DONI # 65 – 20 a 26 de Julho de 2024
No DONI semanal, são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente Lula ou algum personagem ou instituição do Executivo, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. A partir deste número, traremos os enquadramentos citados pelos jornais nos textos que compõe o gráfico 2. Assim, é possível perceber melhor quais os enquadramentos utilizados pela grande mídia na cobertura do governo e de Lula. Nesta semana, foram analisados 102 textos.
Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[1]
Em julho, o Estadão lidera na proporção de textos desfavoráveis ao governo, com IV[1] de – 1,09, seguido pelo Globo, com – 0,52, e a Folha, com IV também de – 0,52. O IV de julho, até o momento, é de – 0,67.
[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações do presidente ou do Governo Federal em diferentes áreas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente é retratado é negativa ou desfavorável.
[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual “F” é o n° de favoráveis, “C”, o n° de contrárias, “A”, o n° de ambivalentes e “N”, o n° de neutras.
Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal e de Lula
O destaque da semana foi a cobertura sobre as eleições venezuelanas. Os jornais concentraram a carga de discussões sobre as declarações de Nicolás Maduro. Os jornais discutiram as preocupações do Planalto com as ações do venezuelano e elogiam a crítica de Lula às falas de Maduro, apesar de criticarem a demora na fala. Para a imprensa, a situação gera preocupação sobre o papel do Brasil, maior a democracia da América Latina, em acompanhar as repercussões políticas no país vizinho.
O segundo assunto debatido foi a política fiscal. Os textos destacam que, apesar de as medidas de congelamento refletirem certo alívio, elas são insuficientes para atingir a meta fiscal ideal. A implementação de estratégias para aumento de receitas e a aplicação de reformas estruturais são apontadas como essenciais, com ênfase no protagonismo do Executivo. O aumento do déficit é atribuído ao crescimento dos gastos com benefícios previdenciários e ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).
O terceiro tema foi a Segurança Pública. Os jornais reforçam as críticas à resistência interna no PT e no governo à PEC do ministro Ricardo Lewandowski (Justiça) e, por outro lado, a negligência dos governos estaduais em investir recursos destinados pela União. Além disso, ressaltaram a necessidade de uma política nacional coordenada e a ampliação de programas da pasta.
Finalmente, o quarto tema foi a eleição municipal de 2024. A imprensa criticou o uso de emendas parlamentares para parentes de deputados que disputam cargos eletivos. A disputa em São Paulo também esteve no centro do debate, com críticas aos discursos dos dois principais candidatos à prefeitura da capital paulista — Ricardo Nunes e Guilherme Boulos. Os textos também pontuaram a maior resistência do eleitorado ao PT, nas capitais brasileiras.
Tabela 1. Enquadramentos dos textos de temas mais frequentes
Tema | Enquadramentos citados |
Política Fiscal | Embora o congelamento tenha trazido algum alívio ao mercado, ele ainda não é suficiente para atingir a meta fiscal ideal |
Obras de infraestrutura serão afetadas, sobretudo, do Ministério da Defesa. | |
Protagonismo do Executivo é primordial para implementação de limitação dos salários de servidores públicos. É preciso explorar medidas para aumento de receitas, revisão de benefícios fiscais e nova reforma previdenciária | |
Aumento do déficit se deve principalmente ao crescimento de R$ 6,4 bilhões nos gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e de R$ 4,9 bilhões com a Previdência | |
Redução da fila do INSS elevou gastos com benefícios previdenciários e BPC. | |
Mesmo com a arrecadação em alta, o contingenciamento de despesas foi mínimo. O bloqueio de gastos quando necessário, como disse Lula, não é política fiscal | |
Pente-fino em benefícios começará em setembro para avaliar se segurados atendem aos critérios do governo | |
Venezuela | Ameaça de Maduro sobre “banho de sangue” caso não vença a eleição deveria gerar uma reação mais dura de Lula e do governo brasileiro |
Posição do governo brasileiro em relação à Venezuela pode causar constrangimento internacional | |
Embora tarde, crítica de Lula a Maduro sobre “banho de sangue” é vista de forma positiva. Enquanto observador do processo eleitoral, Celso Amorim deve defender a democracia | |
Após críticas de Lula à fala de Maduro, presidente venezuelano dissemina suspeitas sobre sistema eleitoral brasileiro, como faz Jair Bolsonaro | |
Presidente do TSE cancelou envio de técnicos para acompanhar eleições do país vizinho. Há preocupação do Planalto | |
Eleições 2024 | Emendas parlamentares têm sido utilizadas para beneficiar parentes de deputados nos municípios. Governo federal programa pagar R$ 9,1 bilhões em emendas de comissão. |
Discursos de Nunes e Boulos são exagerados. | |
Capitais tendem a ter maior resistência ao PT, mesmo com popularidade de Lula. | |
Movimento de nacionalizar disputa em SP não parte só de Lula, mas também de Nunes que começa a adotar tom bélico em relação a Boulos. | |
Segurança Pública | PEC de Lewandowski enfrenta resistência dentro do próprio governo e do PT. Lula irá dialogar com governadores, mas conversa pode ser levada para a eleição de 2026. |
Enquanto governo federal não coordenar política em nível nacional, a tendência é piorar. | |
Governos estaduais não investem recursos que foram destinados pela União para o setor. | |
Fundo Nacional de Segurança Pública tem investimentos para a área, mas governadores são negligentes e não apresentam projetos. | |
Escuta Susp criado pelo governo federal, em maio, deve ser ampliado em todo o país para garantir acompanhamento da saúde mental de policiais. |
Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[3]
Nesta semana, a imprensa diminuiu o tom crítico contra o Governo Federal. O Globo e a Folha priorizaram as abordagens desfavoráveis nas chamadas de capa e nos editoriais. Já o Estadão concentrou peças contrárias nos editoriais.
[3] Neste gráfico, vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que apresentam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.
Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal
Em julho, o Estadão continua como o periódico mais negativo, com IV de -1,20, seguido pela Folha, com – 0,86, e O Globo, com -0,85. O IV total de julho até o momento é – 0,97.
Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto
Esta semana, o Estadão citou Lula negativamente em 7 editoriais. Já o Globo dividiu suas críticas ao presidente entre chamadas e editoriais. Na Folha, o destaque desfavorável foi distribuído nas chamadas de capa, editoriais e colunas.
Em resumo, a análise dos textos temáticos dos jornais brasileiros sobre o governo Lula revela uma abordagem predominantemente crítica, com destaque para o Estadão, que apresenta a maior proporção de textos desfavoráveis ao governo.
A cobertura reflete uma diminuição do tom geral desfavorável ao Governo Federal, embora ainda prevaleçam críticas substanciais nos editoriais e chamadas de capa, especialmente no Estadão e na Folha.
A análise dos enquadramentos nos permite observar que são quase todos desfavoráveis ao governo e a Lula, que são responsabilizados inclusive pelo destino das emendas parlamentares e pelos desmandos de governadores. No âmbito da política externa, Lula é sempre acusado de não se alinhar com a posição do Departamento de Estado dos EUA, ainda que isso não seja dito explicitamente, uma posição que de fato inviabiliza o papel de liderança regional ao qual o presidente inspira.
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DONI
O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.
Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.
Apoio:
[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.
[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.
[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.