DONI # 66 – 27 de Julho a 02 de Agosto de 2024
No DONI semanal, são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente Lula ou algum personagem ou instituição do Executivo, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. A partir deste número, traremos os enquadramentos citados pelos jornais nos textos que compõe o gráfico 2. Assim, é possível perceber melhor quais os enquadramentos utilizados pela grande mídia na cobertura do governo e de Lula. Nesta semana, foram analisados 112 textos.
Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[1]
O mês de julho terminou com o Estadão liderando na proporção de textos desfavoráveis ao governo, com IV[1] de – 1,08, seguido pelo Globo, com – 0,65, e a Folha, com IV de – 0,49. O IV de julho foi de – 0,71. Agosto começou com a mesma composição, Estadão como o jornal mais desfavorável ao governo, com IV de – 2, seguido pelo Globo com – 0.75 de IV e a Folha com – 0,5. O IV de Agosto até o momento é de – 0, 83.
[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações do presidente ou do Governo Federal em diferentes áreas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente é retratado é negativa ou desfavorável.
[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual “F” é o n° de favoráveis, “C”, o n° de contrárias, “A”, o n° de ambivalentes e “N”, o n° de neutras.
Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal e de Lula
O destaque da semana foi novamente a cobertura sobre as eleições venezuelanas. Os jornais elogiaram a atuação do Itamaraty, por sua parcimônia e liderança na região, principalmente ao garantir a segurança dos argentinos após a ruptura entre Milei e Maduro. Por sua vez, as falas e posicionamentos do PT e de Lula foram duramente criticados e considerados absurdos por desconsiderarem o que a mídia considera ser a realidade do regime de Nicolás Maduro.
O segundo assunto debatido foi novamente a política fiscal. Os textos destacam que, apesar do crescimento das receitas acima da inflação, as despesas cresceram ainda mais o que deveria acender um alerta vermelho no governo. Os jornais ainda destacam o endividamento da União de 77,8% do PIB, número que consideram muito alto para o nível global, e elogiam a decisão do Banco Central de manter a taxa de juros em 10,5%, com a piora nas projeções.
Tabela 1. Enquadramentos dos textos de temas mais frequentes
Tema | Enquadramentos citados |
Política Fiscal | Fazenda tenta equilibrar orçamento; porém, presidente Lula é avesso a cortes em benefícios sociais. |
Receitas líquidas do governo subiram 8,5% acima da inflação, mas despesas cresceram mais. | |
Governo admite impacto nas contas públicas, mas vê valorização do salário mínimo como importante no combate à pobreza. | |
Endividamento da União passa a 77,8% do PIB; número é muito alto para o nível global. | |
Governo já demonstra ações que podem conter despesas, como pente-fino no BPC; meta fiscal provavelmente será cumprida. | |
Decisão unânime do BC em manter taxa de juros em 10,5% é acertada, visto a piora nas projeções de alta de preços e a prévia da inflação de 0,30%; nem mesmo com anúncio sobre congelamento por parte do governo dissipou tensões. | |
Contenção de gastos expõe dificuldades em equilibrar as contas públicas; compromisso fiscal de Lula não é perene, e sim de ocasião. | |
Venezuela | Ida de Celso Amorim para acompanhar eleição na Venezuela é vista como um gesto de apoio de Lula a Maduro. |
Brasil é fiador do processo eleitoral junto com os EUA, mas há dúvidas sobre qual será a posição do governo brasileiro. | |
Mauro Vieira orienta ausência de embaixadora na proclamação de vitória de Maduro; governo não endossa suspeita de fraude. | |
Lula avaliou mal o governo de Maduro, sobretudo, quando o recebeu após sua posse. | |
Maduro se utiliza da máquina estatal a seu favor e ultrapassa os limites para manutenção do seu regime; Lula, como seu entusiasta, deveria “colocar o pé no chão” | |
Lula adota postura democrática apenas em países que não são do seu espectro ideológico; Itamaraty vira mero reprodutor de notas burocráticas. | |
Nota do PT coloca em credibilidade os valores democráticos de Lula. | |
Ao normalizar disputa na Venezuela, Lula sinaliza mal. | |
Reação do Itamaraty é tardia e tímida, enquanto a de Lula é vergonhosa e repete discurso do petista sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia | |
Declaração do Centro Carter (EUA) sobre violação da eleição na Venezuela coloca Brasil em posição diplomática complicada. | |
A sugestão de Lula de que a oposição venezuelana recorra à justiça é encarada como piada, pois a mesma é considerada como aparelhada pelo chavismo; com a posição de Lula, o Brasil corre risco de ser isolado externamente |
Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[3]
Nesta semana, a imprensa ampliou o tom crítico contra o Governo Federal. O Globo e Estadão priorizaram as abordagens desfavoráveis nas chamadas de capa, nas colunas e nos editoriais. Já a Folha concentrou peças contrárias nas chamadas de capa e nos editoriais.
[3] Neste gráfico, vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que apresentam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.
Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal
Em julho, o Estadão finalizou como o periódico mais negativo, com IV de -1,31, seguido pelo Globo, com – 1,00 e a Folha, com – 0,86. O IV total de julho até foi de – 1,05. O mês de agosto iniciou também com o Estadão como o jornal mais crítico a Lula com IV estratosférico de -9,00, seguido pela Folha com –4,00 e o Globo com -1,33. O IV total dos dois primeiros dias do mês foi de -3,50, o que indica para um recorde mensal de negatividade na série se esse tom se mantiver.
Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto
Esta semana, o Estadão citou Lula negativamente em 8 editoriais e 7 colunas. Já o Globo dividiu suas críticas ao presidente entre chamadas e colunas. Na Folha, o destaque desfavorável foi distribuído nas chamadas de capa, editoriais e colunas.
A análise dos três jornais na semana novamente volta a demonstrar aguda falta de pluralismo interno e externo. A serie de relatórios do DONI revela padrões temáticos de orientação desses periódicos. Entre eles, os mais proeminentes são a defesa de uma concepção ortodoxa da economia, também chamada de fiscalista ou neoliberal, e a adoção de uma concepção de política externa brasileira de alinhamento automático com os interesses e posições dos EUA. Na semana que passou, os dois grandes temas estavam presentes, o que resultou em grande aumento da negatividade, que já vinha forte.
Em suma, a análise dos diferentes formatos de textos em cada jornal revela forte falta de pluralismo interno, e a comparação entre os perfis de posicionamento de cada jornal demonstra flagrante falta de pluralismo externo.
Para baixar o nosso relatório, clique aqui.
DONI
O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.
Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.
Apoio:
[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.
[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.
[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.