O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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DONI # 65 – 20 a 26 de Julho de 2024

No DONI semanal, são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente Lula ou algum personagem ou instituição do Executivo, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. A partir deste número, traremos os enquadramentos citados pelos jornais nos textos que compõe o gráfico 2. Assim, é possível perceber melhor quais os enquadramentos utilizados pela grande mídia na cobertura do governo e de Lula. Nesta semana, foram analisados 102 textos.

PRINCIPAIS DESCOBERTAS

Venezuela: Os jornais criticam a demora do governo brasileiro em condenar as declarações de Maduro sobre as eleições venezuelanas.
Política Fiscal: Apesar do alívio para o mercado, as publicações condenaram a forma como o governo e Lula discutem a política fiscal.
Eleições 2024: Os textos reforçam o debate sobre a influência do Executivo e Legislativo nas eleições municipais, com críticas ao PT e ao uso de emendas parlamentares para favorecer aliados políticos e parentes.

Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[1]

Em julho, o Estadão lidera na proporção de textos desfavoráveis ao governo, com IV[1] de – 1,09, seguido pelo Globo, com – 0,52, e a Folha, com IV também de – 0,52. O IV de julho, até o momento, é de – 0,67.


[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações do presidente ou do Governo Federal em diferentes áreas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente é retratado é negativa ou desfavorável.

[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual “F” é o n° de favoráveis, “C”, o n° de contrárias, “A”, o n° de ambivalentes e “N”, o n° de neutras.

Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal e de Lula

O destaque da semana foi a cobertura sobre as eleições venezuelanas. Os jornais concentraram a carga de discussões sobre as declarações de Nicolás Maduro. Os jornais discutiram as preocupações do Planalto com as ações do venezuelano e elogiam a crítica de Lula às falas de Maduro, apesar de criticarem a demora na fala. Para a imprensa, a situação gera preocupação sobre o papel do Brasil, maior a democracia da América Latina, em acompanhar as repercussões políticas no país vizinho.

O segundo assunto debatido foi a política fiscal. Os textos destacam que, apesar de as medidas de congelamento refletirem certo alívio, elas são insuficientes para atingir a meta fiscal ideal. A implementação de estratégias para aumento de receitas e a aplicação de reformas estruturais são apontadas como essenciais, com ênfase no protagonismo do Executivo. O aumento do déficit é atribuído ao crescimento dos gastos com benefícios previdenciários e ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).

O terceiro tema foi a Segurança Pública. Os jornais reforçam as críticas à resistência interna no PT e no governo à PEC do ministro Ricardo Lewandowski (Justiça) e, por outro lado, a negligência dos governos estaduais em investir recursos destinados pela União. Além disso, ressaltaram a necessidade de uma política nacional coordenada e a ampliação de programas da pasta.

Finalmente, o quarto tema foi a eleição municipal de 2024. A imprensa criticou o uso de emendas parlamentares para parentes de deputados que disputam cargos eletivos. A disputa em São Paulo também esteve no centro do debate, com críticas aos discursos dos dois principais candidatos à prefeitura da capital paulista — Ricardo Nunes e Guilherme Boulos. Os textos também pontuaram a maior resistência do eleitorado ao PT, nas capitais brasileiras.

Tabela 1. Enquadramentos dos textos de temas mais frequentes

TemaEnquadramentos citados
Política FiscalEmbora o congelamento tenha trazido algum alívio ao mercado, ele ainda não é suficiente para atingir a meta fiscal ideal
Obras de infraestrutura serão afetadas, sobretudo, do Ministério da Defesa.
Protagonismo do Executivo é primordial para implementação de limitação dos salários de servidores públicos. É preciso explorar medidas para aumento de receitas, revisão de benefícios fiscais e nova reforma previdenciária
Aumento do déficit se deve principalmente ao crescimento de R$ 6,4 bilhões nos gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e de R$ 4,9 bilhões com a Previdência
Redução da fila do INSS elevou gastos com benefícios previdenciários e BPC.
Mesmo com a arrecadação em alta, o contingenciamento de despesas foi mínimo. O bloqueio de gastos quando necessário, como disse Lula, não é política fiscal
Pente-fino em benefícios começará em setembro para avaliar se segurados atendem aos critérios do governo
VenezuelaAmeaça de Maduro sobre “banho de sangue” caso não vença a eleição deveria gerar uma reação mais dura de Lula e do governo brasileiro
Posição do governo brasileiro em relação à Venezuela pode causar constrangimento internacional
Embora tarde, crítica de Lula a Maduro sobre “banho de sangue” é vista de forma positiva. Enquanto observador do processo eleitoral, Celso Amorim deve defender a democracia
Após críticas de Lula à fala de Maduro, presidente venezuelano dissemina suspeitas sobre sistema eleitoral brasileiro, como faz Jair Bolsonaro
Presidente do TSE cancelou envio de técnicos para acompanhar eleições do país vizinho. Há preocupação do Planalto
Eleições 2024Emendas parlamentares têm sido utilizadas para beneficiar parentes de deputados nos municípios. Governo federal programa pagar R$ 9,1 bilhões em emendas de comissão.
Discursos de Nunes e Boulos são exagerados.
Capitais tendem a ter maior resistência ao PT, mesmo com popularidade de Lula.
Movimento de nacionalizar disputa em SP não parte só de Lula, mas também de Nunes que começa a adotar tom bélico em relação a Boulos.
Segurança PúblicaPEC de Lewandowski enfrenta resistência dentro do próprio governo e do PT. Lula irá dialogar com governadores, mas conversa pode ser levada para a eleição de 2026.
Enquanto governo federal não coordenar política em nível nacional, a tendência é piorar.
Governos estaduais não investem recursos que foram destinados pela União para o setor.
Fundo Nacional de Segurança Pública tem investimentos para a área, mas governadores são negligentes e não apresentam projetos.
Escuta Susp criado pelo governo federal, em maio, deve ser ampliado em todo o país para garantir acompanhamento da saúde mental de policiais.  

Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[3]

Nesta semana, a imprensa diminuiu o tom crítico contra o Governo Federal. O Globo e a Folha priorizaram as abordagens desfavoráveis nas chamadas de capa e nos editoriais. Já o Estadão concentrou peças contrárias nos editoriais.

[3] Neste gráfico, vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que apresentam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.

Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal

Em julho, o Estadão continua como o periódico mais negativo, com IV de -1,20, seguido pela Folha, com – 0,86, e O Globo, com -0,85. O IV total de julho até o momento é – 0,97.

Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

Esta semana, o Estadão citou Lula negativamente em 7 editoriais. Já o Globo dividiu suas críticas ao presidente entre chamadas e editoriais. Na Folha, o destaque desfavorável foi distribuído nas chamadas de capa, editoriais e colunas.  

Em resumo, a análise dos textos temáticos dos jornais brasileiros sobre o governo Lula revela uma abordagem predominantemente crítica, com destaque para o Estadão, que apresenta a maior proporção de textos desfavoráveis ao governo.

A cobertura reflete uma diminuição do tom geral desfavorável ao Governo Federal, embora ainda prevaleçam críticas substanciais nos editoriais e chamadas de capa, especialmente no Estadão e na Folha.

A análise dos enquadramentos nos permite observar que são quase todos desfavoráveis ao governo e a Lula, que são responsabilizados inclusive pelo destino das emendas parlamentares e pelos desmandos de governadores. No âmbito da política externa, Lula é sempre acusado de não se alinhar com a posição do Departamento de Estado dos EUA, ainda que isso não seja dito explicitamente, uma posição que de fato inviabiliza o papel de liderança regional ao qual o presidente inspira.

Para baixar o nosso relatório, clique aqui.

DONI

O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.

Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.

Apoio:

[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.

[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.

[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.

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