O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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Boletim 3 – Economia, covid-19 e crise política

Neste Boletim M, a equipe do Manchetômetro apresenta uma análise dos editoriais publicados nos grandes jornais brasileiros ao longo de maio de 2020, para entendermos seu posicionamento perante a economia, a pandemia do Coronavírus e as crises políticas geradas no quinto mês do segundo ano do governo Bolsonaro.

 O GLOBO

Os gráficos abaixo contêm o agregado de textos, com suas respectivas valências, das coberturas sobre Política, Economia, Jair Bolsonaro, Governo Federal, respectivamente, nos editoriais d’O Globo.

A cobertura no mês de maio d’O Globo se dedicou a discutir dois temas principais: a pandemia do Coronavírus e a crise política instaurada no país. Os temas estiveram associados a dois eixos principais: a economia e o “custo Bolsonaro”.

A cobertura do Coronavírus apresentou ações cientificamente verificadas e relacionadas a isolamento e proteção das pessoas em contraposição à posição de Jair Bolsonaro, que defendeu a abertura gradativa como uma forma também de proteger a economia brasileira. Para desconstruir a posição do presidente, uma das ações do jornal foi se apoiar em dados estatísticos, científicos e históricos para demonstrar não apenas que o posicionamento do presidente era equivocado, como também ia contra fatos históricos.

Sobre a Economia, os editoriais d’O Globo apresentaram preocupações com os reflexos da justiça social no futuro econômico do país caso o Congresso atue de forma populista na concessão e manutenção do benefício. O periódico se preocupou também em defender reformas do Estado, reforçando a ideia de que o funcionalismo público ajudasse no pagamento da conta da Pandemia e também de que as diferentes agências do Estado atuassem garantindo transparência e evitando gastos desnecessários.

A crise política também foi tema no período, com cobertura muito negativa para o governo Bolsonaro. Desde o início do mês, com as discussões sobre a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça, O Globo destacou os possíveis interesses de Jair Bolsonaro de interferir na Polícia Federal. A nomeação às pressas do novo diretor geral da PF foi vista com suspeita e o vídeo da reunião ministerial também foi apontado como a bala de prata de Sérgio Moro contra os argumentos negacionistas do presidente. A investigação do Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, foi usada como exemplo de possível influência presidencial nas ações da Polícia Federal. Segundo o jornal, mesmo que Witzel fosse realmente culpado, a possível interferência do presidente colocava a operação toda sob dúvida, principalmente por Witzel ter se tornado oposição a Bolsonaro em nicho eleitoral.

ESTADÃO

Os gráficos abaixo contêm o agregado de textos, com suas respectivas valências, das coberturas sobre Política, Economia, Jair Bolsonaro, Governo Federal, respectivamente, nos editoriais do jornal Estadão.

A crise política foi a tônica dos editoriais do Estadão no mês de maio. A tensão proveniente da saída de Sergio Moro do governo Bolsonaro, ainda em abril, reverberou na primeira quinzena, com o jornal manifestando desagrado com a tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. A desaprovação se confirmou com a transmissão do vídeo da reunião ministerial, ocorrida em 22 de abril deste ano. Nesse momento, o jornal acusou o presidente de governar um estado paralelo e de transformar a presidência em uma propriedade privada. Por todo o mês os editoriais alertaram quanto à ameaça democrática que se desenhava a partir do Poder Executivo. O Supremo Tribunal Federal foi o principal alvo de ataques do bolsonarismo, e, dessa maneira, o principal personagem de contenção do que foi denominado pelo jornal como o “avanço do presidente da República sobre os limites constitucionais”. Além disso, a saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde, segundo ministro da Saúde a deixar a pasta durante a pandemia, foi interpretada como total descaso do Governo Federal com combate ao Covid-19.

Os editoriais seguiram defendendo o isolamento e as medidas adotadas pelos governadores e prefeitos, só que de forma menos enfática. Passaram também a atentar para o reflexo econômico da crise sanitária. Para o Estadão, a falta de compromisso de Bolsonaro produziu um horizonte pouco provável de retomada econômica e de recuperação das contas públicas. Nesse contexto, a aproximação de Bolsonaro com o Centrão foi rechaçada, pois, de acordo com a posição do jornal, ao invés de Bolsonaro estar preocupado em arrumar as contas públicas no pós-pandemia, preocupa-se em negociar seus interesses.

Apesar das Fake News terem sido objeto recorrente dos editoriais do mês passado, em maio o assunto esfriou. Por outro lado, ressurgiu com força a insistente comparação entre Jair Bolsonaro e Luís Inácio Lula da Silva. Os editorialistas do Estadão atribuem a culpa da eleição de um candidato incompetente em 2018 integralmente ao PT e a Lula, que não deram respostas satisfatórias às exigências do eleitorado em 2013.

FOLHA DE S. PAULO

Os gráficos abaixo contêm o agregado de textos, com suas respectivas valências, das coberturas sobre Política, Economia, Jair Bolsonaro, Governo Federal, respectivamente, nos editoriais da Folha de S. Paulo.

Cada vez mais distante dos impactos sanitários da pandemia do Coronavírus, a cobertura dos editoriais da Folha acessou o tema a partir das crises economia e política. Prova disso foi a pouca atenção nos editoriais aos recordes de mortes alcançados pelo país ao longo do mês. Embora temas como vacina e cloroquina tenham tido seu espaço, não foi páreo para reunião ministerial, reformas, queda de ministro e inquérito das Fake News.

Pauta antiga nas páginas da Folha, a defesa das reformas seguiu firme, mas com uma novidade: não bastava pôr em vigor as já previstas, era necessária uma “dosagem mais ambiciosa”. Esta seria a única salvação para a economia, do contrário a taxa de juros baixa seria efêmera. E a defesa das reformas sempre veio acompanhada da necessidade de controle dos gastos públicos. Os editoriais sobre economia criticaram a pressa de reabrir o comércio, a proposta de emissão de moeda, a manutenção do salário do funcionalismo público e a desigualdade de renda amplificada entre brancos e pretos. Contudo, ao tratarem do caso concreto do assassinato do adolescente negro João Pedro em operação da Polícia Federal, a questão racial tenha desaparecido.

No aspecto político, o principal assunto foi a reunião ministerial, que teve sua divulgação apoiada pela Folha. Os principais personagens foram alvo de duras críticas, mas o destaque foi para Jair Bolsonaro, que estaria “vilipendiando” a democracia. Não é novidade que a Folha identifica o presidente como uma crise a parte das demais. Os xingamentos permaneceram, com destaque para a repercussão de seu “E, daí?”, dado em resposta a uma repórter na porta do Planalto da Alvorada que alertou ao presidente que o Brasil ultrapassara a China no número total de óbitos pelo novo coronavírus, razão pela qual foi chamado de tolo e aspirante a curandeiro. Ainda no que toca a crise política, a Folha lamentou, literalmente, a nomeação do décimo sétimo militar ao gabinete ministerial de Bolsonaro, em substituição a Teich.

Maio terminou para a Folha com um editorial único que faz uma “robusta de liberdade de expressão”. Segundo o editorial, “O corolário dessa posição é que, por mais desagradável, cumpre defender o direito de manifestação de bolsonaristas que pedem o AI-5 ou o fechamento do Congresso e do STF.”

OS TRÊS JORNAIS

Os gráficos abaixo contêm o agregado de textos, com suas respectivas valências, nos temas de Política, Economia, Jair Bolsonaro e Governo Federal, nos editoriais dos três jornais.

CONCLUSÃO

As coberturas dos jornais apresentaram, durante o mês de maio, três temas essenciais: o combate ao Coronavírus, a crise política em Brasília e os reflexos econômicos tanto da pandemia quanto da crise política.

Com o ambiente político em ebulição em Brasília, os jornais destacaram as diversas crises políticas em que o governo e o próprio presidente Bolsonaro estiveram inseridos. A cobertura de maio se iniciou com os reflexos das denúncias de Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça, passou pelo pedido de demissão de Nelson Teich e terminou no embate entre Jair Bolsonaro e o Poder Judiciário no final do mês. O presidente foi o grande personagem da cobertura sendo criticado ao longo de todo mês por sua predisposição em entrar em conflito com os outros Poderes, principalmente o Judiciário, e com a Constituição. As atitudes antidemocráticas de Bolsonaro não foram criticadas apenas por suas consequências políticas, mas por prejudicarem a capacidade de recuperação econômica do país com sua predisposição ao caos.

Apesar do protagonismo do caos político que envolveu Brasília na cobertura jornalística, a pandemia do Covid-19 conseguiu manter alguma relevância durante todo mês. Os jornais mantiveram o apoio a ações responsáveis no combate ao vírus, pautadas ou pela ciência, ou pela importância do fim do isolamento para a retomada econômica do país. Ao mesmo tempo nota-se preocupação dos periódicos em evitar que a pandemia afete o programa de reformas neoliberais conduzido ao longo dos governos Temer e Bolsonaro, ainda que aos trancos e barrancos.

Ao final do mês, os jornais iniciaram um processo de defesa de liberdades ante as ameaças de autoritarismo advindas do governo Bolsonaro, instigando uma união das forças democráticas contra tal inimigo. Porém, tal união não deveria incluir o PT ou Lula, que na visão de Estadão e Globo, seriam tão antirrepublicanos quanto Bolsonaro, ainda que à esquerda.

[1]Nota metodológica: O Estadão possui três editoriais em sua edição diária, o que explica ter mais de 60 editoriais (dois por dia) em um mês.

Por Eduardo Barbabela, Mariane Matos, Lidiane Vieira e João Feres Júnior

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