O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

Parceria

26 de dezembro de 2017 a 1 de janeiro, 2018

Na semana do Ano Novo foram publicados 3.406 posts nas 40 páginas monitoradas por nossa pesquisa, totalizando 1.647.148 de compartilhamentos.

Na semana do Ano Novo foram publicados 3.406 posts nas 40 páginas monitoradas por nossa pesquisa, totalizando 1.647.148 de compartilhamentos.

Na semana do Ano Novo foram publicados 3.406 posts nas 40 páginas monitoradas por nossa pesquisa, totalizando 1.647.148 de compartilhamentos. Esses números sinalizam um recuo considerável das atividades políticas na rede durante o período.

As páginas que mais postaram são de movimentos de direita: Movimento Contra Corrupção – São Paulo (410 posts), Juiz Sergio Moro – O Brasil está com você (309) e Juventude Contra Corrupção (270). Todavia, nenhuma delas conseguiu alcançar o ranking. É digno de nota, contudo, o fato de essas páginas conseguirem produzir um número de posts semanais comparáveis aos das grandes empresas de mídia, ou, no caso, até superior. Isso porque tais empresas frequentemente têm vários funcionários dedicados à produção de conteúdo e à administração de suas páginas no Facebook. Em outras palavras, é bastante provável que estes sites estejam empregando profissionais em número suficiente para competir com a grande mídia pelo menos no que toca a divulgação nas mídias sociais.

Tabela 1: 10 posts mais compartilhados da semana (26/12/2017 a 1/1/2018)[1]

Nessa semana tivemos a substituição de dois posts no ranking, um da Metropolitana FM, e outro do Catraca Livre.

Os 10 posts da tabela acima concentram 14% do volume total de compartilhamentos alcançados pelas 40 páginas monitoradas ao longo dessa semana. No âmbito dos recursos empregados, observou-se diversificação: 60% de vídeos, 30% de links e 10% de fotos.

As páginas de extrema direita lideram novamente o número de compartilhamentos no Facebook, e nenhuma página de esquerda apresentou posts que viralizassem a ponto de garantir-lhes uma colocação no ranking.

No referido período, três páginas se destacaram: Vem Pra Rua, Marco Feliciano e Jair Bolsonaro. Somados, os posts dessas páginas respondem por 70% da lista. Outros 20% são oriundos de páginas de mídia e o post restante é do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo também conservador.

Os três posts do Vem Pra Rua se posicionam contrariamente ao indulto de Natal assinado pelo presidente Michel Temer e todos foram publicados em 28 de dezembro. O 1º colocado consiste numa foto da ministra Carmen Lúcia com a frase: “Vitória! Carmen Lúcia suspendeu o indulto de Natal”. O 3º é um vídeo, iniciado com a mesma foto, mas também com a de Temer, afirmando que o Brasil não suporta mais corrupção e impunidade. O 5º post, também em forma de vídeo, apoiou o pedido da PGR Rachel Dodge e apelou a Carmen Lúcia que tivesse coragem e suspendesse o indulto. Essas inserções refletem uma mudança recente no comportamento desses recém-formados grupos de direita, que até então se dedicavam exclusivamente a atacar o PT. Embora não tenham deixado essa característica de lado, observamos que nas últimas semanas, Temer esteve na mira desses atores.

O 2º e o 10º posts foram feitos pela página do deputado Marco Feliciano (PSC-RJ). Como de costume, Feliciano emplaca seus posts contrapondo a defesa da família cristã ao comunismo. No 2º post, o deputado tece críticas desrespeitosas ao comediante Gregório Duvivier devido ao artigo publicado em sua coluna da Folha de S. Paulo no dia 25/12. Nele, Duvivier parabenizava Jesus, caracterizando-o como comunista, defensor de bandidos e prostitutas. Ao comentar o artigo, Feliciano não economiza ofensas ao seu reconhecido desafeto, chamando-o, entre outras coisas, de “ateu ativista”, “insensato”, “covarde”, “canalha”, “boçal”, “cretino”, “louco”, “menino bufão”, “hipócrita”, “vazio” e “digno de pena”. Além de empregar esses adjetivos pouco compatíveis com o espírito natalino, o pastor completa a descrição do comediante identificando suas predileções políticas como “viúvo do lulopetismo”, “apaixonado por Cuba”, “amante da filosofia dos norte-coreanos”, “tresloucadamente tarado por Maduro”, e ainda chama o Ministério Público, que rejeitou os processos contra Duvivier, de “mala”, e a Folha de São Paulo de “comunista”.

Já o 10º post trata do vídeo do automobilista Louis Hamilton lamentando que seu sobrinho de 3 anos estava vestido de princesa no Natal. Deturpando os argumentos dos críticos de Hamilton, o pastor problematiza as consequências de deixar uma criança fazer o que tem vontade no caso de situações que exporiam a criança ao risco, como colocar o dedo na tomada ou jogar-se da janela, e defende o uso da violência contra crianças e trabalho infantil como recursos contra “a fraqueza moral e intelectual” apresentada por tantos jovens nos dias de hoje.

O 4º e o 7º posts são assinados pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). No 4º, o deputado é entrevistado pelo jornalista do D24AM por meio de uma estratégia chamada “pinga fogo”. Na entrevista, Bolsonaro afirma que “não existe homofobia no Brasil”, defende “a posse da arma de fogo para o cidadão de bem”, o fim da progressão de pena, a obrigatoriedade do trabalho penitenciário, que os militares tenham um lugar de destaque em questões ligadas à soberania, e denuncia a “ideologia de gênero” presente no material escolar. O outro post do deputado (7º) é um vídeo no qual deseja “Feliz Ano Novo” aos seus fãs em um modelo bastante similar ao produzido no Natal, contando com a participação de sua filha e de uma outra criança, e gravado em sua residência. Exaltando o Estado de Israel, o deputado aproveita ainda para se colocar como o baluarte da verdade, da honestidade e do patriotismo no país.

O 8º post, do MBL, consiste em um link para uma matéria do site Ceticismo Político, que ironiza o fato de a deputada Maria do Rosário (PT-RS), declarada defensora do desarmamento, ter tido seu carro roubado. É mencionado na inserção: “Fica claro que a deputada não conseguiu (ou talvez nem tentou) convencer os assaltantes de que as armas eram proibidas, uma vez que ela é ferrenha defensora do desarmamento. Resultado: perdeu o carro”.

A 6ª e a 9ª colocação são ocupadas por posts de veículos da grande imprensa. O 6º post é da página do G1, contendo link que direciona o usuário para uma matéria sobre o reajuste do salário mínimo. Dentre outras coisas, a matéria observa que o reajuste foi o menor em 24 anos e esclarece como é feito o seu cálculo. O 9º post é da revista VEJA, e remete para a coluna de Lilian Witte Fibe, que acusa Temer de tentar presentear os criminosos de colarinho branco com seu indulto de Natal. Witte Fibe enaltece Carmen Lícia e Raquel Dodge por terem impedido tal feito e agradece também por Gilmar Mendes não estar nesse plantão. A jornalista aproveita ainda para denunciar a manipulação do Congresso pelo presidente para a aprovação da Reforma da Previdência.

Em suma, verificamos que, trocadilhos à parte, o “temeroso” indulto de Natal foi o assunto que mais repercutiu nas páginas que discutem política ao longo dessa semana. Pelo mesmo motivo, Michel Temer foi o personagem político mais criticado. Trata-se de um fato inédito desde que iniciamos o monitoramento. Até então, o personagem mais alfinetado pelas páginas fora o ex-presidente Lula. Contudo, observamos que embora tenha saído do foco, o PT não deixou de receber críticas sutis, presentes nos posts de Feliciano, Bolsonaro e MBL.

Outra novidade registrada foi a expressiva presença feminina nos posts: os elogios à ministra Carmen Lúcia e à PGR Raquel Dodge, a repercussão da coluna de Lilian Witte Fibe, e mesmo com objetivo pouco ou nada louvável, a matéria-deboche sobre a deputada Maria do Rosário e o uso das meninas no vídeo de Bolsonaro.

Com a redução das atividades na semana do Réveillon, parece que as páginas de esquerda e seus seguidores decidiram descansar. Já a direita moralista não tirou folga. Vejamos como se configurará a discussão política no Facebook em 2018, ano de eleições.

[1] Nessa semana tivemos a substituição de dois posts no ranking, um da Metropolitana FM, e outro do Catraca Livre.

Por Natasha Bachini e João Feres Jr.

Apoie o Manchetômetro

Criado em 2014, o Manchetômetro (IESP-UERJ) é o único site de monitoramento contínuo da grande mídia brasileira. As pesquisas do Manchetômetro são realizadas por uma equipe com alto grau de treinamento acadêmico e profissional.

Para cumprirmos nossa missão, é fundamental que continuemos funcionando com autonomia e independência. Daí procurarmos fontes coletivas de financiamento.

Conheça mais o projeto e colabore: https://benfeitoria.com/manchetometro

Compartilhe nossas postagens e o link da campanha nas suas redes sociais.

Seu apoio conta muito!