De 16 a 30 de setembro de 2021
Entre 16 e 30 de setembro, o debate político foi motivado principalmente por temáticas em torno da CPI da Pandemia, com depoimentos de Luciano Hang (29/9), dono da Havan, e de Pedro Batista Júnior (22/9), diretor-executivo da Prevent Senior e da presença da comitiva presidencial na Assembleia Geral da ONU (21/9) em Nova York.
Os dias de maior fluxo na rede, com relação a quantidade de posts produzidos nesta quinzena, concentraram-se tanto nas datas em que ocorreram tais eventos como nas que a antecederam e ainda nas subsequente a eles. As 788 páginas, que produziram conteúdo neste período, são apresentadas em três categorias: 1) Instituições e Organizações, que compreende 9% da amostra e foi responsável por 10% dos posts publicados; 2) Mídias, que representam 5% da amostra e produtoras de 29% do conteúdo e 3) Personagens Políticos, compõem 86% da amostra e têm 61% das publicações.
A propósito do tipo de recurso, empregado pelas páginas para dar visibilidade ao seus conteúdos, destaca-se a preferência pelo uso de foto/álbum (imagens) que representam quase metade dos posts, 49% do total, seguido por link (27%), vídeo (24%) e texto/status (1%) respectivamente. Este quadro, não é novo, mas reforça como a imagem é utilizada como ferramenta indispensável à comunicação virtual, marcadamente para aquelas que tem como estratégia fazer circular ideias a partir de uma mensagem simples e de fácil assimilação.
A categoria Personagens Políticos, que tem a menor média de produção de posts (ver abaixo), é a que mais se utiliza das imagens. Do total de 49% dos posts que utilizam imagens/álbuns, ela é responsável por 40% destes.
Os termos que aparecem com maior ênfase na nuvem de palavras demonstra a centralidade da figura do Presidente Jair Bolsonaro no discurso promovido na esfera pública digital. Os problemas e as ações decorrentes de seu governo são refletidos, por exemplo, nos termos CPI, Luciano Hang, Covid-19, que envolve a forma de tratamento da doença provocada pela pandemia, e ainda o termo ONU, ligado ao discurso do presidente na abertura da Assembleia Geral. Este evento impulsionou mensagens tanto favoráveis, a partir da base de apoiadores, quando desfavoráveis, ao presidente, em que a oposição trouxe à memória os discursos do ex-presidente Lula e de Dilma na mesma ocasião para comparar as divergências de interesse e atuação como Chefe de Estado.
Ao observar o conteúdo dos posts que compõem o Ranking dos dez mais compartilhados, a Deputada Federal, Bia Kicis (PSL/DF), foi autora de sete deles. Os outros três são de autoria do Movimento Brasil Livre (2º lugar), do SBT (3º lugar) e de Jair Bolsonaro (6º lugar).
Bia Kicis, aliada de Bolsonaro, usou a rede, nesta quinzena, para difundir vozes alinhadas em posicionamentos ideológicos da direita e extrema-direita. O post de maior repercussão, no quesito compartilhamento, em vídeo, traz a fala do senador Marcos Rogério (DEM-RO), membro da base governista na CPI da Covid-19, que sai em defesa de Luciano Hang, depoente acusado de fazer parte do “gabinete paralelo” – grupo de conselheiros do presidente Bolsonaro no que tange ao combate à pandemia. Os demais conteúdos propagados pela Deputada, fazendo sempre uso de vídeo de terceiros, reproduz narrativas em defesa do empresário bolsonarista Luciano Hang. Em outras ocasiões, falas que ora enalteciam Jair Bolsonaro, ora o Exército. Além disso, divulgou conteúdos desmoralizantes em relação ao Partido dos Trabalhadores (PT) e Lula, e ainda ironiza um discurso da ex-presidenta Dilma na ONU.
O MBL obteve boa colocação no ranking ao divulgar um vídeo apresentado por Adelaide Oliveira, integrante do movimento e ex-candidata à prefeitura de SP em 2020, declarada como corretora de imóveis, na ficha eleitoral e Político (a) nas redes sociais. A temática exposta é sobre o ex-presidente Lula. Com fragmentos da fala dele, a apresentadora faz julgamentos críticos e descontextualizados de modo a persuadir o público a nunca mais votar no PT. Distante de questões políticas, a página do SBT ganhou visibilidade com a história de um cachorrinho cumprimentando os clientes em um supermercado enquanto o dono fazia compras. O vídeo, segundo o canal, teria viralizado na internet, pois o conteúdo causa impacto emocional nas pessoas. O presidente Jair Bolsonaro aparece uma vez no ranking ao reproduzir um corte de uma reportagem da Rede Record, sobre obras realizadas no exterior e financiadas pelo BNDES durante os governos do PT, e escreve: “#NOME?”, deixando a interpretação a cargo do imaginário dos internautas.
No quesito taxa de interação (TxI), apresentamos as dez páginas com as melhores taxas por categoria. No que tange as Instituições e Organizações, destaca-se o primeiro lugar alcançado pela página do MBL, posto que ocupa pela primeira vez neste ano. O movimento cresceu 40% em relação ao período anterior (1 a 15/9), enquanto que a página Somos todos Bolsonaro, caiu 26%, passando da primeira para a segunda posição. Nenhuma novidade apareceu desta vez, exceto pela página do Senado que se manteve na quinta posição, todas as outras apenas alternaram entre as colocações. A TxI da categoria diminuiu em 26%, em comparação à quinzena passada.
Entre as páginas de Mídias, Quebrando o Tabu permanece na primeira posição deste maio, quando passou a compor a nossa amostra, mesmo após sofrido uma queda de 7% e a página, segunda colocada, G1 ter apresentado aumento de 44% na taxa em relação ao período anterior. A novidade no ranking veio com a participação do SBT e deixou de fazer parte a página Canal de Direita, que ocupava o nono lugar no relatório anterior. El País e BBC News alteram posições e as demais permaneceram. Já a TxI da categoria cresceu 15%.
No tocante aos Personagens Políticos, Jair Bolsonaro manteve-se na primeira colocação durante todo o ano. Ainda que sua taxa tenha sido reduzida em 28% em relação a primeira quinzena de setembro, a distancia entre o segundo lugar também permanece ampla, apresentando uma taxa, aproximadamente, 3,5 vezes maior. Nesta categoria aconteceram duas mudanças. Alcançaram posições, o Ministro do Trabalho, Onix Lorenzoni, e Adilson Barroso, filiado ao Patriota, mas que perdeu o cargo de liderança após uma tentativa frustrada de atrair Jair Bolsonaro (sem partido) para o partido. E perderam posições, Flavio Bolsonaro (PATRIOTA/RJ) e Deputado Boca Aberta (PROS/PR). A TxI da categoria apresentou redução de 39% se comparada com a quinzena anterior.
Assim como na quinzena passada, no gráfico das páginas com mais compartilhamentos, as personagens de direita/extrema-direita são a maioria, todas bolsonaristas, ocupando seis dos dez primeiro lugares. A página de Bia Kicis foi a que mais se destacou, com uma diferença brutal com relação às demais. A Deputada ultrapassou em muito inclusive a página do próprio Jair Bolsonaro, que costumeiramente ocupava a primeira posição. Este, por sua vez, como demonstramos na edição especial – Base Bolsonarista (publicado em 7/10/21), vem diminuindo o número de publicações no Facebook. De 1 a 15 de setembro de 2021, o presidente produziu 68 posts, enquanto que nesta quinzena o número foi 34 posts, o que explica a queda de posição neste gráfico. Ainda em relação ao período anterior, surgem como novos, Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) e o portal G1 (Grupo Globo) e saem André Janones (AVANTE/MG) e Bibo Nunes (PSL/RS).
Ao observar o gráfico das páginas com maior engajamento na subcategoria Partidos Políticos, o PT continua na liderança, porém com variação negativa de 38% em relação ao número de engajamentos da quinzena anterior. Embora os únicos que apresentaram crescimento neste quesito foram: PSOL (38%), PCdoB (20%) e MDB (27%). Os demais também tiveram queda. Ainda deixou de aparecer no ranking o PSTU, dando lugar ao PSB.
Em paralelo, ainda sobre os Partidos Políticos, os dois posts com maior engajamento, são de autoria do PSOL, em primeiro lugar, e do PT, em segundo. Com 19 mil engajamentos, o conteúdo do PSOL traz um discurso da Deputada Federal Fernanda Melchionna, vice-líder do partido, em que faz duras críticas ao que ela denomina de ‘legado de Bolsonaro’ se referindo aos efeitos e as ações realização nos mil dias de Governo. Ela o acusa por corrupção, pelas mortes na pandemia e por crime de responsabilidade. O post do PT, com mais de 12 mil engajamentos, reproduz em vídeo uma fala da sua líder Gleisi Hoffmann em que destaca o fracasso do plano econômico do governo Bolsonaro com o baixo crescimento do PIB.
Entre as Páginas com maior engajamento na subcategoria dos Parlamentares, membros do PSL, aparecem em seis das dez posições. O melhor desempenho, porém, foi de Bia Kicis. A deputada foi a única a crescer em engajamento ao compararmos com os números anteriores, com 13% a mais. Todos os demais apresentaram redução na quantidade de interações. Figura recorrente, André Janones (AVANTE/MG) não apareceu desta vez, e quem surge é Paulo Martins (PSC/PR).
No Ranking por subcategoria dos posts com maior engajamento mostra que os dois conteúdo ranqueados entre os Parlamentares foram também da deputada Bia Kicis (PSL/DF). Os dois conteúdos são vídeos sobre o bolsonarista Luciano Hang na CPI da Pandemia. O primeiro, traz um resumo feito pelo senador Marcos Rogério sobre o depoimento do empresário e fala em sua defesa. O segundo, foi a transmissão ao vivo do depoimento de Hang na CPI, uma reprodução do canal da Tv Senado.
Já no gráfico das Páginas com maior engajamento na subcategoria dos Prefeitos, Rafael Greca e Eduardo Paes permaneceram nos mesmos lugares em relação ao período anterior. No entanto, apresentaram queda de 10% e 27%, respectivamente, na quantidade de engajamentos. Os demais se alternaram entre as posições e os únicos lograram sucesso foram Edmilson Rodrigues, Dr.Furlan e João Campos, com aumento de 55%, 57% e 51%, nessa ordem, em número de engajamento. Reaparece o prefeito de Fortaleza, Sarto, enquanto Eduardo Braide é retirado do ranking por não alcançar bom desempenho frente aos demais colegas.
Ao observar o ranking dos posts com maior engajamento na subcategoria Prefeitos/as, Eduardo Paes é autor do post número um com críticas ao presidente Bolsonaro em relação à pandemia. O segundo lugar é de Rafael Greca (DEM/PR), divulgando um chalé localizado no bairro do Bacacheri, com grande valor arquitetônico, histórico e cultural para a cidade.
A respeito das Páginas com maior engajamento, na subcategoria Governadores/as, tem-se mais uma vez a figura de João Doria (PSDB/SP) no topo da lista. Este também, apesar de manter posição, apresentou queda no desempenho, uma quantidade de engajamento 38% menor que o apresentado na quinzena anterior. A maioria de seus colegas também tiveram desempenho ruim, trocando posições entre eles/as. Somente Helder Barbalho (MDB/PA) e Rui Costa (PT/BA) conseguiram crescer, 67% e 11% respectivamente, neste quesito. Ainda deixa o ranking Fátima Bezerra (PT/RN) e entre Carlos Moisés (SEM PARTIDO).
No Ranking por subcategoria dos dois posts com maior engajamento, ainda na subcategoria Governadores/as, revela João Doria, em primeiro lugar, e Helder Barbalho, em segundo. Doria, com uma foto sua, anuncia sua candidatura nas prévias do PSDB para as Eleições Presidenciais de 2022. Já Barbalho divulga um projeto criado pelo seu governo, o CNH pai d’égua, que oferece acesso gratuito à Carteira de Habilitação às pessoas de baixa renda.
O gráfico das Páginas com maior engajamento dos Movimentos Sociais/ Sindicatos, traz a página Somos todos Bolsonaro na primeira posição. Seguindo a tendencia das demais categorias apresentadas até agora, esta página também perdeu engajamentos, 20% a menos que a primeira quinzena deste mês. A queda de interação também foi seguida pelas demais página da categoria, exceto MST (18%), CUT Brasil (3%) e MTST (99%), que aparecem com crescimento, e a página da FIESP que novamente aparece no ranking. A Marcha Mundial das Mulheres, entretanto, sai do quadro entre os melhores desempenhos.
Em relação s duas postagens na subcategoria dos Movimentos Sociais/Sindicatos no Ranking com maior engajamento, uma pertence ao MBL com conteúdo já comentado anteriormente no posts mais compartidos, e a outra foi de autoria do SomostodosBolsonaro. O movimento publicou um foto de uma família branca segurando uma folha impressa com os dizeres: ‘AQUI EM CASA NÃO ASSISTIMOS A REDE GLOBO!’.
Relativo às Páginas com maior engajamento, na subcategoria Mídias Tradicionais, a do portal G1 e a da TV Globo, mantiveram as mesmas posições em comparação ao relatório anterior. Ambas com desempenho positivo, com 1% e 10%, nessa ordem, a mais em número de engajamento. As demais que permaneceram em destaque não tiveram a mesma performance. Perderam visibilidades os canais: CNN Brasil, O Globo e VEJA. Enquanto SBT, EL País Brasil e Folha de SP ganharam posições neste ranking.
A publicação número um, no Ranking dos posts com maior engajamento, na subcategoria Mídias Tradicionais, foi do SBT com a notícia do cachorrinho no supermercado, também já comentada neste relatório. O post número dois foi produzido pelo canal de notícias da Globo, o G1. Trata se de um link que leva o usuário a uma matéria sobre crianças abandonadas na fronteira dos EUA com o México e relembra o caso da brasileira Lenilda dos Santos, de 49 anos, que foi encontrada morta no deserto, na tentativa de entrar ilegalmente nos Estados Unidos.
Já nas Páginas com maior engajamento de Mídias alternativas, a do Quebrando o Tabu continua no lugar mais alto do podium e foi a única a não obter resultado negativo neste critério com relação à primeira quinzena de setembro. As páginas apresentadas são as mesmas que apareceram no relatório anterior, alternando algumas posições. Catraca Livre, Brasil 247 e Pragmatismo Político, perderam uma posição e Buzz Feed Brasil, ganhou uma, enquanto as demais tiveram suas posições inalteradas.
Os dois postsque ganharam relevo na subcategoria Mídias Alternativas foram, ambos, publicados pela página Quebrando o Tabu. O primeiro post destaca questões de gênero ao reproduzir uma imagem de um comentário do Facebook em que um rapaz conta que foi até um café com sua amiga Trans e, no estabelecimento, ela conseguiu usar seu nome social, sendo acolhida pelos atendentes sem preconceitos. O segundo, replica um vídeo de um entregador de aplicativo solicitando mais gentileza e educação por parte dos usuários.
As reações à publicação indicam que os posts são relevantes de alguma forma para quem é impactado com o tema exposto. No caso do ranking dos dois posts de maior engajamento por categoriatemos o percentual de cada reação expressas pelos botões diante do conteúdo recebido: Curtir, Amei, Força, Uau, Haha, Triste ou Raiva, no Facebook.
Fica evidente, neste caso, três casos. Um acerca do post do governador Dória, 51% das reações relativas ao posts foram haha – muito engraçado. Dois, sobre o post do G1 52% dos usuários que reagiram, expressaram sentimento de tristeza. E o terceiro caso que chamou a atenção foi o post do Quebrando o Tabu, em que 53% das reações referente à ele declaram ter amado o conteúdo.
Essa linguagem simples, cada vez mais comuns na redes digitais, em que as pessoas se expressam por meio de emojis – que são representações gráficas dos sentimentos, servem de indicativo sobre os tipos de assuntos que agradam ou não os seguidores das páginas, podendo a informação ser utilizada para embasar as tomadas de decisões na estratégia de impulsionar conteúdo.
Em síntese, nesta quinzena, o conteúdo da nossa amostra e as interações das publicações com maior repercussão salientam as formas de disputas de narrativa, seja no campo político, social e pessoal, que seguem amparadas numa espécie de maniqueísmo imaginário, quiçá, de certa forma, inconsciente e/ou naturalizado pelas forças que regem o modelo de sociedade no Brasil.
E neste cenário, de uma lado, surgem aqueles que acreditam e defendem as ações do atual Presidente da República e que, para estes, quem for contrário é visto como o mal revertido em adversário. E do outro lado, os opositores do Presidente da República, que parecem lutar na tentativa de reverter o quadro de crise, tentam convencer aqueles que ainda o defendem de que estão do lado errado.
Desta forma, a esfera pública digital tem servido a muitos para registrar, construir, manipular, dominar, informar, desinformar, deixando marcas e revelando perfis de figuras públicas, de instituições e de atores sociais e políticos.
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