O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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10 a 16 de junho, 2019

Por Natasha Bachini e João Feres Jr.

Entre os dias 10 e 16 de junho de 2019, as 158 páginas que monitoramos publicaram 8.369 posts, que geraram 5.801.487 compartilhamentos
Entre os dias 10 e 16 de junho de 2019, as 158 páginas que monitoramos publicaram 8.369 posts, que geraram 5.801.487 compartilhamentos

Entre os dias 10 e 16 de junho de 2019, as 158 páginas que monitoramos publicaram 8.369 posts, que geraram 5.801.487 compartilhamentos. As páginas que mais postaram nessa semana foram: Mídia Ninja (408 posts), Portal R7 (352 posts) e o Globo (349 posts).

Tabela 1: 20 posts mais compartilhados da semana (10/6/2019 a 16/6/2019)[1]

 semana 83

Os 20 posts da tabela acima concentram 15% dos compartilhamentos obtidos pelas 158 páginas ao longo do período. Os recursos mais frequentes nos posts foram vídeo (75%), seguido de link (15%), foto (5%) e texto (5%).

O assunto mais comentado no Facebook durante esta semana foram as conversas, realizadas via aplicativo Telegram, entre os promotores do Ministério Público (MP) e o então juiz Sergio Moro duante a Operação Lava Jato, que sugerem a manipulação do processo contra Lula e consequente interferência na disputa eleitoral de modo a prejudicar Haddad (PT). Nas mensagens entregues ao Intercept Brasil por fonte anônima e trazidas a público pela agência de notícias, observa-se que Sergio Moro orientou as investigações do Ministério Público, o que configura quebra dos princípios de imparcialidade judicial e independência das instituições.

Como era de se esperar, as páginas da direita e alguns veículos da grande imprensa, que foi grande colaboradora da Operação, desacreditaram a reportagem e saíram em defesa do agora ministro da Justiça Sergio Moro. No post mais compartilhado da semana, Jair Bolsonaro divulgou um vídeo de sua chegada junto com Moro ao estádio Mané Garrincha para o jogo do Flamengo, sugerindo o apoio popular à dupla. Este episódio também foi noticiado pelo Estadão, cuja matéria destacou a força do ministro a despeito da denúncia, e ocupou a 11ª posição do ranking.

O senador Álvaro Dias (Podemos-PR) e o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) desqualificaram a denúncia do jornal afirmando que se trata de “uma estratégia da marginália, que procura desqualificar quem denuncia e quem julga, na esperança de absolver os criminosos”. Kataguiri reproduziu posts do próprio Moro e do procurador Deltan Dallagnol, que classificam a invasão dos seus celulares como “uma ação criminosa” e desmentem a hipótese de conluio, alegando, em linhas gerais, que “nem todos os pedidos do MP foram acatados por Moro”, que “a condenação do ex-presidente por três tribunais mostra que as provas apresentadas pela acusação eram robustas”, assim como “não houve perseguição política, posto que políticos de outros partidos também foram acusados e condenados”.

Já O Globo emplacou duas matérias no rol. A primeira esclarece que o print de uma das conversas entre Moro e Dallagnol sobre a sentença combinada de Lula  e citando a Globo – que viralizou na rede – é fake, dado confirmado pelo próprio Intercept para a Agência Lupa. A segunda consiste numa entrevista com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso. Barroso minimiza a gravidade da denúncia afirmando não entender a euforia com a revelação das conversas pois, embora possa ter ocorrido “erros pontuais no processo”, “todo mundo sabe, no caso da Lava Jato, que as diretorias da Petrobras foram loteadas entre partidos com metas percentuais de desvios”.

Em contrapartida, os posts das páginas de esquerda corroborando as denúncias também alcançaram alto número de compartilhamentos. Ocupando a quinta posição da lista, o canal Conversa Afiada Oficial, do jornalista Paulo Henrique Amorim, destacou que o Intercept colocou sob suspeita todo o sistema institucional brasileiro, colocando em risco sua legitimidade e credibilidade, assim como a eleição de Bolsonaro. O jornalista argumentou sobre a possibilidade da participação do Supremo neste conluio e chamou os jornais O Globo, Estadão e Folha de S.Paulo de golpistas. Amorim reproduziu também a avaliação do juiz que julgou a Operação Mãos Limpas na Itália, Gherardo Colombo, inspiradora da Lava Jato, sobre o caso. Nesta, Colombo defende que Moro deveria ser processado, pois “o juiz que emitiu a sentença é o mesmo juiz que instruiu o processo”.

Manuela D’Ávila (PC do B) lembrou oportunamente em seu post as palavras de Sergio Moro no Programa do Bial: “(…) O problema ali (do grampo em Lula) não era a captação do diálogo e a divulgação do diálogo, o problema era o diálogo em si, uma ação visando burlar a justiça”. Assim, mostrou a contradição do ministro, que agora critica a prática do hackeamento e o seu vazamento pela imprensa.

O boletim Lula Livre, mais enfático, defendeu que as mensagens provam que “o julgamento de Lula foi uma farsa”, posto que o ex-presidente foi vítima de lawfare. “O juiz atuava como superior dos promotores” e “Dallagnol, sabendo que não havia provas contra Lula, comemorou a reportagem de O Globo sobre o triplex, que vinculou ao caso da Petrobrás para convencer a opinião pública”.

A página de Lula afirma que sua defesa exige: “a demissão do ministro, a abertura de processo administrativo contra todos os que participaram da conspiração, que devem ser prontamente afastados de suas funções, a anulação dos julgamentos e o reconhecimento de sua inocência”.

Outro assunto que vem pautando a política e repercutiu na rede durante essa semana foi a greve geral do dia 14 de junho. Entretanto, somente os posts da direita atingiram compartilhamentos suficientes para compor a lista. O presidente Bolsonaro e seus fiéis escudeiros, os deputados Kim Kataguiri (DEM-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), publicaram vídeos de pessoas contestando a paralisação e chamando os grevistas de “vagabundos” e de estudantes afirmando que não serão mais “doutrinados por professores de esquerda”, defendendo o projeto Escola Sem Partido. Já a Rede TV!, conquistou o segundo lugar com o comentário de Boris Casoy sobre a greve. Em rede nacional, Casoy disse que “a greve foi parcial e os líderes do movimento não atingiram seus objetivos”, e acusou “seus organizadores”, o “PT e seus satélites” de terem “conduzido o país à situação que vivemos” e “saquear os cofres públicos do Brasil”.

Em resumo, o debate político no Facebook vem ilustrando a correlação de forças na atual conjuntura brasileira, posto que a rede é um dos principais espaços no qual se conformam as narrativas em disputa. A grave denúncia apresentada pelo Intercept Brasil evidencia os arranjos que conduziram nossa história política recente a partir do alinhamento de interesses entre os novos grupos de direita, o Ministério Público, o Judiciário e a grande imprensa, que degringolaram na vitória dos discursos antiestablishment e moralista e no ódio às esquerdas.

Se a narrativa deste conluio convenceu a opinião pública a partir, em grande medida, da instrumentalização das mídias sociais e da difusão de fake news, por outro lado, as ações do atual governo e os recorrentes escândalos que o envolvem estão lhe desmistificando aos poucos, também com o auxílio do uso da internet, visto que os grupos poderosos não estão interessados em nenhum tipo de “autocrítica”, tampouco em reconhecer seus crimes e abusos. Dessa maneira, a desidratação do governo e o crescimento da oposição, ocultados nos meios tradicionais e entre o grande empresariado, se tornam cada vez mais evidentes nas redes e nas ruas.

 

 

[1] Tendo em vista nossos propósitos, foram excluídos da lista dois posts do SBT, um post do G1 e um post do Portal R7 por não tratarem de Política.

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