O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

Parceria

DONI # 60 – 15 a 21 de Junho de 2024

No DONI semanal são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente Lula ou algum personagem ou instituição do Executivo, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. Nesta semana, foram analisados 129 textos.

PRINCIPAIS DESCOBERTAS

Governo x Governo: As publicações abordaram os problemas internos do governo que prejudicam principalmente a agenda econômica.

Lula x Campos Neto: A imprensa retoma as críticas a Lula contra Campos Neto. Os periódicos afirmam que o presidente da República não deveria politizar as discussões sobre o BC. A divergência foi acentuada pela aproximação de Tarcísio de Freitas e Campos Neto.

Taxa Selic: As publicações elogiaram a manutenção da taxa básica de juros, destacando a autonomia do BC perante o governo.

Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[1]

Em junho, o Globo superou seus concorrentes e foi o jornal com a maior proporção de textos desfavoráveis ao governo, com IV[2] de – 1,89, seguido pelo Estadão, com – 1,73, e a Folha, com IV de – 1,72. O IV acumulado do mês de junho é – 1,78. O mês está se encaminhando para ser o mais negativo da cobertura da imprensa sobre o governo, no segundo ano do terceiro mandato de Lula.


[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações do presidente ou do Governo Federal em diferentes áreas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente é retratado é negativa ou desfavorável.

[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual “F” é o n° de favoráveis, “C”, o n° de contrárias, “A”, o n° de ambivalentes e “N”, o n° de neutras.

Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal e de Lula

O destaque da semana foi a cobertura sobre o próprio Governo Federal. Os jornais afirmaram que o governo sofre com uma divisão interna causada por dois fatores principais: a pluralidade de tendências do PT e o descompasso entre os líderes do governo. Os periódicos destacam que a crise prejudica principalmente Fernando Haddad (Fazenda) e suas propostas econômicas para o país.

O segundo tema foi a discussão sobre a política fiscal. Os textos continuam defendendo a proposta de contenção de gastos de Simone Tebet (Planejamento) e Fernando Haddad (Fazenda). Os jornais mantiveram o posicionamento contrário à estratégia de arrecadação do governo e afirmam que os gastos crescem de forma acelerada.

O terceiro tema é a taxa Selic. Os jornais são unânimes em defender o BC pela manutenção da taxa básica de juros, elogiando a autonomia da instituição. As publicações ressaltaram, porém, que mesmo os representantes do governo na instituição votaram para congelar o índice, o que seria um bom sinal para o país e para o futuro do BC pós-Campos Neto. As publicações ainda alertam Campos Neto sobre sua participação em eventos com o tom político, afirmando que tal ação não seria adequada.

Finalmente, o quarto assunto são as declarações de Lula sobre Campos Neto. Novamente, o petista é criticado por atacar o presidente do BC e sua aproximação política com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que chegou a cogitar Neto como ministro da Economia em um eventual governo se concorrer à presidência em 2026. As publicações também criticaram o PT por afirmar que Campos Neto seria um  sabotador do governo Lula.

Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[3]

Nesta semana, a imprensa subiu o tom crítico contra o Governo Federal, com muitos textos negativos em todos os formatos analisados. O Globo e a Folha priorizaram as abordagens desfavoráveis nas chamadas de capa. Já o Estadão priorizou as colunas. A Folha produziu dez chamadas negativas essa semana, acompanhado por um número significativo de editoriais da mesma natureza. O Globo, por sua vez, produziu onze chamadas contrárias ao governo, o que denota clara intenção editorial de enviesar a cobertura.

[3] Neste gráfico, vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que apresentam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.

Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal

O mês de junho teve o Estadão como o jornal com o IV mais negativo da cobertura de Lula, com índice de – 2,95. O Globo vem em segundo, com um IV de – 1,91, enquanto o IV da Folha foi – 1,90. O IV total de junho até o momento é – 2,20. O mês está se encaminhando para ser o segundo mais negativo da cobertura de Lula em seu terceiro mandato.

Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

Esta semana, o Estadão chegou próximo de publicar uma média de dois editoriais por dia contra Lula: dos 14 textos publicados, 10 seguiram esta linha. Já o Globo dividiu suas críticas ao presidente entre chamadas e colunas, mostrando que o jornal mantém em seus quadros jornalistas sempre prontos a atacar o petista, ao passo que nenhum parece compartilhar de suas posições. Na Folha, o destaque desfavorável foi distribuído nas chamadas de capa.  

Em resumo, a grande imprensa brasileira volta a tratar o presidente e seu governo de forma fortemente desfavorável, se comportando como porta-voz da oposição, sempre batendo na tecla do fiscalismo. Esta semana, mais uma vez o tema priorizado foi a economia e a decisão de manter a Selic no patamar de 10,5%.

Ainda que haja na sociedade brasileira e no mundo muitas opiniões qualificadas que diferem da linha ortodoxa abraçada pelos três maiores jornais do país, eles insistem em não abrir espaço para elas, sacrificando o pluralismo interno e pluralismo externo do debate.[4] Desta maneira, são prejudicados o processo de formação de opinião dos leitores, o debate público em geral e, por fim, a democracia brasileira.


[4] O pluralismo externo é quando diferentes meios de comunicação expressam diferentes pontos de vista sobre temas candentes do debate público, em um determinado ecossistema midiático.

Para baixar o nosso relatório, clique aqui.

DONI

O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.

Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.

Produção:
Apoio:

[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.

[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.

[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.

Apoie o Manchetômetro

Criado em 2014, o Manchetômetro (IESP-UERJ) é o único site de monitoramento contínuo da grande mídia brasileira. As pesquisas do Manchetômetro são realizadas por uma equipe com alto grau de treinamento acadêmico e profissional.

Para cumprirmos nossa missão, é fundamental que continuemos funcionando com autonomia e independência. Daí procurarmos fontes coletivas de financiamento.

Conheça mais o projeto e colabore: https://benfeitoria.com/manchetometro

Compartilhe nossas postagens e o link da campanha nas suas redes sociais.

Seu apoio conta muito!