DONI # 92 – 25 a 31 de Janeiro de 2025
No DONI semanal são examinados os textos que citam o governo federal, o presidente Lula ou algum personagem ou instituição do Executivo, publicados nos jornais O Globo, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo. A análise abrange manchetes, chamadas de capa, artigos de opinião, colunas e editoriais[1].
[1] Páginas 2, 3 e 4, da Folha de S.Paulo, e páginas 2 e 3, dos jornais O Globo e Estado de S.Paulo.
PRINCIPAIS DESCOBERTAS
Posicionamento Editorial: O Estadão mantém-se como o veículo mais crítico ao governo e a Lula, com um Índice de Valência (IV) consistentemente negativo.
Governo Federal: As falas de Kassab sobre o governo foram valorizadas pela imprensa. Já a possibilidade de Gleisi Hoffmann se tornar ministra não foi bem recebida pelos jornais.
Brasileiros algemados: Os textos ressaltam o posicionamento do governo de cautela no caso dos brasileiros que chegaram algemados ao país. Para os jornais, a reação dos EUA à Colômbia, que se negou a receber o avião com deportados, mostrou que a decisão do Brasil foi acertada.
Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[2]

O mês de janeiro termina com o Estadão como o mais desfavorável, com IV[1] de – 1,37, seguido pelo Globo, com – 1,07, e pela Folha, com – 0,84. O IV de janeiro foi de – 1,08.
[2] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações do presidente ou do Governo Federal em diferentes áreas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente é retratado é negativa ou desfavorável.
[3] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual “F” é o n° de favoráveis, “C”, o n° de contrárias, “A”, o n° de ambivalentes e “N”, o n° de neutras.
Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal e de Lula

Nesta semana, a imprensa repercute as declarações de Gilberto Kassab contra o ministro Fernando Haddad (Fazenda) e o governo Lula. Os jornais destacam as críticas à fragilidade do governo e a falta de favoritismo de Lula para 2026. Ainda criticam a possibilidade de Gleisi Hoffmann se tornar ministra, avaliando a medida como contraproducente.
O segundo assunto mais abordado foi a política fiscal. Os jornais priorizam afirmações de Lula sobre prudência para evitar problemas em relação aos alimentos e a redução das críticas ao BC. As publicações culpam os supostos gastos exorbitantes do governo que teriam desencadeado a necessidade de nova elevação juros e inflação alta.
Finalmente, a condução das Relações Exteriores esteve no debate. Os periódicos elogiam a atuação do governo brasileiro após o início do processo de deportação de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos, e o uso de algemas no voo de volta ao país. Para os jornais, a diplomacia brasileira acertou na cautela, diferentemente do que fez o governo colombiano.
Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[4]

Nesta semana, a imprensa manteve o tom negativo costumeiro da cobertura. O Estadão novamente apresentou posicionamento desfavorável prioritariamente nos editoriais — foram dez, no total. A Folha priorizou as chamadas negativas, com dez edições. Finalmente, o Globo trouxe como destaque negativo também as chamadas de capa, com oito textos.
[4] Neste gráfico, vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na seção de opinião, por meio de colunistas e artigos de convidados.
Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal

Em janeiro, o Estadão continua como o jornal mais crítico a Lula, com IV de -2,03, marca mais negativa desde outubro de 2024, seguido pelo Globo, com – 1,14, e a Folha, com -1,00. O IV total de janeiro foi de – 1,34.
Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

Os jornais distribuíram matérias desfavoráveis a Lula por todos os formatos. O Estadão focou as críticas ao presidente nos editoriais — com 11 textos contrários – e nas chamadas. O Globo, por sua vez, fez coisa similar, mas priorizando as chamadas desfavoráveis, 10 no total, seguidas por 4 editoriais de mesmo viés. Na Folha, editoriais e chamadas desfavoráveis empataram em 4.
Em resumo, a análise dos textos temáticos dos jornais brasileiros revela uma contínua abordagem negativa, com destaque para o Estadão. Os outros dois periódicos, contudo, também apresentam viés fortemente negativo.
A falta de pluralismo interno dos jornais é patente: em toda a semana codificamos somente um texto positivo, uma manchete da Folha de S.Paulo, de resto predominaram as matérias desfavoráveis em cada jornal. Quando vistos em conjunto, somos forçados a concluir que não há pluralismo externo tampouco, pois os textos negativos, sejam em relação ao Governo Federal ou a Lula, predominam fortemente nos três jornais.
As três publicações priorizam a discussão sobre ações do governo e as eleições de 2026. As declarações de Kassab sobre as eleições presidenciais receberam ampla repercussão e destaque. Na economia, o ano mudou, mas a narrativa que acusa o governo de gastador e pede mais rigor fiscal continua a mesma. Quanto às Relações Exteriores, os jornais elogiam o governo por não criar uma crise diplomática com os Estados Unidos, após o início da deportação em massa de imigrantes, como ocorreu com a Colômbia.
Evidência mais contundente de falta de pluralismo externo, que vai além da medida das valências, é o fato de os jornais agendarem os mesmos três temas e se posicionarem de maneira idêntica em relação a eles.
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DONI
O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.
Apoio:
[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.
[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.
[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.