PNR #046 – “Mulher bonita”
O relatório tem como objetivo compreender a repercussão nas redes sociais das declarações do presidente Lula sobre a ministra Gleisi Hoffmann, durante sua nomeação. A análise incide sobre as páginas públicas que compartilharam posts, entre os dias 11 de março a 11 de abril, filtradas pelos termos de busca “Lula mulher bonita | Gleisi”, em publicações que obtiveram destaque no Brasil. A coleta de dados foi realizada por meio da plataforma SOMAR, nas bases do Facebook e do Instagram.
O relatório está dividido em três seções: análise de dados do Facebook, análise de dados do Instagram e conclusões
PRINCIPAIS DESCOBERTAS
Esquerda: A declaração de Lula é considerada inadequada, mas relativizada devido a sua trajetória de apoio às pautas femininas. Gleisi é defendida como articuladora política competente e vista como alvo de ataques misóginos por parte da oposição.
Direita: O discurso é explorado como uma evidência de machismo no governo petista, com objetivo de desgastar a imagem de Lula. Já Gleisi é retratada como símbolo de aparelhamento político e porta-voz de uma narrativa para blindar o poder de críticas.
1. FACEBOOK
Tabela 1. Dados Gerais
Publicações | 2.950 |
Total de páginas que postaram | 896 |
Interações | 2.552.830 |
Tabela 2. Total de interações por tipo de publicação nos 20 perfis com maior número de interações
Ideologia | Perfil | Link | Fotos | Video | Total Geral |
Imprensa | cnnbrasil | 129.580 | 18.923 | 148.503 | |
Direita | Poder360 | 139.721 | 204 | 139.925 | |
Direita | gazetadopovo | 18.329 | 69.878 | 3.493 | 91.700 |
Esquerda | ABC do ABC | 91.614 | 91.614 | ||
Direita | jornaldadireitaonline | 55.701 | 983 | 56.684 | |
Imprensa | Estadão | 48.605 | 48.605 | ||
Imprensa | O Globo | 48.158 | 48.158 | ||
Direita | ZambelliOficial | 17.006 | 30.445 | 47.451 | |
Imprensa | Jovem Pan News | 47.451 | 47451 | ||
Direita | SBT News | 46.465 | 46.465 | ||
Direita | Portal do Marcos Santos | 46.402 | 46.402 | ||
Imprensa | Jornal O Dia | 46.005 | 46.005 | ||
Imprensa | BNews | 45.960 | 45.960 | ||
Direita | Ecos da Notícia | 45.877 | 45.877 | ||
Direita | Correio Braziliense | 45.853 | 45.853 | ||
Direita | Vista Pátria | 45.848 | 45.848 | ||
Imprensa | Valor Econômico | 45.810 | 45.810 | ||
Esquerda | Dilma Resistente | 45.792 | 45.792 | ||
Imprensa | Portal Norte | 45.790 | 45.790 | ||
Imprensa | Candeias Mix | 45.790 | 45.790 |
Ao observarmos a cobertura, notamos que a direita conquistou o maior número de páginas e de reações às publicações. Foram nove perfis deste campo, contra duas de esquerda. Em relação a reações, foram 566.205 interações nas páginas de direita, contra 137.406 nas páginas de esquerda.
Figura 1. Total de interações por tipo de perfil nos 20 perfis com maior número de interações

Figura 2. Clusters das publicações sobre o tema

A análise dos clusters de textos agrupados por similaridade temática e semântica revela um panorama político fortemente polarizado em torno da atuação da ministra Gleisi Hoffmann e, particularmente, em relação à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao chamá-la de “mulher bonita” durante sua nomeação. Essa fala gerou intensa repercussão política e midiática, sendo apropriada por diferentes grupos com leituras ideologicamente opostas.
Espectro da Esquerda Política
Clusters como 0, 1, 2, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 17, 18 e 19 apresentam uma abordagem predominantemente associada ao campo progressista, alinhada ao governo Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT). Nestes grupos, a narrativa gira em torno da defesa de Gleisi Hoffmann, como figura-chave na articulação política do governo, bem como das críticas à misoginia estrutural e ataques misóginos, sobretudo da oposição bolsonarista.
Embora análises nesses clusters defendam o presidente, enaltencendo sua trajetória política de apoio às mulheres, a declaração de Lula é frequentemente classificada como inadequada e interpretada como um sintoma da cultura política machista. Gleisi, por sua vez, é retratada como alguém que tenta minimizar a polêmica para manter o foco nas pautas institucionais e econômicas, como a reforma tributária, o combate à tentativa de anistia para golpistas e a articulação no Congresso.
Além disso, os textos alinhados à esquerda denunciam estratégias da oposição para distorcer declarações, com o objetivo de enfraquecer o governo, destacando também o papel da mídia e das redes sociais nesse processo.
Espectro da Direita Política
Clusters como 3, 6, 7 e 8 apresentam uma perspectiva mais crítica ao governo e a Gleisi Hoffmann, com foco em polêmicas como a declaração sobre as mulheres, e a suposta promoção pessoal de figuras do governo. A ministra é retratada como símbolo de aparelhamento político e suas ações são vistas como tentativas de controlar o discurso e blindar o governo contra críticas legítimas.
Estes grupos também amplificam a fala de Lula como machista, não com o objetivo de defender o feminismo, mas como uma forma de minar a autoridade do presidente e gerar desgaste institucional. É possível identificar uma instrumentalização da pauta de gênero por setores que, normalmente, não demonstram engajamento consistente com questões feministas, mas que aproveitam a ocasião para enfraquecer o governo.
Cluster 8, por exemplo, aborda o comportamento de figuras bolsonaristas, com publicações de Gustavo Gayer e Eduardo Bolsonaro, em tom acusatório, mas com nuances irônicas, sugerindo que críticas ao governo fazem parte de uma disputa de poder e não de princípios democráticos.
Clusters Técnicos e Neutros
Clusters como 4, 5 e 9 tratam de temas administrativos e institucionais com menor carga ideológica. São mais descritivos, mencionando ações do governo e mudanças ministeriais, como a nomeação de Pedro Lucas Fernandes. Embora mencionem a declaração de Lula ou a atuação de Gleisi, o fazem de forma mais neutra, sem juízo explícito de valor.
2. INSTAGRAM
Tabela 3. Visão geral dos dados
Publicações | 2.449 |
Total de páginas que postaram | 1.026 |
Interações | 4.125.454 |
Tabela 4. Top 20 perfis com maior número de interações
Orientação ideológica | Perfil | Total de Curtidas | Total de Comentários | Total de Interações |
Imprensa | globonews | 48.511 | 205.484 | 253.995 |
Imprensa | metropolespolitica | 35.196 | 117.757 | 152.953 |
Direita | gazetadopovo | 20.486 | 101.013 | 121.499 |
Direita | gusgayer | 8.426 | 101.920 | 110.346 |
Direita | revistaoeste | 11.723 | 97.354 | 109.077 |
Direita | canal_patriota | 15.460 | 83.746 | 99.206 |
Direita | conexaopoliticabrasil | 13.764 | 70.227 | 83.991 |
Esquerda | icl.noticias | 2.614 | 80.141 | 82.755 |
Direita | plenonews | 17.558 | 64.915 | 82.473 |
Direita | brunozambelli.sp | 3.434 | 71.929 | 75.363 |
Direita | carla.zambelli | 5.658 | 68.676 | 74.334 |
Direita | felipecamozzato | 3.552 | 68.931 | 72.483 |
Direita | paulosouza.oficial | 2.592 | 68.654 | 71.246 |
Direita | deltandallagnol | 8.798 | 60.950 | 69.748 |
Direita | jovempannews | 16.898 | 45.870 | 62.768 |
Esquerda | revistaforum | 4.734 | 54.866 | 59.600 |
Direita | mauriciodovolei | 3.053 | 56.282 | 59.335 |
Direita | marco.antonio.costa | 3.417 | 55.062 | 58.479 |
Direita | firminocortada | 3.418 | 49.639 | 53.057 |
Direita | biakicis | 1982 | 50.466 | 52.448 |
No Instagram, a direita também venceu a disputa, com 16 perfis, contra dois da esquerda. No total de interações (Figura 3), a vantagem também é para o campo da direita, com 1.255.853 interações, contra 142.355 da esquerda. As páginas de esquerda ficaram atrás até mesmo das de imprensa.
Figura 3. Total de interações por tipo de perfil nos 20 perfis com maior número de interações

Figura 4. Clusters das publicações sobre o tema

A análise dos clusters de textos, agrupados por similaridade temática e semântica, revela um panorama político fortemente polarizado em torno da atuação da ministra Gleisi Hoffmann e, particularmente, em relação à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao chamá-la de “mulher bonita”, durante sua nomeação. O discurso gerou intensa repercussão política e midiática, sendo apropriado por diferentes grupos com leituras ideologicamente opostas.
Espectro da Esquerda Política
Os clusters 0, 1, 2, 5, 6 e 8 apresentam uma abordagem predominantemente associada ao campo progressista, alinhado ao governo Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT). Nestes grupos, a narrativa gira em torno da defesa de Gleisi Hoffmann como figura-chave na articulação política do governo, bem como das críticas à misoginia estrutural e ataques ofensivos direcionados à ministra, principalmente oriundos de parlamentares bolsonaristas.
Nestes clusters, a declaração de Lula, embora considerada inadequada, é tratada de forma compreensiva, sendo relativizada por parte dos textos que destacam o histórico do presidente no apoio à participação feminina na política. Em vez de uma condenação contundente, há um esforço por parte desses grupos em reduzir o impacto da frase e preservar a imagem do governo. Gleisi, nesse contexto, é retratada como uma agente política pragmática, que tenta conter a crise discursiva para manter o foco em reformas estruturais e negociações no Congresso Nacional.
Além disso, esses textos frequentemente apontam que a polêmica foi amplificada por setores da oposição e por veículos de mídia, interessados em enfraquecer o governo. O episódio é descrito como uma tentativa de manipulação simbólica por parte dos adversários políticos, que exploram trechos fora de contexto para promover narrativas desfavoráveis à gestão federal. Assim, a defesa de Gleisi é também uma crítica à desinformação e à espetacularização do debate público nas redes sociais.
Espectro da Direita Política
Os clusters 3, 7 e 8 revelam uma perspectiva crítica ao governo federal, especialmente no que diz respeito à atuação de Gleisi Hoffmann e à declaração de Lula. Estes grupos assumem um tom mais incisivo, usando a polêmica declaração do presidente como prova de uma suposta incoerência entre o discurso progressista e as práticas do governo. A fala de Lula é amplamente explorada como machista e incompatível com os valores que o PT alega defender.
Nesses clusters, a crítica à ministra também é comum. Gleisi é retratada como símbolo do aparelhamento do Estado e de um governo que privilegia lealdade política em detrimento de competência técnica. As ações da ministra são enquadradas como parte de uma estratégia para centralizar o poder e blindar o governo de questionamentos, inclusive sobre políticas públicas como o “empréstimo Lula”, que é alvo de críticas por suposta propaganda enganosa.
É interessante notar que, apesar de trazerem à tona a questão de gênero, esses clusters não demonstram preocupação genuína com o feminismo ou os direitos das mulheres. O uso da pauta é instrumental: serve para atacar o governo, e não para propor uma reflexão sobre desigualdade de gênero ou representatividade. Cluster 8, por exemplo, adota um tom irônico, ao mencionar as críticas contra bolsonaristas, sugerindo que há uma hipocrisia nos discursos da esquerda.
Clusters Técnicos e Neutros
Os clusters 4 e 9 apresentam uma abordagem mais neutra e descritiva, voltada para aspectos institucionais e administrativos do governo federal. Nesses textos, o foco está nas mudanças ministeriais, articulações no Congresso e discussões sobre reformas e políticas públicas, como a PEC da Segurança Pública e a sucessão na presidência do PT. Gleisi Hoffmann é retratada como uma figura de articulação política, com atenção aos seus movimentos estratégicos, mas sem ênfase nas controvérsias discursivas.
Nesses clusters, a declaração de Lula pode ser mencionada, mas sem destaque ou julgamento. O interesse está mais voltado à dinâmica entre Executivo e Legislativo, às negociações partidárias e ao equilíbrio de forças dentro do governo. A linguagem tende a ser técnica, jornalística ou institucional, interessada em informar mais do que opinar.
3. CONCLUSÕES
A declaração de Lula, ao se referir à Gleisi Hoffmann como uma “mulher bonita”, foi catalisadora de debates que transcendem o episódio em si, expondo tensões ideológicas profundas no cenário político brasileiro. Enquanto setores progressistas reconhecem a inadequação da fala, mas enfatizam a trajetória e competência da ministra, grupos conservadores usam o episódio para fragilizar o governo, muitas vezes desconsiderando o contexto ou a complexidade das relações de poder envolvidas.
A organização dos clusters reflete esse embate discursivo e ideológico: de um lado, observa-se a tentativa de defesa institucional e de humanização de figuras políticas femininas alvos de ataques; de outro, uma crítica estratégica que busca enfraquecer a base governista por meio do uso pontual de argumentos morais como instrumento de disputa política.
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Expediente
O POLÍTICA NAS REDES publica estudos temáticos sobre o debate política nas redes sociais produzidos pela equipe do Manchetômetro, no âmbito do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.
Como os demais projetos do LEMEP, o POLÍTICA NAS REDES conta com o apoio do INCT – Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação.
Apoio:
[1] Utilizamos o número atribuído pelo Crowdtangle. De forma simples, performance é definida dividindo-se as interações obtidas pelas interações esperadas. O número de interações esperadas é igual à média de interações obtidas nos últimos 100 posts. Para mais, ver: https://help.crowdtangle.com/en/articles/2013937-how-do-you-calculate-overperforming-scores