Boletim Editorial 5
Por Juliana Gagliardi, Eduardo Barbabela, Lidiane Vieira e João Feres Júnior
No período de 11 a 17 de setembro, os editoriais da grande imprensa abordaram as temáticas listadas na Figura 1. Consideramos, para análise mais específica em nosso boletim desta semana, os dois eixos principais: Economia e governo Bolsonaro.
Figura 1: Temáticas presentes nos editoriais (11 a 17/9/2019)
A economia foi a temática mais frequente nesta semana e englobou especialmente três subtemas: o quadro geral da economia, a CPMF e as reformas, e o orçamento. O Estado de S. Paulo,[1] a exemplo de comentários que já apareceram em editoriais das semanas anteriores, elogia o que considera sinais de melhora na economia e critica a morosidade do governo em agir.
A discussão sobre o possível retorno da CPMF foi abordada na Folha e em O Globo. O jornal paulista[2] critica de forma incisiva o imposto e questiona o poder de Guedes de viabilizar seu retorno, destacando a oposição de Bolsonaro à medida. Por essa razão – “insistência tola em CPMF”–, na última semana o presidente demitiu o chefe da Receita Federal. A Folha lamenta que essa situação possa abrir espaço para a intervenção presidencial na atuação fiscalizadora da Receita e, principalmente, que possa atrasar a proposta de reforma tributária. Em um segundo editorial,[3] a Folha novamente critica a discussão, que considera um “desvario”, e elenca medidas e caminhos que deveriam, em sua visão, nortear a reforma tributária. Embora não faça a mesma oposição clara ao imposto, O Globo[4], também destacando a resistência que Guedes enfrentará para aprová-la,[5] segue conclusão semelhante à da Folha: opina que a confusão criada pelo governo em torno do assunto é ruim “para as expectativas dos agentes econômicos, já degradadas por declarações e atitudes impróprias da família Bolsonaro” e que será naturalmente desafiador aprovar a reforma tributária, então, “quanto menos ruído, melhor”.
A especulação sobre o retorno da CPMF, portanto, embora se trate de um evento específico, encerra-se na defesa da reforma tributária. O subtema das reformas, aliás, está presente nos três jornais, que defendem o que julgam ser a necessidade de realizar outras mudanças na esteira da reforma da Previdência[6] e elogiam o Legislativo por sua ação harmoniosa em prol desta e da retomada do crescimento econômico brasileiro.[7] A reforma trabalhista também é mencionada, em OESP,[8] que defende que o STF não mude as regras adotadas pelo ex-presidente Michel Temer, argumentando que isso poderia retomar a indústria do recurso e prejudicar os resultados alcançados com ela, como uma justiça mais célere.
O último subtema econômico foi o orçamento público, que teve espaço na Folha e n’O Globo. A Folha[9] critica o Ministério Público e o Judiciário pela forma irresponsável com que lidam com o orçamento (salários altíssimos; projetos de prédios faraônicos; criação do sexto TRF em BH) e chama o Congresso a vetar as ações dessas duas esferas. Em caminho semelhante, O Globo[10] critica os supersalários no setor público – dando o exemplo de um procurador do MP – e fala do desequilíbrio nas contas públicas gerados pelas despesas com pessoal. Assim como a Folha, chama a Câmara dos Deputados a agir, pondo fim aos aos supersalários.
Outro editorial d’O Globo[11] desta semana critica os gastos obrigatórios que engessam o orçamento público e a solução “simplista” de alterar o teto de gastos. O jornal aponta como solução, concordando com Paulo Guedes, reexaminar o sistema de despesas obrigatórias e realizar alterações essenciais “para reduzir o peso do Estado, abrir espaços à iniciativa privada e também recuperar a capacidade de investimento do setor público”.
A segunda temática mais frequente nos editoriais, como de costume, foi Bolsonaro e seu governo. Na Folha,[12] o presidente foi criticado por protagonizar um governo que desvaloriza a ciência, embora o editorial, como de praxe, destaque que a redução de verba é resultado das “gestões anteriores”. Em O Globo,[13] Bolsonaro foi criticado pelos atos autoritários de seu governo em editorial que destaca a solidez das instituições brasileiras e demanda o respeito à Constituição.
Mas, nesta semana, a temática recebeu atenção destacada do OESP: onze editoriais. O Estadão criticou a declaração de Carlos Bolsonaro sobre a democracia e defendeu que o presidente tomasse uma posição rápida, tal qual outras figuras públicas fizeram.[14] Outro evento ressaltado foi a Medida Provisória que altera a necessidade de divulgar licitações que deixam de ter que aparecer em jornais de grande circulação passando apenas à internet. Segundo um editorial, que critica de forma incisiva a medida vista como arbitrária, um governo que diz defender o combate à corrupção não deveria diminuir a transparência pública.[15] A reforma do Estado, com redução de exigências burocráticas e requalificação do serviço público, é defendida enquanto se acusa o governo de pouca ação nesse sentido e de atuação palanqueira.[16]
O reflexo econômico do desempenho do governo Bolsonaro também foi ponto especial. O OESP critica a atuação e a demora do governo para resolver os problemas da economia brasileira.[17] Dias depois, aponta o fraco desempenho econômico do primeiro semestre para criticar o desempenho do governo em seus primeiros seis meses[18] e argumenta que as decisões da equipe econômica prejudicam o cidadão em prol de um suposto liberalismo.[19]
Em mais uma frente, OESP foca na inabilidade do governo Bolsonaro em tecer acordos. Em um dos editoriais, discute sua incapacidade de se articular internamente e de fixar planos, programas e rumos claros para toda a administração, sendo recorrentes os conflitos entre os interesses comerciais e os tropeços diplomáticos.[20] Em outros textos, o jornal volta a criticar a incapacidade do governo de construir uma relação eficiente[21] ou uma base de apoio no Congresso e de definir políticas públicas. Destaca também o entendimento de que Bolsonaro escolhe o enfrentamento, tentando impor sua vontade por meio de medidas provisórias e decretos afoitos ou simplesmente inconstitucionais, que evidenciam seu despreparo para o exercício do poder num regime democrático.[22] Ainda em outro editorial, argumenta-se que seu governo transmite duas imagens: uma que indicaria razoável preparação para enfrentar os desafios diversos que se impõem, com visão clara e respeito pelos dados da realidade nacional, e uma segunda imagem de um governo totalmente alheio ao mundo real, movido exclusivamente por uma ideologia doentia que tem contaminado decisões administrativas em diversas instâncias, com consequências imprevisíveis. O jornal critica essa duplicidade para ressaltar que ela prejudica o investidor.[23]
Conclusão
Mais uma vez, a economia e o governo Bolsonaro são temáticas predominantes nos editoriais dos três jornais que monitoramos. No que diz respeito à primeira, a lenta recuperação econômica, a defesa da realização das reformas, e as críticas aos gastos do orçamento público têm sido questões constantes no espaço editorial. Sobre Bolsonaro, as críticas pessoais ao presidente, por seu posicionamento, e ao seu governo, pela sua incapacidade de articulação com o Congresso, pouca efetividade na alteração do quadro econômico e na definição de políticas públicas, também não são novidades. Por ora, esses são os temas que têm merecido maior espaço e maior esforço argumentativo de forma repetida no espaço editorial dos três jornais que monitoramos.
[1] Boa surpresa no consumo. O Estado de S. Paulo (OESP), 12/9/2019.
[2] Tempo Perdido. Folha de S. Paulo (FSP), 13/9/2019.
[3] Reforma com foco. FSP, 15/9/2019.
[4] Governo cria confusão em torno da CPMF. O Globo, 13/9/2019.
[5] A volta da CPMF requer debates e explicações. O Globo, 11/9/2019.
[6] Idem.
[7] Saudável disposição. OESP, 12/9/2019.
[8] O êxito da reforma trabalhista. OESP, 13/9/2019.
[9] Bolha de privilégios. FSP, 16/9/2019.
[10] Câmara precisa acelerar o fim dos supersalários. O Globo, 16/9/2019.
[11] Gastos rígidos são grande entrave à economia O Globo, 15/9/2019.
[12] O conto do grafeno. FSP, 11/9/2019.
[13] É preciso firme defesa da democracia. O Globo, 12/9/2019.
[14] Flerte com o golpismo. OESP, 11/9/2019.
[15] Mais uma MP arbitrário. OESP, 11/9/2019.
[16] A vez da reforma do Estado. OESP, 14/9/2019.
[17] Otimismo depois da vírgula. OESP, 11/9/2019.
[18] A economia ainda morna. OESP, 14/9/2019.
[19] Previdência e direitos. OESP, 14/9/2019.
[20] Um bode no altar do governo. OESP, 13/9/2019.
[21] O método. OESP, 17/9/2019.
[22] O problema é a incompetência. OESP, 15/9/2019.
[23] O governo e a realidade. OESP, 16/9/2919.