O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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Manchetômetro responde a Reinaldo Azevedo

Dois dias após o lançamento das análises da cobertura do Jornal Nacional, o MANCHETÔMETRO tornou-se alvo de um artigo de Reinaldo Azevedo, publicado em seu blog no site da revista Veja. O principal objetivo do artigo é achacar o ex-presidente Lula, mas o MANCHETÔMETRO é atacado em dois longos parágrafos. O nível dos argumentos é baixíssimo e a linguagem vulgar. Contudo, podemos usar os equívocos com que o publicista de Dois Córregos brinda seus leitores para esclarecer o público em geral acerca de detalhes importantes da pesquisa do MANCHETÔMETRO.

O trecho começa dizendo que Lula citou um texto de nosso site que acusa o “Jornal Nacional de ser usado como ‘instrumento de oposição ao governo’”. Se o citado jornalista tivesse tido o trabalho mínimo de checar os fatos, veria que não há qualquer texto no MANCHETÔMETRO que contenha essa afirmação. Há, sim, uma página inteira com análises da cobertura do Jornal Nacional, que em breve se tornará um hot site, com a adição de outros gráficos e dados. Está lá para quem quiser ver, com dados atualizados diariamente, o viés claro que esse programa televisivo apresenta em sua cobertura. Vejamos o gráfico dos candidatos.

Somente olhando os números agregados para todo o ano de 2014 já dá para perceber uma grande assimetria de tratamento. Dilma tem uma cobertura muito maior, o que é de se esperar, pois está no cargo. A despeito disso, tem menos notícias favoráveis que Aécio ou Eduardo Campos. Para termos uma ideia mais clara do viés, vamos comparar a proporção entre favoráveis e neutros e contrários e neutros de cada candidato, pois ao fazer assim nos livramos da distorção de comparar candidatos com quantidades de tempo de cobertura diferentes. Tomando a proporção entre tempo de cobertura favorável e neutra, Eduardo Campos sai vencedor, com 26%, Aécio vem em segundo com 18% e Dilma tem parcos 2%, 13 vezes menos que Campos e 9 vezes menos que Aécio. Os números positivos de Campos se devem, em parte, à cobertura jornalística elegíaca que se seguiu a sua morte (ver as páginas do MANCHETÔMETRO sobre a cobertura da sucessão do PSB). Quando tomamos a proporção entre o tempo de cobertura contrária e neutra, a ordem se inverte. Dilma tem 53%, ou seja, mais de uma notícia negativa para duas neutras, enquanto Aécio 13%, praticamente 4 vezes menos que a candidata, e Campos 0%.

Se brevemente checarmos os números atualizados da cobertura dos partidos políticos no ano de 2014, o PT alcança a impressionante marca de 289% de tempo em matérias contrárias em relação ao das neutras: quase 3 vezes mais cobertura negativa do que meramente descritiva. O número do PSDB é bem mais modesto, 91%, isto é, menos que 1 segundo de cobertura negativa para 1 segundo de neutra.

Quando nos debruçamos sobre o noticiário sobre economia e política encontramos também um forte viés negativo 289% e 224% de tempo de cobertura negativa sobre neutra, respectivamente, números comparáveis aos do PT em negatividade.

O colunista dois-correguense chama o trabalho do MANCHETÔMETRO de “suposto estudo” de um instituto de pesquisa da UERJ. Basta uma visita ao nosso site para ver que de “susposto” nosso estudo não tem nada. 13 pessoas se dedicam diariamente a codificar textos e programas e a produzir novas análises sobre a cobertura midiática utilizando um método há muito sacramentado na academia: a análise de valências. Os critérios acadêmicos são claros, um estudo só pode ser descartado pela identificação de falha na sua lógica interna ou por uma metodologia que produz resultados ainda mais acurados. Azevedo, na verdade, não tem uma coisa nem outra, mas só furor vitriólico e uma tribuna.

Continuando na sua sanha de insultos, nos chama de “canalhas intelectuais infiltrados na universidade”. Na verdade, somos todos concursados em nosso grupo de pesquisa, os graduandos passaram no processo de admissão de uma universidade federal das mais concorridas do país, os mestrandos passaram em concurso concorridíssimo do programa mais prestigioso de ciência política do Rio de Janeiro, o do IESP-UERJ — líder nacional na pesquisa e no ensino de pós-graduação –, e os professores tem mestrado e doutorado e foram aprovados em concurso público da UERJ. Nossos currículos são públicos, postados na plataforma Lattes do CNPq para quem quiser ver. Publicamos nossa vasta produção nas revistas mais bem avaliadas do Brasil e no exterior. Já o referido publicista só tem um diploma de graduação de jornalismo, granjeado na Universidade Metodista de São Paulo, e uma tribuna, privada, a soldo do Grupo Abril. Sua única obrigação é agradar a seus patrões.

Por fim, a águia dipotâmica se arrisca a ir além dos insultos e aponta para uma possível falha no Manchetômetro: “Se fizerem a medição sobre o noticiário a respeito do governador Geraldo Alckmin, por exemplo, é possível que aconteça o mesmo”. Sua linguagem é titubeante. Parece não ter certeza do que está dizendo. Abaixo vemos uma comparação entre o tempo de cobertura dado a Dilma e a Alckmin em 2014, classificado pela valência das matérias:

Novamente, o viés já transparece na comparação visual mais superficial. Indo diretamente às proporções entre contrárias e neutras, Dilma tem 53% enquanto Alckmin somente 7%, e isso em um ano no qual o Estado de São Paulo enfrenta a pior crise de abastecimento de água de sua história.

Em suma, para além dos impropérios, Reinaldo Azevedo enuncia, inseguro, inverdades.

O colunista de Veja e da Folha de S. Paulo escreve mal e pensa pior ainda. É deprimente saber que seu texto mal ajambrado tem acolhida em dois dos mais poderosos meios de comunicação do país. É gente como ele e as empresas que o empregam que fazem do MANCHETÔMETRO um instrumento necessário da cidadania no Brasil de hoje.

Por João Feres Júnior

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