O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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12 a 18 de agosto, 2019

Por Natasha Bachini e João Feres Jr.

Em suma, durante o período analisado, a direita utilizou-se da rede para fazer, literalmente, sua cortina de fumaça e desviar a atenção pública de assuntos urgentes. Por meio da divulgação do andamento de obras federais, críticas aos governos petistas e ofensas a lideranças internacionais, o Planalto e seus aliados procuraram esconder e justificar o inadmissível: o desmatamento recorde e irresponsável da Amazônia, cujas consequências são irreparáveis. Tais danos vêm sendo encarados com muito preocupação, inclusive por políticos declaradamente de direita, como o presidente da França, Emmanuel Macron, e o governador do Estado do Amazonas, Wilson Lima (PSC). Vejamos até quando essa estratégia de combinar fake news e antipetismo garantirá apoiadores diante de ações desastrosas.
Em suma, durante o período analisado, a direita utilizou-se da rede para fazer, literalmente, sua cortina de fumaça e desviar a atenção pública de assuntos urgentes.

Entre os dias 12 e 18 de agosto de 2019, as 158 páginas que monitoramos publicaram 8.730 posts, que geraram 3.893.044 compartilhamentos. As páginas que mais postaram nessa semana foram: UOL (518 posts), Catraca Livre (494 posts) e Exame (494 posts).

Tabela 1: 20 posts mais compartilhados da semana (12/8/2019 a 18/8/2019)

 semana 92

Os 20 posts da tabela acima concentram 22% dos compartilhamentos obtidos pelas 158 páginas ao longo do período. Os recursos mais frequentes nos posts foram vídeo (80%), foto (10%) e link (10%).

O presidente Jair Bolsonaro destacou-se novamente como o político que alcançou maior volume de compartilhamentos. Seus posts mais difundidos trataram de suas visitas a cidades e obras do governo federal, da exploração da Amazônia e da retirada dos radares móveis de vias.

No post mais compartilhado da semana, Bolsonaro responde à pergunta de um repórter sobre as obras da BR-116 em Pelotas (RS), após a liberação de um trecho duplicado de 47 quilômetros. O jornalista levantou a bola para o presidente: “Estas obras começaram há sete anos, mas somente agora estão sendo entregues. O que o governo do senhor está fazendo diferente dos outros?”. Bolsonaro respondeu associando, mais uma vez, a corrupção ao PT: “Não petralhar, não roubar, não acertar com empreiteiras. (…) Meu governo não está imune à corrupção, mas se acontecer, será voadora no pescoço”. Seguiu a mesma linha no terceiro post, sobre a obra do Memorial da Anistia, em Belo Horizonte. Neste post, Bolsonaro replica um vídeo no qual a ministra Damares aparece dizendo que a “cabulosa obra da esquerda” quintuplicou os gastos do orçamento inicial e danificou o patrimônio histórico da cidade.

No evento em Pelotas, Bolsonaro anunciou também o fim dos radares móveis, notícia que foi comemorada na rede, nos posts de seu filho Flávio, e em comentário de Boris Casoy em seu programa de TV.  Bolsonaro ainda fez questão de ressaltar sua popularidade por meio de vídeos de sua chegada àquela cidade gaúcha e a Barretos (SP) e Mão Santa de Parnaíba (PI), quando foi saudado pela população local.

Entretanto, chamou atenção o fato de Bolsonaro emplacar posts sobre a exploração da Amazônia alguns dias antes de chegar a São Paulo a assustadora nuvem de fumaça, proveniente das inúmeras queimadas provocadas na região pelos pecuaristas e madeireiros. Respondendo às críticas internacionais sobre o aumento das taxas de desmatamento durante o seu governo e a suspensão de verbas para a preservação da região por parte da Noruega e da Alemanha, Bolsonaro veiculou um vídeo em homenagem ao ex-senador Enéas Carneiro e outro do jornalista Alexandre Garcia, nos quais se defendia que o interesse internacional na Amazônia nada tem a ver com a preservação de sua superfície, da floresta, mas com a exploração do seu subsolo. Nas palavras de Enéas, em vídeo antigo, naquele solo se encontra “a cota energética que movimentará o mundo”. Já para Garcia, os outros países estariam interessados em nossas reservas de nióbio e em frear a produção agropecuária brasileira, diminuindo assim sua competitividade.

Bolsonaro também veiculou um vídeo de qualidade baixa e conteúdo falso sobre a pesca de baleias que, supostamente, ocorreria na Noruega (logo verificou-se que as imagens eram da Dinamarca) e outro no qual sugeriu que Angela Merkel pegasse os 80 milhões que a Alemanha destinava ao Fundo Amazônico e reflorestasse seu próprio país (que tem um grande projeto de proteção de suas florestas). Ou seja, ambos posts traziam fake news.

Outro assunto que obteve larga repercussão na rede foi o Projeto de Lei 7.596/17, conhecido como lei do abuso de autoridade. Estes foram promovidos fundamentalmente por meio dos posts de Álvaro Dias e da página Vem Pra Rua Brasil. Ambos posicionaram-se contrariamente ao projeto, afirmando que ele tem por objetivo acabar com a Operação Lava Jato por “retirar a liberdade de atuação de procuradores e policiais” e manifestaram apoio a Deltan Dallagnol e Sérgio Moro. Em sua argumentação a respeito, essas páginas ainda acusaram o PT de favorecer empresários amigos com R$500bi.

Em suma, durante o período analisado, a direita utilizou-se da rede para fazer, literalmente, sua cortina de fumaça e desviar a atenção pública de assuntos urgentes. Por meio da divulgação do andamento de obras federais, críticas aos governos petistas e ofensas a lideranças internacionais, o Planalto e seus aliados procuraram esconder e justificar o inadmissível: o desmatamento recorde e irresponsável da Amazônia, cujas consequências são irreparáveis.

Tais danos vêm sendo encarados com muito preocupação, inclusive por políticos declaradamente de direita, como o presidente da França, Emmanuel Macron, e o governador do Estado do Amazonas, Wilson Lima (PSC). Vejamos até quando essa estratégia de combinar fake news e antipetismo garantirá apoiadores diante de ações desastrosas.

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