O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

Parceria

PNR – Edição Especial: Ministérios

A presença dos ministérios nas redes sociais

PRINCIPAIS DESCOBERTAS


Ministério da Saúde como “ponto fora da curva”: o Ministério da Saúde não apenas realizou um número significativo de postagens, mas também superou todas as expectativas em termos de interações, destacando-se como o principal outlier entre os ministérios.

Eficácia das postagens ao longo do tempo: embora o volume de postagens dos ministérios tenha se mantido estável ao longo do tempo, a eficácia das postagens — medida pela taxa de interações por postagem — mostrou uma variação significativa. O pico de interações ocorreu no início do governo, sugerindo um forte interesse inicial do público, seguido por uma queda e uma recuperação parcial em 2024.

Interações por ministério e partido: houve variações nas interações de acordo com o partido do titular da pasta. Ministérios comandados pelo PT, por exemplo, mantiveram um nível estável de interações, enquanto ministérios liderados pelo Republicanos, Rede e MDB mostraram picos específicos de engajamento, muitas vezes relacionados a eventos ou campanhas.

1. Introdução

As análises da política nas redes sociais tendem a focar em políticos que movimentam a opinião pública ou páginas dos grandes partidos. No entanto, os ministérios, entidades centrais para funcionamento do governo e na implementação das políticas públicas, foram pouco examinados em seu aspecto comunicacional. É o que faremos neste relatório.

Para isso, analisamos dados de postagens no Facebook de páginas ligadas aos ministérios no período de janeiro de 2023, início do atual governo, até junho de 2024. Os dados foram coletados por meio do CrowdTangle, uma ferramenta da Meta que permite explorar conteúdo público nas redes sociais que, desde agosto de 2024, não está mais disponível. Mesmo assim, nossos dados permitem uma análise temporal do fluxo de postagens e interações, bem como a comparação entre ministérios.

O texto está assim organizado: a seguir descrevemos a coleta de dados; na terceira seção, tratamos das interações e postagens ao longo do tempo; na seção quatro, a diferença entre ministérios; na seção cinco, a diferença de repercussão por partido; por fim, tecemos alguns comentários a título de conclusão.

2. Coleta de Dados

Neste relatório, olhamos para as interações e número de postagens de páginas ministeriais. Uma interação ocorre sempre que um usuário do Facebook curte, comenta, compartilha ou reage de alguma forma a uma postagem. Assim, é uma boa medida para a repercussão gerada pelas publicações ministeriais nas redes.

Selecionamos apenas as páginas oficiais de 27 ministérios[i]. Aqueles com maior presença digital.

Atualmente, o governo federal se estrutura em 39 pastas ministeriais, sendo 31 ministérios, quatro secretarias e quatro órgãos equivalentes a ministérios. No início do governo, eram 37 pastas ministeriais, mas, ao longo de 2023 e 2024, foram criados o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; e, após a tragédia no Rio Grande do Sul, a Secretaria Extraordinária da Presidência da República de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul. No total, trabalhamos com dados por mês, para os 27 ministérios, o que totaliza 486 observações.


[i] Direitos Humanos e Cidadania, Ministério da Agricultura e Pecuária – Mapa, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério da Cultura, Ministério da Defesa, Ministério da Educação, Ministério da Fazenda, Ministério da Igualdade Racial, Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ministério da Previdência Social, Ministério da Saúde, Ministério das Cidades, Ministério das Comunicações, Ministério das Mulheres, Ministério das Relações Exteriores, Ministério de Minas e Energia, Ministério de Portos e Aeroportos, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Ministério do Desenvolvimento Social – MDS, Ministério do Esporte, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério do Turismo, Ministério dos Povos Indígenas, Ministério dos Transportes, SecomVc.

3. As interações em postagens dos Ministérios

O primeiro dado que observamos é o total de interações e o total de postagens ao longo do período analisado. O total de postagens se mantém estável. Em média, os ministérios fazem mais de 1.100 postagens por mês. As interações, porém, variam. Até junho de 2023, o total de interações nas páginas dos ministérios era de mais de 300 mil. Houve queda até o final do ano e retomada em 2024.

Figura 1. Total de postagens e interações dos ministérios ao longo do tempo

Calculamos também uma métrica alternativa de repercussão, dividindo o total de interações pelo total de postagens em cada mês, como forma de mensurar a efetividade das postagens a cada mês. Os valores, expostos na figura 2, indicam a mesma tendência.

Figura 2. Eficácia das postagens dos ministérios (interações por postagem)

De modo geral, as páginas dos ministérios tiveram um pico de interações no início do mandato. Isso pode refletir o furor inicial dos primeiros meses de um novo governo que, à medida que o mandato avança, vai abrandando. Há recuperação em março de 2024, mas ainda assim, longo da repercussão dos primeiros meses.

4. As diferenças entre os Ministérios

Mas e quais são as diferenças entre os ministérios? Algum se destaca em termos de mobilização nas redes? A Figura 3 mostra o ranking dos ministérios na soma de posts e interações. Educação, Saúde, Turismo, Justiça e Ciência e Tecnologia são os maiores “postadores”. Em termos de interações, o Ministério da Saúde domina o ranking por larga margem. O Ministério da Educação também se destaca e, depois dele, há uma queda grande com as outras páginas com um número de interações em um patamar muito mais baixo.

Figura 3.Ranking de ministérios por número de postagens e interações

Na figura 4, plotamos a relação entre número de posts e interações. Calculamos o coeficiente de correlação de Pearson para estimar a associação entre as duas variáveis.  O valor de r² = 0,71 indica correlação forte entre as duas variáveis. Isto é, quanto mais postagens, mais interações. Vemos também que o Ministério da Saúde aparece como um outlier (um caso extremo) distante em termos da mobilização que gera com seus posts. Em outras palavras, a repercussão dos posts do Ministério é maior que a esperado, dado o número de posts.

Figura 4 – Relação entre número de postagens e interações por ministério

5. Ministérios por partidos

Também pode ser revelador olhar para as interações pela lente partidária. Na Figura 5, analisamos a distribuição da média de interações por postagens dos ministérios, categorizando os partidos que os comandam. Utilizamos a média e não a soma, porque há grandes diferenças entre o número de ministérios ocupados por partido. Enquanto o PT comanda 13 das 39 pastas ministeriais, PP, PSOL, PCdoB, PDT e Republicanos comandam apenas uma.

Os valores indicam estabilidade ao longo do período para maioria dos partidos. Alguns picos são registrados para as pastas ocupadas pelo Republicanos, Rede e MDB. No caso do Republicanos, o pico se dá no período das enchentes no Rio Grande do Sul. O partido ocupa o ministério de Portos e Aeroportos e teve maior engajamento em postagens sobre o aeroporto Salgado Filho, na capital gaúcha, tratando do seu fechamento e posterior perspectiva de abertura. No caso da Rede, comandando o Ministério do Meio-Ambiente, o pico de engajamento se deu no início do governo, em meio a medidas que retomavam a capacidade da pasta em combater o desmatamento (em comparação ao governo anterior). No caso do MDB, o pico se dá em maio de 2024. Isso se explica pelo lançamento, por parte do Ministério dos Transportes, da campanha Maio Amarelo, para a promoção da paz no trânsito.

Figura 5. Interações por ministério, categorizadas por partido

6. Conclusões

Este estudo analisou as interações nas redes sociais dos ministérios do executivo federal no período de janeiro de 2023 a junho de 2024, focando nas dinâmicas de postagens e engajamento do público. Observamos que, enquanto o número de postagens dos ministérios permaneceu estável ao longo do tempo, as interações flutuaram de forma significativa, com um pico no início do governo e uma recuperação parcial em março de 2024. O Ministério da Saúde destacou-se como o principal mobilizador de interações, sendo um ponto fora da curva em termos de engajamento, enquanto outros ministérios, como Educação e Justiça, também geraram um volume significativo de interações, mas proporcional ao número de postagens que fizeram.

A análise também mostrou que o partido que lidera o ministério parece não influenciar diretamente o nível de interações, mas sim campanhas e acontecimentos específicos que ativam o interesse público pelo respectivo ministério, como por exemplo, os picos de engajamento nas páginas dos ministérios comandados pelo Republicanos e Rede.

Os próximos passos desta pesquisa incluem a análise do comportamento dos ministros nas redes sociais, com foco na maneira como seus perfis individuais e suas estratégias de comunicação podem impactar o engajamento e a disseminação de políticas públicas.

Para baixar o nosso relatório, clique aqui.

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