29 de julho a 4 de agosto, 2019
90ª semana de monitoramento: 29 de julho a 4 de agosto de 2019.
Entre os dias 29 de julho e 4 de agosto de 2019, as 158 páginas que monitoramos publicaram 7.117 posts, que geraram 3.545.862 compartilhamentos. As páginas que mais postaram nessa semana foram: Veja (389 posts), Exame (381 posts) e Estadão (374 posts).
Tabela 1: 20 posts mais compartilhados da semana (29/7/2019 a 4/8/2019)
Os 20 posts da tabela acima concentram 25% dos compartilhamentos obtidos pelas 158 páginas ao longo do período. Os recursos mais frequentes nos posts foram vídeo (75%), foto (20%) e status (5%).
O presidente Jair Bolsonaro respondeu por 85% dos posts mais compartilhados da semana. Após a sucessão de declarações e decisões polêmicas no mês de julho, Bolsonaro iniciou agosto mostrando no Facebook os feitos do seu governo, divulgando registros elogiosos de outras pessoas públicas e atacando os ambientalistas, o Judiciário, a imprensa, as pessoas perseguidas durante a ditadura militar, os presidiários e a esquerda. Foram tratados diversos assuntos nas publicações. Tentaremos aqui resumi-los.
No post mais compartilhado da semana, Bolsonaro trouxe um vídeo com uma seleção de notícias positivas de jornais televisivos sobre o seu governo. Estas abordam a redução do preço dos combustíveis, o aumento do lucro da Petrobras e do turismo, a aprovação da Reforma da Previdência, as obras que vêm sendo tocadas pelo Exército e a queda do índice de desemprego. Entretanto, com relação a este último tema, houve a inclusão de fake news. Na edição do vídeo, foram apresentados dados relativos a 2013, ano de queda recorde no desemprego no país, como se fossem atuais.
Foram comemorados em outros posts pelo presidente e por seu filho, Eduardo Bolsonaro, o recebimento de um cheque simbólico de R$ 31 bilhões, em Jakarta, da Paper Excellence. Embora este tenha sido abordado como um investimento garantido no Brasil, tal fato só ocorrerá se a empresa vencer uma disputa comercial com a J&F, de Joesley Batista, sobre o capital. Ou seja, o gesto é uma maneira de pressionar o governo a posicionar-se favoravelmente aos seus interesses. Eduardo mencionou a condição em um dos seus posts, muito provavelmente numa tentativa de induzir a opinião pública a pressionar o Judiciário sobre a decisão: “É o maior investimento que eu tive notícia recentemente (…) Com isto estima-se a geração em torno de 4.500 empregos diretos e indiretos e mais outros 4.000 para a ampliação da fábrica. Além disso, a empresa pagará R$ 1 bilhão/ano para o Brasil a título de impostos (…) mas para que o investimento de longo prazo seja efetivado é preciso que se resolva uma lide que hoje envolve a J&F, controlada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista (JBS), e a venda da Eldorado celulose, que se encontra no ICC (Câmara Brasil-França, um tribunal arbitral)”.
Um tema que pautou vários posts do presidente foi a Amazônia. Considerando-se as críticas às tentativas de deturpar os dados sobre o desmatamento da região, Bolsonaro disse à imprensa, durante coletiva em Anapólis-GO, que constituem alertas e não se referem a desmatamento de fato. Em outro post sobre a questão, o ministro Ricardo Salles, acusou a imprensa e os ambientalistas de “sensacionalistas” e “traidores da pátria”, alegando que “a divulgação de números imprecisos traz enormes prejuízos à imagem do Brasil”, e anunciou um novo sistema de monitoramento do desmatamento, justificando que o atual é ineficiente, pois “não consegue detectar o processo”.
Ainda sobre a imprensa, Bolsonaro a acusou em outros posts de “militância ideológica” e de “ser contra a redução de impostos”, devido à repercussão da informação de que o Brasil perderá R$50mi em arrecadação ao isentar a produção de consoles e máquinas de videogames, e de “incompreensão” no episódio em que desmarcou a reunião com o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, para cortar o cabelo.
Além disso, foi anunciado, com entusiasmo, como embaixador do Turismo no Brasil, o biólogo Richard Rasmussen, que é alvo, segundo a imprensa, de dezenas de autuações do Ibama e já foi atingido em vários processos por crimes ambientais, como o de manter animais silvestres em cativeiro e o de introduzir espécies de outros países.
Bolsonaro compartilhou vídeos também nos quais o ex-senador Pedro Simon (PMDB), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o empresário Beto Studart e o jornalista Alexandre Garcia elogiaram seu governo. Simon, mais reticente, diz que, embora não concorde com tudo que vem sendo feito ou falado, “pela primeira vez o Brasil caminha para o rumo certo” e defende a Operação Lava Jato. Trump, quando questionado sobre as relações comerciais com o Brasil, disse que embora nós cobremos muitos impostos deles (estadunidenses), ele está muito satisfeito com os acordos e que Bolsonaro e sua família são “maravilhosos”. O presidente norte-americano também declarou apoio à indicação de Eduardo Bolsonaro como embaixador brasileiro em Washington. Studart parabenizou os ministros e servidores por criarem um ambiente com “menos política e mais oportuno para os negócios”. Garcia afirmou que se trata da “maior mudança de todos os tempos no Brasil” e que “vamos sair do maior buraco”.
No Facebook, Bolsonaro reforçou mais algumas de suas recentes declarações polêmicas. Após ignorar a rebelião no presídio de Altamira, ao comentar a morte de presidiários em transferência, afirmou: “problemas acontecem”, “mas tenho mesmo é pena das vítimas que eles fizeram e da família delas”. O presidente defendeu também, em sua live, a legalização de garimpos, inclusive em terras indígenas, e criticou o Judiciário por “se meter em tudo”, afirmando que “a justiça quer que a gente mantenha radares multando você” e “revogar as demissões que fizemos no começo do ano”.
Em outro post, Bolsonaro e Eduardo atacaram a resistência à ditadura militar, acusando os militantes e anistiados de “terroristas”, “mentirosos” e “usurpadores do dinheiro suado do povo brasileiro”.
Por fim, tivemos um único post da esquerda no ranking desta semana. A página de Lula alcançou alto volume de compartilhamentos ao publicar um vídeo no qual o ator Osmar Prado defendeu a liberdade do ex-presidente. Disse o ator: “estou cada vez mais convicto da minha posição, de estar do lado certo da história”. E completou: “Aos que me vaiaram (no festival de cinema de Gramado em 2018), aceito as desculpas que vocês me pedirão lá na frente, quando entenderem o que é a Lava Jato e os desmandos que acontecem no país”.
Ao analisar os posts da semana anterior, observamos que o presidente age como um déspota, tanto no Planalto quanto na rede. Além de não mostrar a menor abertura ao debate e aos contrapontos, o que é próprio das democracias, não assume seus equívocos ou revê seus posicionamentos autoritários e violentos. Toda oposição aos seus atos é justificada a partir de ataques.
A sensatez, o pudor, a lei, os dados, as instituições e a opinião pública não parecem suficientes para lhe impor limites, o que está conduzindo o país a um caminho de retrocesso que levará muito tempo para ser superado.