O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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A cobertura jornalística de crimes precisa mudar

O jornalismo tem como um dos seus principais papéis informar a população, e para ser notícia algo precisa fugir do comum, ser algo inusitado. Infelizmente as tragédias, guerras e crimes se enquadram nas chamadas notícias quentes, e trazem audiência seja pela comoção ou mesmo pela curiosidade das pessoas. Nessas coberturas, os limites éticos do jornalismo são colocados em questão. Como deveria o jornalismo noticiar que um homem atacou uma creche com um machadinho, tirou a vida de quatro crianças e feriu várias outras?

O poder de influência dos meios de comunicação é objeto de estudo há cerca de um século. Nas universidades que formam jornalistas ensina-se a não noticiar suicídios e ter cautela em noticiar crianças que fogem de casa. O motivo é simples: essas notícias podem influenciar pessoas a tomarem as mesmas atitudes, criando um efeito contágio. E os crimes violentos? Há algum padrão para noticiá-los?

No Brasil, a criminalidade e a violência são pautas diárias do jornalismo. Reportagens sobre assaltos, homicídios, e golpes financeiros inundam o noticiário em qualquer momento do dia em programas sensacionalistas que priorizam a cobertura desse tipo de pauta. Entretanto, os ataques às escolas e a outros ambientes públicos não são comuns por aqui (embora tenham aumentado nos últimos anos). O discurso de ódio disseminado nos por alguns grupos, e a legalização das armas, pode vir a contribuir para o aumento de ataques desse tipo, tal qual vem ocorrendo nos últimos anos nos Estados Unidos.

E como a grande mídia brasileira está noticiando a tragédia?

Há uma ampla exploração do caso, imagens da escola, das famílias e das crianças, em diversos programas de emissoras de rádio e televisão. No caso do ataque à creche em Blumenau (SC), os jornais no geral têm evitado mencionar o nome do homem que cometeu os crimes, essa é uma alternativa para evitar que ele ganhe notoriedade e fama, influenciando outras pessoas a agirem de forma semelhante.

A resposta do Delegado de Polícia Civil, Rodrigo Raitez, sobre o comportamento o criminoso afirmar estar “um pouco arrependido” nos traz o questionamento da necessidade de detalhar tais atitudes, expondo familiares e vítimas, em meio a corrida por divulgar notícias em primeira mão e ao vivo. Esse modo de narrar os acontecimentos, característico do jornalismo sensacionalista policial, principalmente o televisivo, não deveria acontecer. É preciso repensar a forma de noticiar crimes, levando em consideração o papel social do jornalismo dentro de uma democracia.

O Grupo Globo, o maior grupo de comunicação do país, divulgou uma nota esclarecendo como faria a cobertura do acontecimento na escola infantil no dia 05 de abril, com o intuito de evitar a fama do assassino e influenciar pessoas a cometerem ataques semelhantes, evitando o “efeito contágio”. Em outros casos, o grupo divulgava o nome e a imagem do assassino uma vez, mas a partir deste caso recente, optou por não mencionar seu nome. A empresa também se negou a divulgar os vídeos das ações do homem. O Estadão também publicou nota afirmando que não publicaria informações do autor do ataque. Tais atitudes merecem o reconhecimento da importância da mudança de padrões no jornalismo, elas deveriam tornar um padrão entre os demais veículos de comunicação do país.

O papel do jornalismo na sociedade é informar, mas também é necessário ter responsabilidade ética na divulgação de notícias, principalmente em casos de crimes violentos. A cobertura sensacionalista pode levar a um efeito contágio e influenciar outras pessoas a cometerem atos semelhantes. É importante repensar a forma de narrar os acontecimentos e considerar o impacto que essa cobertura pode ter na sociedade. O jornalismo deve agir com responsabilidade e ética para cumprir seu papel social em uma democracia.

Por Daniela Drummond

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