O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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DONI # 20 – De 12 a 18 de agosto

No DONI semanal são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente, ou algum personagem ou Instituição do Governo Federal, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. Esta semana foram analisados 92 textos.

Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)

Esta semana, os três jornais apresentaram redução na cobertura sobre o Governo Federal. 

O Globo foi o mais negativo com IV de – 0,45, seguido pelo Estadão com – 0,4 e Folha com -0,15. 

A cobertura do governo na Folha e no Estadão se apresentou ligeiramente menos negativa esta semana. O Globo, após ter sido a semana passada o primeiro jornal a marcar IV positivo em toda a série de relatórios, voltou à negatividade essa semana. 

Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal

Os dois principais temas da semana foram o lançamento do novo PAC e o apagão que afetou o país na última terça-feira. O primeiro tema teve três enquadramentos bastante claros: (1) critica severa ao governo Lula por apostar em um programa já realizado anteriormente, alegando que o Governo Federal estava preso a políticas antigas; (2) elogio a Lula por demonstrar habilidade de diálogo com opositores, ao fazer o lançamento do programa no Rio de Janeiro, junto ao governador Cláudio Castro, aliado de Jair Bolsonaro nas últimas eleições; e (3) discussão acerca da capacidade do PAC de incorporar o setor privado a fim de garantir o sucesso do projeto do Governo Federal.

O segundo tema, o apagão, apresentou duas abordagens distintas nos textos: a primeira é descreve o evento e informa que a Polícia Federal ainda está investigando a possibilidade de falha intencional; o segundo enquadramento critica severamente o Governo Federal e o PT por politizarem o apagão. Segundo os jornais, essa atitude seria prejudicial para o país, favorecendo a oposição e suas críticas ao atual governo.

Além dos dois temas principais, também houve o retorno das discussões sobre as relações entre o Executivo e o Legislativo e sobre a Reforma Ministerial. Nesta semana, o tema voltou ao centro das atenções a partir de um comentário de Haddad sobre a concentração de poder nas mãos do presidente da Câmara. A declaração não foi bem recebida por Lira, e os jornais exploraram os desentendimentos resultantes desse fato. No entanto, se posicionaram ao lado de Haddad nesse embate contra Lira, destacando que o ministro da Fazenda precisa lembrar que seu governo é frágil e depende do apoio da presidência da Câmara.

Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto

Como os IVs dos jornais já anunciava, essa semana os jornais aumentaram a intensidade das críticas ao Governo. É notável a presença de chamadas contrárias nas capas, algo que indica disposição dos editores de dar maior relevância às críticas, pois induz o leitor a buscar a matéria dentro da edição. Os editoriais também se mostram mais negativos essa semana, o que reflete a política adotada nas chamadas. 

Gráfico 4. Enquadramentos mais presentes na cobertura do Governo Federal

Três grandes temas se destacam: o primeiro gira em torno do Apagão, o segundo aborda a fala de Haddad sobre a Câmara e o terceiro discute o PAC. Os artigos relacionados ao apagão focaram em dois enquadramentos principais. O primeiro é mais descritivo, tratando da causa da sobrecarga e da investigação da PF sobre uma possível sabotagem, que os jornais posteriormente descartaram. O segundo enquadramento critica o Governo Federal, principalmente o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e a primeira-dama Janja, além do PT, representado por sua presidente Gleisi Hoffmann, por politizar repetidamente o apagão e retomar o debate sobre a privatização da Eletrobrás. Os jornais rejeitaram essas abordagens, afirmando que tais discussões não beneficiam o país e que o próprio governo pode enfrentar problemas no Congresso ao criticar uma medida aprovada por ele.

Quanto à fala de Fernando Haddad, o enquadramento principal se concentrou no possível prejuízo que o ministro da Economia poderia causar ao governo com suas críticas ao presidente da Câmara. O tom dos jornais é de aconselhamento do ministro. Esse ponto é reforçado pelo segundo enquadramento, no qual os jornais declaram concordar com a análise de Haddad sobre Arthur Lira e seu poder na Câmara. No entanto, apontam que o momento da fala foi inadequado e poderia prejudicar a tramitação das propostas do governo na Câmara.

Por fim, no que diz respeito ao PAC e ao Governo Federal, os jornais criticaram a decisão de reviver um projeto dos governos Lula 1 e 2. Argumentam que essa medida demonstra que o Governo está governando com base no retrovisor, não apenas com projetos do passado, mas também com percepções ultrapassadas, como a visão de que o gasto público impulsiona o crescimento econômico.

Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por jornal

Essa semana, o Estadão ficou na liderança de negatividade, com IV de –0,78, seguido pelo Globo com –0,55, e a Folha com IV igual a –0,27. 

A cobertura de Lula se mostrou mais negativa nos três jornais em relação a semana anterior. Também vale destacar que quantitativamente ela diminuiu na Folha e no Estadão e se manteve igual no Globo. Já a cobertura positiva cessou na Folha e diminuiu no Globo em relação a semana anterior. No Estadão não tivemos textos positivos em nenhuma das duas semanas.  

Gráfico 6. Temas mais presentes na cobertura do Presidente Lula

Da mesma forma como ocorreu na cobertura do Governo Federal, o debate sobre o PAC ocupou o centro das notícias relacionadas a Lula. Os artigos enfatizaram a habilidade de Lula em dialogar com seus opositores, ao mesmo tempo em que expressaram preocupação pelo ressurgimento de políticas do passado. Também foram evidenciadas discussões acerca da fala de Haddad, a qual poderia influenciar a relação entre o Executivo e o Legislativo, além de ter o potencial de prejudicar a Reforma Ministerial. Segundo os jornais, o ministro da Economia trouxe à tona mais um problema para o governo, e agora cabe ao presidente superar essa crise e concluir a reforma ministerial que iniciou, a fim de conseguir governar o país de forma eficaz.

Por fim, tem o tema do apagão. Os jornais criticaram principalmente a primeira-dama Janja da Silva, que teria politizado a questão da Eletrobrás, supostamente prejudicando o governo com sua atuação nas redes sociais

Gráfico 7. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

A cobertura em torno de Lula se mantém menor quando comparada àquela dedicada ao Governo Federal. É interessante notar que essa semana houve dois textos favoráveis a Lula no Globo e nenhum no Estado de S.Paulo e na Folha. 

Gráfico 8. Enquadramentos mais presentes na cobertura do Presidente Lula

Assim como aconteceu com os acontecimentos no âmbito do Governo Federal, o apagão, a fala de Haddad e o PAC foram os temas dominantes nas notícias a respeito do presidente. Durante a última semana, as referências a Lula evidenciaram como dois personagens próximos ao presidente prejudicaram seu governo em duas pautas distintas. Primeiramente, Fernando Haddad em sua fala sobre o Congresso e, posteriormente, Janja na questão do apagão. Em ambos os casos, os jornais enfatizaram os desafios que Lula pode enfrentar como resultado das declarações dos dois.

Análise da Semana

Durante esta semana, os jornais abordaram uma variedade de tópicos, revisitando assuntos já debatidos em semanas anteriores, como as relações entre o Governo e o Centrão, a reforma ministerial e a reforma tributária. Entre os principais temas inéditos, destacam-se o lançamento do PAC e o apagão na rede elétrica.

A intensa cobertura da reforma ministerial das últimas semanas persistiu nesta semana. O enfoque principal sobre esse evento emergiu a partir da fala de Haddad. Também houve alguma discussão sobre os possíveis ministérios que podem servir para acomodar o Republicanos e o PP.

O lançamento do novo PAC foi o tema central da semana. Os jornais não receberam bem o lançamento de um programa do passado e relembraram as críticas que apareciam em textos do início do ano, afirmando que Lula governava olhando para o passado. Mesmo com essa crítica, os jornais pontuaram que o novo momento coloca para o governo o desafio de atuar junto ao setor privado, o que pode ser positivo para o país.

Por fim, em relação ao apagão, os jornais apresentaram todas as explicações dadas pelo Ministério das Minas e Energia e as linhas de investigação da PF para avaliar a possibilidade de sabotagem, para posteriormente descartarem essa possibilidade. Além disso, surgiram críticas à politização do apagão elétrico pelo governo e pelo PT, principalmente pela retomada das críticas de ambos à privatização da Petrobras. Os jornais enfatizam em sua cobertura que o governo não tem culpa pelo apagão, devido a ter começado há pouco tempo. Contudo, a politização seria uma ação equivocada do Governo Federal, uma vez que a decisão pela privatização foi tomada pelo Congresso Nacional, onde a base aliada é pequena e frágil, e novos conflitos poderiam prejudicar a votação de pautas importantes como o arcabouço fiscal.

Você pode baixar nosso relatório, clicando aqui.

DONI

O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.

Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais. 

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