O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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De 1° a 15 de maio de 2021

Entre os dias 1 e 15 de maio de 2021, as 780 páginas analisadas produziram aproximadamente 18 milhões de compartilhamentos na rede.

O gráfico sobre a quantidade de posts por dia registra menor volume de publicações nos fins de semana (2, 8, 9 e 15 de maio), com a exceção do dia 1º, no qual manifestações a favor do presidente Jair Bolsonaro movimentaram a rede. Além disso, nota-se um grande volume de posts nos dias em que a CPI da Covid recebeu depoentes (4, 5, 6, 11, 12 e 13).

Em relação aos recursos utilizados, o uso de fotos prevaleceu, seguido por vídeos, links e álbuns. A categoria álbum, implementada recentemente pelo Facebook, corresponde à utilização de diversas fotos em um mesmo post. Assim, somadas fotos e álbuns, o uso de imagens correspondeu a quase 50%.

A maior atividade de publicação na rede deu-se por parte de páginas de mídia, seguidas por instituições e personagens políticos. Em contradição, conforme veremos na página seguinte, entre as dez páginas campeãs de engajamento, sete são de personagens políticos, duas de mídia e uma de instituições.

Dentre os personagens temos Jair Bolsonaro, cinco deputados federais, todos do Partido Social Liberal (PSL), e um senador – incluindo dois filhos do presidente, Eduardo e Flávio Bolsonaro, sendo o último o único político de outro partido (Republicanos).

Conforme observamos na nuvem de palavras, o debate na rede durante o período teve como temas centrais a CPI da Covid, cuja primeira sessão ocorreu em 4 de maio, e o conflito entre Israel e Palestina. Além disso, os principais personagens e instituições políticas mencionados foram Jair Bolsonaro, Lula e o STF.

O ranking das 10 publicações mais compartilhadas no período foi dominado por dois personagens políticos: o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com seis posts, e a Deputada Federal Carla Zambelli (PSL/SP), com quatro.

Todas as publicações do ranking utilizam-se do recurso de vídeo. No post mais compartilhado e em mais quatro publicações da lista, o presidente divulga as manifestações a seu favor no dia 1º de maio. Nestas verificam-se aglomerações. O presidente aparece sem máscara cumprimentando apoiadores, que cantam o hino nacional, vestem a camisa da seleção brasileira e carregam bandeiras do Brasil. Bolsonaro também reproduziu o passeio com motociclistas no Dia das Mães, o qual afirmou que não seria transmitido pela “grande mídia” ou pela “esquerdalha”.

Em geral, seu discurso nesses posts concentra-se em declarar amor à pátria, defender valores cristãos e a família tradicional, e criticar as medidas restritivas da pandemia, sob a alegação que as pessoas querem trabalhar. Bolsonaro defende ainda o uso de medicamentos “off-label” como uma forma de assegurar a liberdade de médicos e enfermeiros na busca de alternativas.

Com abordagem similar, três dos vídeos de Zambelli abordam manifestações favoráveis ao governo. Também envolvem a defesa ao voto impresso e ‘auditável’, incluindo um vídeo do jornalista Alexandre Garcia apoiando a ideia e criticando o STF. Outro post trata sobre a CPI da Covid, em que critica o relator Renan Calheiros (MDB/AL) por não aceitar a proposta do senador Eduardo Girão (Podemos/CE) de convocar Paulo Maiurino, diretor da Polícia Federal. Desta maneira, as páginas bolsonaristas procuram destacar o apoio da população ao presidente, em um momento em que sua aprovação cai nas pesquisas, enquanto Lula desponta.

Dentre as instituições com maior interação, destaca-se o movimento ‘Somos todos Bolsonaro’. No ranking, constam também os movimentos ‘Fora Temer’, ‘MBL’ e ‘Vem Pra Rua Brasil’. O Governo do Estado de São Paulo aparece em segundo lugar, com publicações que envolvem majoritariamente anúncios sobre a vacinação e coletivas de imprensa com o governador, João Doria (PSDB), sobre a mesma temática. Além disso, compõem o ranking instituições políticas, como o Planalto, o Senado, a Marinha e o Exército.

Já o ranking das mídias mostra que a TV Globo atingiu, no período, uma interação muito maior do que as outras páginas, com mais que o dobro do segundo colocado, G1, pertencente ao mesmo grupo. Dentre as mídias alternativas, destaca-se a proximidade das taxas de interação da página ‘Ranking dos Políticos’, que atrai um público mais voltado à direita liberal, e da ‘Mídia NINJA’, de público mais à esquerda. Além disso, compõem a lista mídias mais alinhadas ao governo, como o Portal R7 e Record TV.

Entre os personagens políticos, sobressai o presidente Jair Bolsonaro, com uma taxa de interação quatro vezes maior do que o segundo colocado, seu opositor André Janones (Avante-MG). Observamos também a presença dos ex-presidentes Lula –  com publicações de pronunciamentos, entrevistas e encontros com outras figuras políticas, e Dilma Rousseff. Destacamos ainda Bruno Covas, cujos posts sobre seu estado de saúde e a vacinação na cidade de São Paulo, incitaram muitas interações.

Os posts mais compartilhados entre as mídias tradicionais foram publicados pela TV Globo, porém não têm relação com política, sendo um sobre o Big Brother Brasil e outro sobre um filme a ser transmitido na emissora. Entretanto, a página também fez uma homenagem ao ator Paulo Gustavo, que faleceu em razão da Covid-19, assunto comentado pelo G1. Destaca-se ainda um vídeo do programa Alerta Geral completo, com Sikêra Jr., divulgado pela Rede TV!., e duas matérias do G1, uma divulgando pesquisa de intenção de voto para as eleições presidenciais de 2022, em que Lula aparece com 41%, contra 23% de Bolsonaro, e outra divulgando o atentado a uma escola em Santa Catarina.

Já os dois posts mais compartilhados pelas mídias alternativas pertencem à Mídia NINJA e ao Ranking dos Políticos, respectivamente. O primeiro consiste na denúncia de uma fake news. Circulou nas mídias sociais imagem de suposta capa do jornal The New York Times, que continha o título “BRAZIL WHANTS TO BE FREE”(sic) e uma propaganda enaltecendo manifestações realizadas a favor do Bolsonaro. O segundo traz o caso de uma jovem brasileira que não conseguiu se matricular na Universidade de São Paulo (USP), por ter sido educada sob método “homeschooling”, mas teria conseguido uma bolsa de estudos para uma instituição nos EUA, criticando o Estado brasileiro por impedir o aproveitamento do potencial da jovem.

Entre os movimentos sociais, a publicação mais compartilhada foi da página ‘Somos todos Bolsonaro’, líder do ranking de engajamento com quase dez vezes mais interações do que o segundo colocado. Esta traz uma fotomontagem do presidente fazendo sinal de continência, ironizando que o “ditador” não fecha estabelecimentos e respeita a constituição, em alusão às medidas de lockdown. A segunda publicação que mais repercutiu no Facebook foi do Movimento Brasil Livre (MBL), com um vídeo que captura o bombardeio de Israel na Faixa de Gaza sobre um prédio que abrigaria o canal Al Jazeera, no qual se alega, de acordo com jornais israelenses, que um aviso teria sido emitido antes para se evacuar o prédio.

Com relação aos partidos políticos o post mais compartilhado foi do PT, com um vídeo compilado de falas de no Parlamento Europeu denunciando as práticas do governo Bolsonaro durante a pandemia, que foca em sua postura negacionista.

O segundo post foi do PTB Nacional, com uma imagem de seu presidente, Roberto Jefferson (PTB/RJ) em uma manifestação em São Paulo, indagando sobre o repasse de recursos pelo Executivo federal aos estados e municípios, insinuando que as verbas foram desviadas por governadores e prefeitos.

Dentre os dois posts mais compartilhados por governadores, o primeiro foi do governador do Acre, Gladson Cameli (Progressistas/AC), com uma imagem divulgando a recém-inaugurada Ponte do Abunã sobre o Rio Madeira, que liga distritos do estado de Rondônia ao estado do Acre.

O segundo post mais compartilhado foi do governador de São Paulo, João Doria (PSDB/SP), que traz a foto do governador vacinado, mostrando seu comprovante de vacinação e utilizando um filtro que o torna “jacaré”. Este post vem acompanhado de um comentário de que o governador esperou sua vez na fila e de uma piada dizendo que não virou jacaré, em clara referência à já conhecida fala do presidente Bolsonaro sobre as vacinas, registrada em 2020.

Os posts mais compartilhados por prefeitos foram de Eduardo Paes (DEM/RJ) e Bruno Covas (PSDB/SP), respectivamente.

No primeiro, de Paes, utiliza-se do recurso de álbum para divulgar os calendários de vacinação de maio a outubro de 2021 e informações sobre os grupos a serem imunizados.

A segunda publicação, de Covas, é uma imagem do prefeito no quarto hospitalar com seu filho, demonstrando agradecimento pelo apoio e passando uma mensagem de fé e coragem. Infelizmente, Covas faleceu enquanto  elaborávamos este relatório, vítima de câncer. 

Entre os posts mais compartilhados de parlamentares, o primeiro foi do deputado Cabo Junio Amaral (PSL/MG). No vídeo, ironiza-se o “atirador de elite do Maranhão”, um sujeito que dá uma paulada em outro que ameaça a mulher com uma faca.

O segundo post mais compartilhado foi o da deputada Carla Zambelli (PSL/SP), já mencionado. Este corresponde a um vídeo com o jornalista Alexandre Garcia, que discursa sobre o feriado do Dia do Trabalho de 2021, quando ocorreram manifestações em diversas cidades brasileiras em apoio ao governo de Jair Bolsonaro, contra o STF e exigindo o “voto auditável”.

Finalmente, em relação às reações geradas pelas publicações mais compartilhadas por categoria, há uma série de observações a serem feitas.  Verifica-se forte oposição ao governo federal no post do PT, e apoio ao post do PTB. No post de Zambelli, percebe-se o apoio por parte de seu público tanto ao presidente quanto à questão do voto impresso. Nota-se também que a piada do governador João Doria em relação aos comentários do presidente sobre a vacina incitou muitas gargalhadas. O mesmo ocorre com o post da Mídia NINJA, que fez piada com o erro de inglês da fake news criada pelos bolsonaristas.

Você pode baixar nosso relatório, clicando aqui

Por Robson Nunes, Lucas Loureiro, Keila C. G. Rosa, Andressa Liegi Costa, Elisa Nascimento, Juliana Leitão, Rodrigo Ananias, Bruna Medina, Mariana Soares, Eduardo Barbabela, Natasha Bachini e João Feres Jr.

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