De 15 a 21 de junho de 2020
O Relatório 101 foi o assunto do Podcast do Manchetômetro dessa semana. Na semana de 15 a 21 de junho de 2020 foram observados 16.160 posts nas 719 páginas de nossa amostra, que geraram 9.986.368 compartilhamentos. Os principais recursos utilizados nos posts foram fotos (40%), links (38%), vídeos (21%) e somente texto (1%)
Os assuntos que mais repercutiram na rede ao longo do período foram, além da própria pandemia, os inquéritos das fake news e das manifestações antidemocráticas, e a prisão de Fabrício Queiroz.
O STF, e especialmente o ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos, foram sistematicamente atacados nos posts das páginas da extrema direita devido à (1) prisão de Sara Giromini, líder da organização 300 do Brasil, que defende intervenção militar, a volta do AI-5 e o fechamento do Congresso e do STF – ações que se enquadram na Lei de Segurança Nacional-, e à (2) quebra do sigilo bancário de dez parlamentares ligados ao presidente Bolsonaro, suspeitos de apoiar e financiar os atos do grupo.
O deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), um dos investigados no primeiro inquérito, em vídeo, coloca-se como um pastor e pai de família “perseguido”, e chama Moraes de “canalha”. O deputado Filipe Barros (PSL-PR), intimado a depor no inquérito das fake news, e o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), endossam o coro, alegando seletividade jurídica e censura nas ações do STF, e propagando a #STFVergonhaNacional. Outra bolsonarista investigada no mesmo inquérito, Carla Zambelli (PSL-SP), adotou o mesmo discurso mas a partir de outra estratégia, reunindo questionamentos às ações do STF nos últimos anos por diversos políticos, inclusive opositores, e relativizando os crimes indicados nos inquéritos como práticas asseguradas pela liberdade de expressão. A deputada ainda se utiliza das palavras do apresentador Ratinho e do comentarista Caio Coppola para reforçar sua narrativa persecutória, denominando o Supremo como “corrupto” e “petista”.
A deputada Bia Kicis (PSL-DF), também arrolada no referido inquérito, procurou amenizar a gravidade da prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do deputado Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), no último dia 18 na chácara do advogado do presidente, divulgando a lista do relatório da Coaf sobre movimentações financeiras atípicas dos membros da Alerj, destacando os nomes dos políticos de esquerda que a compõem.
A prisão de Queiroz também alavancou o post de uma página de esquerda, de Manuela D’Avila (PC do B). O episódio é ironizado a partir da reprodução de um trecho do Programa Escolinha do Professor Raimundo no qual o personagem Rolando Lero confunde o “espremedor de laranjas” com o escritor Eça de Queiroz.
As lives do deputado Janones (AVANTE-MG) sobre a ampliação e extensão do auxílio emergencial durante a crise sanitária foram as mais compartilhadas da semana. Nos vídeos, Janones analisa os vetos do Presidente Bolsonaro para ampliar as categorias para recebimento do auxílio e explica a tramitação do processo legislativo.
O presidente Bolsonaro (sem partido), por sua vez, mudou de tom e procurou mostrar, através de vídeo, as medidas tomadas pelo Governo Federal no combate à doença, destacando as linhas de crédito para as empresas, o auxílio emergencial e a aquisição de EPIs, testes e cloroquina. Em outro post que integra a lista, Bolsonaro exaltou seu governo por ter realizado as reformas “necessárias” e “diminuído os índices de criminalidade”, e afirma ser vítima de uma perseguição autoritária por ser representante do conservadorismo, “pensamento excluído da política pela esquerda durante anos”.
Em suma, observamos na referida semana uma reação conjunta do governo e seus aliados, sobretudo os políticos do PSL, às investigações em curso que os atingem e comprometem. Fazem isso propondo um enquadramento que deturpa o direito de liberdade de expressão e o próprio conceito de democracia, e se colocando na condição de perseguidos políticos. A partir dessa narrativa, as instituições de controle do sistema político, segundo eles alinhadas à esquerda, são autoritárias por impedirem a propagação de suas ideias e projetos. Essa narrativa persecutória, entre outras coisas, dá sentido ao enredo salvacionista que elegeu o presidente. Os posts com esse discurso ainda prevalecem no debate político do Facebook, uma das redes prediletas da extrema direita e que foi fundamental à sua ascensão no país.