DONI #15 – 8 a 14 de julho de 2023
No DONI semanal são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente, ou algum personagem ou Instituição do Governo Federal, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. Esta semana foram analisados 110 textos.
Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal
Essa semana, os três jornais apresentaram um aumento na cobertura sobre o Governo Federal, a qual se tornou mais favorável do que em semanas anteriores.
Calculando o Índice de Viés (IV) segundo a fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.
A Folha ficou com um IV de -0,14, seguida pelo Estadão com -0,1 e o Globo com IV de 0.
Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal
As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.
A vitória da Reforma Tributária e as repercussões sobre o processo de negociação com o Legislativo foram o principal assunto dos jornais durante a semana. A atuação de Fernando Haddad e, principalmente, o apoio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do presidente da Câmara, Arthur Lira, foram elogiados como fundamentais para garantir o êxito de uma reforma tributária que os jornais fizeram questão de destacar como um projeto de Estado e não do governo Lula. Além disso, a mudança no Ministério do Turismo e a sinalização de Lula em relação à liberação de emendas para fortalecer o governo no Legislativo também foram destaque. Por fim, cabe ressaltar a decisão de extinguir o projeto de Escolas Cívico-Militares, que repercutiu nos jornais com elogios ao governo Lula por ter tomado a iniciativa. Por outro lado, os jornais também criticaram a decisão, afirmando que a mesma forneceu munição aos apoiadores de Bolsonaro para criticarem a medida.
Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto
Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.
Na Folha e no Globo, as chamadas foram o principal tipo de texto utilizado em referência ao Governo Federal, enquanto no Estadão esse papel coube aos editoriais, seguidos de perto pelas colunas. No Globo, com exceção dos artigos de opinião, todos os outros formatos apresentaram pelo menos um texto favorável ao governo. Na Folha, a situação foi a mesma, substituindo apenas os artigos de opinião pelas manchetes. No caso do Estadão, ocorreu o inverso: apenas os editoriais foram favoráveis ao Governo Federal.
Gráfico 4. Enquadramentos mais presentes na cobertura do Governo Federal
Os enquadramentos dizem respeito ao modo como a mídia trata os diversos temas apresentados, associando a eles argumentos e narrativas, para além da pura negatividade ou positividade capturada pelas valências.
Os três principais enquadramentos sobre o Governo Federal giram em torno da reforma tributária. O primeiro elogia a atuação do ministro da Economia, Fernando Haddad, na articulação política para garantir a votação da reforma. Haddad é descrito como capaz de conciliar e dialogar com diversos grupos, não apenas do Parlamento, mas também de governadores e do mercado, conquistando inclusive o apoio da Faria Lima para a realização da reforma tributária. O segundo enquadramento refere-se ao Presidente Lula e afirma que ele está disposto a atender às demandas do centrão para garantir a maioria no governo. Os textos destacam que o centrão busca o Ministério do Desenvolvimento Regional, além das liberações de emendas. Por fim, o terceiro enquadramento menciona o governo, porém não se refere diretamente a ele: os jornais ressaltam que a postura contrária à reforma tributária adotada por Jair Bolsonaro favoreceu a articulação de uma centro-direita que dialoga com o Governo Federal. Essa centro-direita, liderada pelo governador de São Paulo, Tarcísio, mesmo sendo parte da oposição, compreende a importância da reforma para o país e está comprometida com o futuro do Brasil.
Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por jornal
Calculando o Índice de Viés segundo a fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras, temos a Folha na liderança de negatividade, com –0,25. Já Estadão e Globo marcam um IVs de 0. Também é importante destacar que, tal qual a cobertura do Governo Federal, a cobertura de Lula cresceu nos três jornais e foi também menos negativa.
Gráfico 6. Temas mais presentes na cobertura do Presidente Lula
Tal como na cobertura do Governo Federal, a Reforma Tributária foi o principal assunto na cobertura de Lula. Apesar das diversas críticas à falta de articulação por parte do presidente, a vitória da reforma trouxe elogios ao governo e à figura do presidente, que liberou as emendas necessárias para sua aprovação, melhorando sua relação com o Centrão. Por fim, a declaração de Lula sobre a Venezuela continuou sendo tema de destaque nos jornais, com o debate sobre a “Democracia relativa” mantendo-se por três semanas consecutivas.
Gráfico 7. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto
A cobertura de Lula continua sendo menor em comparação àquela percebida em relação ao Governo Federal. No Estadão, encontramos textos favoráveis a Lula nos editoriais; na Folha, há artigos de opinião, editoriais e manchetes; por fim, no Globo, há chamadas, colunas e manchetes. Nesta semana, foram publicadas mais manchetes mencionando o presidente em comparação à semana anterior nos três jornais. Todos eles apresentaram quatro manchetes mencionando o presidente, nenhuma delas negativa.
Gráfico 8. Enquadramentos mais presentes na cobertura do Presidente Lula
Assim como no caso dos enquadramentos do Governo Federal, a reforma tributária foi o principal assunto dos enquadramentos do presidente, ocupando três dos cinco enquadramentos. Além do que já foi apresentado, durante a última semana, os jornais também discutiram as relações entre o Banco Central e o Governo, bem como a possível reforma ministerial. Conforme mencionado nas últimas semanas, a relação entre o Banco Central e o Governo tem passado por mudanças devido ao apoio do mercado e da Faria Lima à posição do Governo Federal em relação à redução das taxas de juros. Nesse sentido, os jornais têm apontado que o Banco Central e o Ministério da Fazenda estão negociando essa redução nas taxas de juros, enquanto criticam Lula por continuar a criticar o Banco Central pelos altos juros praticados no país. Os jornais também discutem as possibilidades de mudanças nos Ministérios para incorporar a oposição, fortalecendo a base do Governo na Câmara dos Deputados.
Análise da Semana
Os IVs para o Governo Federal nos jornais foram os mais baixos de toda da série do DONI, que se iniciou em fevereiro de 2023. Pela primeira vez o número de favoráveis ultrapassou o de contrárias na Folha e igualou em O Globo, coisa muito rara no comportamento dos meios de comunicação em relação aos governos do PT em toda a história da nossa democracia.
O fato de o IV de Lula ter sido zero no Estadão e no Globo chama muito a atenção, pois está completamente fora do tratamento padrão que essas mídias historicamente têm dedicado a Lula. A Folha foi comparativamente bem mais negativa, mantendo-se fiel ao seu roteiro.
Os jornais desta semana continuaram a aumentar a quantidade de textos que mencionam o Governo e Lula em suas páginas, abordando uma variedade de assuntos, apesar da persistência das discussões sobre a reforma tributária, as relações entre o Governo e o Centrão e as críticas às declarações de Lula sobre a Venezuela, repetindo a semana anterior. Além desses tópicos, o principal tema novo durante a semana foi a interrupção, por parte do Governo Federal, do apoio às Escolas Cívico-Militares.
Durante a semana, a intensa cobertura da reforma tributária manteve os argumentos favoráveis da semana anterior. Os jornais continuaram elogiando Haddad, Lira e Tarcísio, e defenderam uma votação rápida da reforma também no Senado. Por outro lado, os jornais continuaram a criticar Lula por não agir diretamente a favor da reforma. Além disso, dois pontos adicionais na cobertura merecem destaque: primeiro, a insistência dos jornais em enfatizar que a reforma é uma política de Estado e não do governo do PT, buscando evitar que o partido a reivindique como sua vitória; segundo, os jornais lembraram a postura de Bolsonaro contrária à Reforma Tributária e afirmaram que sua posição abriu espaço para que uma centro-direita, mesmo sendo oposição, dialogasse com o governo e ajudasse na aprovação da reforma na Câmara.
Por fim, foi destacada a decisão de Lula de interromper o financiamento das Escolas Cívico-Militares. A decisão do Governo Federal foi recebida positivamente, com os jornais enfatizando a importância dessa medida e afirmando que é a sociedade civil que deve orientar a educação no país. No entanto, os jornais criticaram a maneira como o Governo anunciou o fim do projeto, o que permitiu que apoiadores de Bolsonaro, principalmente governadores de Estado, reagissem à ação, defendendo as escolas e atacando o Governo Federal.
DONI
O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.
Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.
Você pode baixar nosso relatório, clicando aqui.
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