Vaza Jato nos jornais – 27 de julho
Por Eduardo Barbabela, Juliana Gagliardi, Natasha Bachini e João Feres Jr.
O 48° dia da Vaza Jato manteve cobertura aquecida, com os três jornais citando o escândalo em suas manchetes, pelo quarto dia seguido. Os diários mantêm o alto número de textos, com 31 nas edições de 27 de julho. Os destaques ficaram pela confirmação de que Manuel D’Ávila foi o elo entre o hacker e Glenn Greenwald e a publicação da Portaria 666 pelo Ministério da Justiça, que prevê um rito sumário deportação de estrangeiros considerados perigosos.
O GLOBO
O Globo continuou a destacar o hacking, citando a Vaza Jato em sete oportunidades. Em sua coluna, Merval Pereira desqualifica a versão do suposto hacker de que não foi pago por alguém para realizar o serviço e reforça a importância de descobrir a verdade sobre os fatos. O diário também defende a manutenção da prisão temporária dos suspeitos, por preocupação de destruição de provas. Em outra reportagem, o jornal aponta para o interesse de partidos do centrão e da oposição em convocar Moro para esclarecimentos no Congresso por ter afirmado que destruiria os dados.
ESTADÃO
O Estadão mantém seu interesse em discutir a questão do hacking, mencionando a Vaza Jato em dez textos. Na Coluna do Estadão, Alberto Bombig aponta que a Portaria 666 do Ministério da Justiça não foi bem recebida nos mundos jurídico e político e reforçou a pressão para que Moro mantenha distância em relação ao caso de hacking. O diário também publica nota de Manuela D’Ávila, na qual a ex-deputada confirma que passou o contato de Glenn Greenwald ao suposto hacker.
FOLHA
A Folha continua a ser o jornal que mais discute a Vaza Jato, com 14 textos em sua edição de hoje. Em editorial, o diário critica a atuação de Moro junto às investigações dos hackers, não apenas pelo ex-juiz disseminar insinuações, mas por cogitar destruir provas. No Painel, Daniela Lima revela o desconforto no MPF com as novas revelações da Folha e do Intercept sobre Deltan Dallagnol, que teria sido ganancioso com suas palestras a empresas citadas na Lava Jato. Em outra reportagem, o jornal apresenta os resultados de perícia contratada pela própria Folha e que aponta diversos elementos de autenticidade nos áudios de Deltan Dallagnol divulgados pelo Intercept.
JORNAL NACIONAL
Na edição do dia 26 de julho, o JN apresentou cinco matérias sobre a atuação dos hackers presos por acessar os telefones de autoridades da Justiça, totalizando mais de 17 minutos de tempo do noticiário. A primeira delas (255s) é centrada no depoimento de Walter Delgatti à Polícia Federal e detalha como o hacker conseguiu acessar os celulares de juízes e procuradores. A segunda matéria (210s) informa que a Polícia Federal decidiu manter os suspeitos presos por mais cinco dias, dá outros detalhes da investigação e termina citando a fala do presidente Bolsonaro, que chama o episódio de crime. A terceira matéria e de maior tamanho (322s) fala sobre a afirmação de Delgatti de que Manuela DÁvila (PCdoB) teria intermediado o contato dos hackers com o jornalista do Intercept Glenn Greenwald. A matéria conta detalhadamente como Delgatti conseguiu chegar ao telefone de Manuela e, após contatá-la, como ela o pôs em contato com Greenwald. O jornal informa que Delgatti afirmou não ter recebido nenhuma vantagem financeira pelos vazamentos. No fim da matéria, o telejornal narra o pronunciamento de Manuela à imprensa feito via redes sociais. A quarta matéria (130s) explora investigação da Polícia Federal sobre os rendimentos financeiros de Delgatti, sublinhando que o suspeito não explica como obtém dinheiro para suas aplicações financeiras. A quinta matéria (149s) foi sobre a publicação, pela revista Veja, do diálogo que teria ocorrido entre Greenwald e o hacker, enquanto fonte anônima. O contato entre o jornalista e a fonte é narrado, enquanto a matéria ressalta que o hacker, nas mensagens, afirmou a Glenn que não havia hackeado o celular do ex-juiz Sergio Moro, enquanto o suspeito preso afirma ter tido acesso ao celular do ex-ministro.
Em suma, o Jornal Nacional mantém o foco na narrativa do crime, que descreve minuciosamente, e explora possíveis contradições entre aqueles envolvidos em sua publicização e as afirmações dos suspeitos detidos. A problematização sobre o conteúdo das mensagens vazadas continua ausente.
CONCLUSÃO
Apesar das novas revelações da Folha de São Paulo, O Globo e Estadão tem discutido apenas a questão do hacking. Os diários continuam a discutir a versão, também defendida pela PF, de que houve pagamento para a realização desse serviço. Enquanto isso, as atitudes do ministro Moro em relação ao caso não foram bem recebidas e parecem que terão algum reflexo político nos próximos dias. O escândalo Vaza Jato continua a ter desdobramentos inesperados, na política e na sua cobertura midiática.