A cobertura do governo Bolsonaro no Jornal Nacional em Julho
Gráfico 1. Cobertura de Política
Gráfico 2. Cobertura de Política por minutos
Bolsonaro com COVID e o combate às Fake News
O mês de julho começou com o anúncio de que Jair Bolsonaro estava infectado pela COVID-19. E, como era de se esperar, o presidente anunciou o resultado de seu exame positivo em meio a informes de que estava tomando hidroxicloroquina, medicamento sem comprovação científica no tratamento da doença.
Esse é um gancho interessante porque durante todo o mês, como aconteceu também em junho, o tema das Fake News voltou diversas vezes ao Jornal Nacional, fazendo associação direta e indireta com o presidente, principalmente de duas maneiras.
A primeira, foi ao tratar de ações de mídias sociais para deter informações falsas e discursos de ódio, duas frentes que são relacionadas, no JN, com o presidente e sua família. O jornal mostrou que o Twitter, o Facebook e o Instagram removeram vídeos e mensagens de Jair Bolsonaro e seus filhos, alegando que as postagens disseminavam informações danosas à saúde pública (justamente como o alarde em torno da cloroquina) e que se vinculam também ao discurso de ódio.
A segunda maneira de associar Bolsonaro às Fake News já vinha acontecendo antes: destacando que apoiadores do presidente estão conectados a atos ilegais, principalmente em relação à difusão de notícias falsas. Em julho, contas de bolsonaristas em redes sociais no exterior foram retiradas do ar, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O Twitter retirou do ar contas de apoiadores suspeitos de espalhar fake News. E essa associação, ressaltando que as contas desativadas pertenciam a apoiadores do presidente, foi feita repetidas vezes ao longo do mês.
Gráfico 3. Cobertura de Economia
Gráfico 4. Cobertura de Economia em minutos
Reabertura e reaquecimento econômico
Em relação à economia durante a pandemia, o JN adotou duas estratégias de enquadramento principais: a primeira mostra o retorno das atividades econômicas e destaca a importância do emprego para muitos brasileiros, particularmente no atual contexto de recuo econômico. A segunda mostra a parcela de responsabilidade do governo na crise. O jornal apresentou, repetidas vezes, as dificuldades dos brasileiros para terem acesso ao auxílio emergencial – principalmente pelos problemas apresentados nas agências da Caixa e em seu aplicativo. Além disso, o JN noticiou que estabelecimentos comerciais não estavam reabrindo por falta de apoio do governo federal.
De forma geral, a defesa do isolamento social perdeu força ao longo do mês. Esse discurso foi sendo substituído por outro, que destaca a necessidade da recuperação econômica. E o JN não poupa o tom otimista, pontuando que micro e pequenas empresas mostram sinais de recuperação, mesmo que tímidos. Isso a despeito do fato de o mês de julho ter batido recorde de mortes pela COVID-19: foram mais de 30 mil ao longo de trinta dias.
Por outro lado, o jornal não abandonou completamente o tom crítico em relação ao governo no que diz respeito ao enfrentamento à pandemia. Ainda no início de julho, o JN criticou abertamente a decisão de Bolsonaro de restringir os dados sobre a pandemia. O jornal também ressaltou que iria divulgar dados mais detalhados sobre os números diários da COVID, mesmo com os obstáculos colocados pelo governo.
Nossos dados mostram claramente a amenização do discurso crítico do JN. As notícias negativas se equilibraram com as neutras – o que pode ser visto nos Gráficos 1 e 3. Já o viés neutro a respeito do Governo Federal ultrapassou o negativo, como mostra o Gráfico 5.
Gráfico 5. Cobertura de Jair Bolsonaro
Gráfico 6. Cobertura de Jair Bolsonaro em minutos
Críticas à Lava-Jato
Em julho, houve a denúncia contra José Serra e sua filha, Verônica Serra, por lavagem de dinheiro, no âmbito da Lava Jato. No entanto, no JN, o que chamou atenção foi o espaço dado ao posicionamento do procurador-geral, Augusto Aras, em relação à operação Lava-Jato.
Aras, em um debate virtual com advogados criminalistas, comentou sobre a necessidade de “correção de rumos” na Lava-Jato. Nas palavras do procurador-geral, essa correção seria para que “o lavajatismo não perdure”.
Esse posicionamento de Aras rendeu vários pedidos de retratação. Um grupo de subprocuradores-gerais da República, por exemplo, apresentou uma carta-aberta pedindo explicações.
Temos aqui uma mudança da posição do JN, que, como a maioria dos veículos da grande imprensa brasileira, apoiou com entusiasmo a operação Lava-Jato como baluarte da luta do sistema de justiça contra a corrupção política em nosso país. As críticas à operação eram até então enquadradas pelo JN, quase sem exceção, como contrárias à justiça.
Nessa narrativa anterior, Sérgio Moro desempenhava papel de grande herói e justiceiro. Resta saber se essa abertura às críticas do Procurador Geral ao ministro, agora desafeto de Bolsonaro, sinaliza um realinhamento da posição desse jornal do Grupo Globo.
Gráfico 7. Cobertura de Governo Federal
Gráfico 8. Cobertura de Governo Federal em minutos
Educação e o Fundeb
Uma das pautas mais marcantes do JN em julho foi a educação. Depois de 22 dias sem titular, o MEC foi assumido pelo professor Milton Ribeiro – reverendo da Igreja Presbiteriana. Mas o destaque ficou nas discussões sobre o Fundeb. O fundo foi apresentado pelo jornal como a principal fonte de recursos da educação básica no Brasil.
Ao longo do mês, estava previsto que a Câmara iria tratar da renovação do Fundeb, mas havia uma questão no caminho: o governo estava fazendo uma proposta de renovação que era bastante criticada. Então, o JN mostrou bastante esse conflito entre os defensores do Fundeb em sua proposta original e a contraproposta do governo, destacando as perdas e se colocando de maneira crítica ao posicionamento do governo.
Conclusões
O JN apresentou uma cobertura bastante difusa ao longo do mês, pois não esteve focado em uma pauta específica, personagem ou situação. Nesse contexto, vale destacar um equilíbrio maior entre as notícias negativas e as neutras, em relação à política e ao governo Bolsonaro.
As críticas que ainda persistem de maneira mais destacada se concentram na associação do governo com Fake News e, em última instância, nas atitudes antidemocráticas do presidente e de seus apoiadores.