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Vaza Jato nos jornais – 20 de junho

Por Eduardo Barbabela, Juliana Gagliardi e João Feres Jr.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, participa de audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, participa de audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

 

 

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Número de textos publicados desde o primeiro dia da cobertura do escândalo (10/06/19)

A ida de Sérgio Moro ao Senado Federal no dia anterior, fez a cobertura do dia 19 de junho sobre a Vaza Jato ganhar relevância, com manchetes dos três jornais e 26 textos no total. É também o dia com cobertura mais favorável a Moro em toda a série, com apenas 2 críticos.

Estadão

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O Estadão aumentou a quantidade de textos sobre o escândalo para 8 na edição do dia 20 de junho. 6 deles críticos ao Intercept. O jornal destacou prioritariamente a ida do ministro da Justiça ao Senado Federal. Uma reportagem destaca a suposta falta de apego de Moro ao cargo de ministro e registra sua denúncia de sensacionalismo contra Glenn Greenwald. O jornal também aponta para a suspeita da Polícia Federal de que o hacker do celular do ex-juiz teria se passado por ele, Moro, no Telegram.

 

O Globo

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O Globo foi o jornal com maior cobertura sobre a Vaza Jato no dia 20 de junho: 10 textos, entre eles 6 críticos ao Intercept. O jornal carioca destaca não apenas a ida de Sérgio Moro ao senado, mas principalmente sua suposta grande capacidade de defesa. Segundo Merval Pereira, a diferença estaria em distinguir quem está defendendo a Lava Jato de “quem quer soltar bandido”. O jornal também destaca as excentricidades dos senadores durante a audiência pública, como declararem que foram alvo de memes na internet ou dizer seu número de celular pedindo para serem hackeados.

Folha

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A Folha de São Paulo, por fim, teve 8 textos sobre o escândalo, 4 deles neutros. O jornal declara vitória de Moro ao se esquivar dos questionamentos, mas também critica sua ausência em evento futuro na Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), a qual o criticou por associar o Intercept a hackers criminosos. A Folha também destaca que a oposição ao governo irá aguardar a decisão do STF sobre a Lava Jato para então avaliar a viabilidade de uma CPI.

 

Jornal Nacional (19 de junho)

Na edição do dia 19, a Vaza Jato foi tema de duas matérias. Uma delas informou a publicação pelo Intercept de novas mensagens “atribuídas a Sergio Moro”. A segunda falava sobre a ida de Moro ao Senado para dar explicações sobre as mensagens.

Na primeira matéria o telejornal mostrou trechos da conversa divulgada e apresentou, como de costume, uma sucessão de notas no contexto do novo vazamento, Primeiro, nota de Moro afirmando que não reconhece a autenticidade das mensagens, que foram obtidas por meios criminosos, que podem ter sido editadas e manipuladas, e que nunca houve interferência sua no caso da investigação ao ex-presidente FHC. Em seguida, duas outras notas da Força-Tarefa da Lava Jato, ressaltando o meio “ilícito” de obtenção das mensagens e a impossibilidade de conferir se houve edições ou alterações, repudiando o “ataque infundado à imparcialidade da operação” e acusando o Intercept de “criar artificialmente uma realidade inexistente que dê suporte a teses que favoreçam o ex-presidente Lula”. Depois nota do Instituto Fernando Henrique Cardoso dizendo que o inquérito sobre o ex-presidente, com base em delação, foi arquivado. Por fim, o jornal menciona a nota do Instituto Lula afirmando a esperança de que as novas evidências sirvam para anular “o que chamou de injustas condenações”.

Enquanto essas informações sobre o novo vazamento ocuparam cerca de 3m33s do tempo total do jornal (34m), a segunda matéria, sobre a ida de Moro ao Senado ocupou 8m6s. Nese tempo, o jornal descreveu de modo geral a acusação de imparcialidade feita pelo Intercept, logo em seguida reproduzindo vários trechos da fala do ministro na Casa, entre eles: o montante de dinheiro desviado recuperado pela operação, a ação de hackers como “criminosa”,  a invasão de celulares como um ataque às instituições, a cobrança para que o site divulgue a íntegra de mensagens para as autoridades e sua opinião de que a ação visa beneficiar réus condenados. Foi destacado mais uma vez que, embora Moro não reconheça a autenticidade das conversas, esses contatos seriam normais na rotina de trabalho. O telejornal reproduz fala de alguns senadores que apoiaram e de outros que criticaram Moro.

Embora o Jornal Nacional veicule outras opiniões, mais uma vez dá a entender que se trata de um embate entre a Lava Jato e os apoiadores de Lula. Novamente o espaço concedido à fala dos envolvidos na operação e sua defesa é predominante. E, como de costume, o jornal reproduz trechos das mensagens vazadas ­– questionando sua procedência e mesmo a idoneidade do Intercept. O conteúdo dos vazamentos, contudo, não é problematizado.

 

Conclusão

A edição do dia 20 de junho mostrou os meios convergindo para o entendimento de que a defesa de Moro é a defesa da própria Operação Lava Jato e de seu suposto legado. Esse foi o principal argumento de Moro no Senado, e ele ecoou com força na cobertura da imprensa. Se a cobertura do 11º dia sinaliza a volta da grande imprensa a um padrão de forte apoio a Moro e à Lava Jato, posição da qual os meios do Grupo Globo nunca se afastaram, só o futuro próximo dirá.

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