamento de Temer do dia 25/5 sobre o acordo com as lideranças das cooperativas dos caminhoneiros. Neste, Temer informava que a União iria ressarcir a Petrobrás e desbloquearia as estradas com as por meio de Forças Militares para minimizar os efeitos do desabastecimento.

Em suma, no Facebook, diversas variantes do espectro político apoiaram a paralisação dos caminhoneiros condenando o aumento dos combustíveis e o governo Temer, inclusive aquelas que dois anos atrás pediram o impeachment de Dilma Rousseff e criticaram a influência estatal na Petrobrás. Constatamos significativas diferenças no que se refere à interpretação das causas do problema e às melhores maneiras de resolvê-lo. Nossa pesquisa evidencia como diferentes atores individuais e coletivos disputam a narrativa do movimento. Todavia, ainda não está claro quais são as organizações e interesses por trás do movimento grevista, se seus desdobramentos serão realmente benéficos à democracia e se terão força para impor mudanças às diretrizes econômicas do país.

Seguiremos monitorando o debate político no Facebook na tentativa de colaborar para o esclarecimento de tais questões.

Por Natasha Bachini e João Feres Jr.

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