O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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DONI # 21 – De 19 a 25 de agosto

Relatório semanal

19 – 25/08/2023

No DONI semanal são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente, ou algum personagem ou Instituição do Governo Federal, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. Esta semana foram analisados 83 textos.

Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[1]

Esta semana, Estadão e Folha apresentaram redução na cobertura sobre o Governo Federal, enquanto o Globo apresentou ligeiro aumento.

O Globo foi o mais negativo com IV[2] de – 0,58, seguido pelo Estadão com – 0,31 e Folha com -0,13.

A cobertura do governo na Folha e no Estadão se apresentou novamente ligeiramente menos negativa esta semana. O Globo apresentou aumento na negatividade essa semana.

Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal

Três dos cinco principais temas da semana estão relacionados às relações entre o Executivo e o Legislativo federais. O debate acerca da reforma ministerial retomou a liderança entre os temas, principalmente com informações que sugeriam conflitos entre o PP e o Republicanos, bem como o que o governo estaria disposto a ceder. Diante da demora na conclusão da reforma, os jornais destacaram a irritação do Centrão e de Arthur Lira, enfatizando a possibilidade de retaliações ao governo. Uma das preocupações centrais foi a votação do arcabouço fiscal que ocorreria durante a semana. Embora o arcabouço tenha sido aprovado, suas metas fiscais suscitaram preocupações para o governo. Os jornais reforçaram a importância de fortalecer a arrecadação e evitar práticas contábeis questionáveis. No contexto da discussão sobre a arrecadação, a Reforma Tributária retornou às páginas dos jornais, que criticaram a quantidade de exceções presentes no texto e também a Câmara por recusar a tributação de offshores, o que demandou do Executivo um novo projeto.

Outro tema de grande relevância nesta semana foi o debate sobre a possibilidade de exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Com o parecer favorável da AGU, os jornais enfatizaram o agravamento das tensões entre os ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente. Os periódicos aproveitaram essa situação para reiterar a postura da ministra Marina Silva, que reafirmou o compromisso de basear as decisões em pareceres técnicos, recusando quaisquer influências políticas. A imprensa também censurou o governo Lula por não apoiar a posição de Marina nesse debate, alegando que a defesa da sustentabilidade seria insincera.

Por fim, o último tópico discutido foi a reunião dos BRICS. O encontro foi considerado uma excelente oportunidade para o país, e diante do crescimento do bloco, a possibilidade de o Brasil realçar sua liderança foi amplamente considerada. No entanto, os jornais ressaltaram o protagonismo chinês na reunião e destacaram a importância de o país não se alinhar excessivamente com a China, de modo a preservar sua própria agenda.

Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[3]

Como os IVs dos jornais já anunciava, essa semana os jornais aumentaram a intensidade das críticas ao Governo. É notável a presença de editoriais e textos de opinião contrários, algo que indica disposição dos editores de dar maior relevância às críticas.

Gráfico 4. Enquadramentos mais presentes na cobertura do Governo Federal[4]

Quatro grandes temas merecem destaque nesta semana: o primeiro deles envolve a exploração na foz do Amazonas; o segundo aborda o Arcabouço Fiscal; o terceiro versa sobre as celebrações do Sete de Setembro; e o quarto trata da reforma ministerial. Os artigos relacionados à exploração de petróleo na foz do Amazonas focaram em duas perspectivas principais. A primeira delas é descritiva, abordando os resultados do novo parecer da AGU: o conflito entre o ministério político de Minas e Energia e o ministério técnico do Meio Ambiente, assim como a condição de autorização para exploração baseada unicamente em avaliação técnica. O segundo ponto de vista critica o Governo Federal por adotar um discurso falso de sustentabilidade no projeto. De acordo com os jornais, a postura do governo deveria ser clara e direta: apoiar a ministra Marina Silva e prosseguir com o projeto somente após parecer favorável. No entanto, os jornais alegam que há pressões políticas para dar andamento ao projeto, enquanto Marina enfrenta um processo de desgaste.

No tocante ao Arcabouço Fiscal, a abordagem principal centrou-se na possível problemática que a nova meta fiscal poderá acarretar para o governo no futuro, caso a arrecadação não seja suficiente. Esse ponto é reforçado com críticas a administrações anteriores que recorreram a práticas contábeis criativas para ocultar déficits nas finanças públicas.

Em terceiro lugar, temos o debate sobre os desfiles do Sete de Setembro. Os jornais ressaltaram a preocupação do governo Lula em despolitizar o evento e resgatar os símbolos nacionais, na tentativa de conferir um novo significado à data, que possui grande importância na história do Brasil. Os periódicos destacaram os esforços da administração em colaboração com a empresa contratada para assegurar o êxito da celebração.

Por fim, no que concerne à Reforma Ministerial, os jornais criticaram a falta de critérios do governo na seleção dos ministros do Centrão que assumirão os cargos. Argumentaram que a escolha tem considerado apenas as forças políticas e os interesses partidários, em detrimento da nomeação de especialistas técnicos que poderiam fortalecer as pastas ministeriais.

Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por jornal

Essa semana, o Estadão ficou na liderança de negatividade, com IV de –0,66, seguido pela Folha com IV igual a –0,31 e o Globo com – 0,28.

A cobertura de Lula se mostrou mais negativa na Folha em relação a semana anterior, enquanto apresentou-se menos negativa no Estadão e no Globo. Também vale destacar que quantitativamente ela diminuiu no Estadão e cresceu na Folha e no Globo. Não tivemos não tivemos textos positivos essa semana.  

Gráfico 6. Temas mais presentes na cobertura do Presidente Lula

Da mesma forma como ocorreu na cobertura do Governo Federal, os debates sobre os BRICS, a Reforma Ministerial, o Arcabouço Fiscal e a Foz do Amazonas ocuparam o cerne das notícias relacionadas ao Presidente Lula. A principal distinção reside na maior relevância atribuída aos BRICS na abordagem do presidente. A principal controvérsia envolvendo Lula está centrada na inclusão da Argentina no grupo dos BRICS. Apesar de a Argentina ser um país latino-americano aliado ao Brasil, o que reforçaria a liderança brasileira no bloco, a gravíssima crise que o país enfrenta foi retratada como uma possível vitória de Pirro para o Brasil. Discussões acerca da demora na tomada de decisão acerca dos ministérios a serem ocupados pelo Centrão também foram destacadas, o que, segundo os relatos, estaria gerando frustração no bloco e, especialmente, em Arthur Lira, podendo prejudicar a eficácia do governo no Legislativo.

Por fim, há o tema da exploração na foz do Amazonas. Lula é mencionado nos textos que criticam a falta de apoio a Marina Silva no enfrentamento contra Alexandre Silveira. Segundo os jornais, o governo Lula deveria atuar mais em prol da sustentabilidade que ele alega defender e respaldar sua ministra do Meio Ambiente, que pauta suas decisões em bases técnicas.

Gráfico 7. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

A cobertura em torno de Lula se mantém menor quando comparada àquela dedicada ao Governo Federal. É interessante notar que essa semana não houve textos favoráveis a Lula no Globo em nenhum os três jornais.

Gráfico 8. Enquadramentos mais presentes na cobertura do Presidente Lula

Assim como aconteceu com os acontecimentos no âmbito do Governo Federal, a aprovação do arcabouço fiscal, a entrada de novos países nos BRICS, a demora na reforma ministerial, a importância das comemorações do Sete de Setembro e as divergências sobre a exploração na foz do Amazonas foram os temas dominantes nas notícias a respeito do presidente. Durante a última semana, as referências a Lula evidenciaram como mesmo as vitórias que o país tem conquistado, como o arcabouço fiscal e a entrada da Argentina nos BRICS, podem trazer consequencias negativas ao país e prejuízos futuros. Em ambos os casos, os jornais enfatizaram os desafios que Lula pode enfrentar como consequência de suas ações no presente.

Análise da Semana

Durante esta semana, os jornais abordaram uma variedade de tópicos, revisitando assuntos já debatidos em semanas anteriores, como a reforma ministerial, os efeitos do arcabouço fiscal e a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Entre os principais temas inéditos, destacou-se a expansão dos BRICS.

A cobertura sobre a reforma ministerial das últimas semanas ganhou novo fôlego neste período. O foco central desse evento emergiu das discussões acerca dos ministérios que o PP e o Republicanos terão no Planalto. As divergências entre Lula e Lira foram amplamente exploradas, e os jornais relembraram os possíveis desdobramentos caso Lira não consiga atingir seus objetivos.

A aprovação do arcabouço fiscal também foi um tema recorrente na cobertura da semana. Embora os jornais tenham celebrado a implementação de uma regra fiscal, houve críticas direcionadas ao projeto que obteve aprovação. A imprensa fez ressalvas ao arcabouço aprovado pelo Congresso e destacou os significativos desafios que o governo enfrentará para assegurar o cumprimento das metas fiscais nos próximos anos.

O parecer da AGU sobre a possibilidade de exploração de petróleo na foz do Amazonas reacendeu o debate sobre esse tema nos jornais. A consolidação do argumento político a favor da exploração da região foi alvo de críticas intensas por parte dos jornais, que claramente se posicionaram ao lado de Marina Silva e sua fundamentação técnica.

Por fim, no que concerne à expansão dos BRICS, os jornais destacaram a relevância da decisão do bloco e as oportunidades que o Brasil teria para fortalecer sua liderança e, sobretudo, consolidar sua agenda. Entretanto, houve ressalvas quanto à inclusão da Argentina nesse contexto de crise, levantando a possibilidade de prejudicar a imagem do país. Além disso, foi enfatizado que a China emergiu com a imagem mais fortalecida dessa reunião, levando os jornais a argumentar que o Brasil deveria se distanciar de uma agenda chinesa e pautar-se por uma agenda própria, de modo a evitar que a expansão dos BRICS diminua a relevância do bloco para o Brasil e vice-versa.

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DONI

O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.

Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.

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[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.

[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula , na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.

[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.

[4] Os enquadramentos dizem respeito ao modo como a mídia trata os diversos temas apresentados, associando a eles argumentos e narrativas, para além da pura negatividade ou positividade capturada pelas valências.

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Criado em 2014, o Manchetômetro (IESP-UERJ) é o único site de monitoramento contínuo da grande mídia brasileira. As pesquisas do Manchetômetro são realizadas por uma equipe com alto grau de treinamento acadêmico e profissional.

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