DONI # 105 – 26 de Abril a 02 de Maio de 2025
No DONI semanal são examinados os textos que citam o governo federal, o presidente Lula ou algum personagem ou instituição do Executivo, publicados nos jornais O Globo, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo. A análise abrange manchetes, chamadas de capa, artigos de opinião, colunas e editoriais [1].
[1] Páginas 2, 3 e 4, da Folha de S.Paulo, e páginas 2 e 3, dos jornais O Globo e Estado de S.Paulo.
PRINCIPAIS DESCOBERTAS
Crise continua: Os jornais abrem espaço para desdobramentos e descobertas da PF sobre as fraudes no INSS. No enredo da cobertura, nem mesmo o novo ministro da SECOM salvará a imagem do governo desta vez.
Política Fiscal: Os textos defendem que o governo deveria auxiliar o BC e sua política monetária para desacelerar a economia. As publicações pontuam que o ministro da Economia estaria insatisfeito com o aumento dos gastos de outros ministérios.
Posicionamento Editorial: A Folha acentuou a cobertura contrária ao governo, batendo o recorde de negatividade da série histórica do Governo Federal. Os outros jornais também intensificaram a cobertura negativa.
Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[2]
O mês de abril termina com a Folha como jornal mais desfavorável, com IV[1] de – 2,40, seguida pelo Estadão, com – 2,22, e pelo Globo, com – 1,39. O IV de abril foi de – 1,92, o mais negativo do governo desde 2023. Maio, por sua vez, começa ainda mais negativo para o governo. A Folha continua como o periódico mais negativo, com IV extremamente contrário de – 6,00, seguida pelo Estadão, com – 4,50, e o Globo, com – 3,00. O IV de maio nos dois primeiros dias do mês foi de -4,00.
[1] Páginas 2, 3 e 4, da Folha de S.Paulo, e páginas 2 e 3, dos jornais O Globo e Estado de S.Paulo.
[2] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações do presidente ou do Governo Federal em diferentes áreas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente é retratado é negativa ou desfavorável.
[3] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual “F” é o n° de favoráveis, “C”, o n° de contrárias, “A”, o n° de ambivalentes e “N”, o n° de neutras.
Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal e de Lula
Nesta semana, o principal tema novamente foi a investigação da Polícia Federal sobre um esquema de descontos irregulares nas folhas de pagamento dos beneficiários do INSS. Os jornais destacam os desdobramentos sobre a fraude. Os textos ressaltam que nem mesmo as estratégias do ministro da Secom serão suficientes para reverter a crise na imagem do governo.
O segundo assunto mais abordado foi a composição do governo federal e articulação com aliados. Os jornais reforçam a crítica às escolhas de Lula para o primeiro e segundo escalão do Executivo. Dizem que faltam critérios transparentes para justificar as escolhas do presidente, especialmente para compor os conselhos das estatais. Os textos ainda afirmam que Lula não tem participado presencialmente dos encontros com aliados, e que a nova federação União Brasil-PP tornou o trabalho do governo ainda mais árduo.
Finalmente, foi o terceiro assunto da semana foi a Política Fiscal. Os periódicos reforçam críticas à condução das contas públicas, destacando que o governo deveria auxiliar o BC e sua política monetária para desacelerar a economia. Segundo os jornais, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem alertado para as despesas de outros ministérios. Deste modo, destacam que o arcabouço fiscal já nasceu fadado ao fracasso.
Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[4]
Nesta semana, a imprensa intensificou seu tom desfavorável. O Estadão priorizou posicionamento negativo nos editoriais— foram oito, no total, assim como na semana passada. A Folha e O Globo apresentaram as chamadas negativas, com dez e sete edições, respectivamente.
[4] Neste gráfico, vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na seção de opinião, por meio de colunistas e artigos de convidados.
Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal
Em abril, o Estadão foi o jornal mais crítico a Lula, com IV de -2,38, seguido pelo Globo, com – 1,78, e a Folha, com -1,38. O IV total de abril foi de – 1,74, o segundo mais negativo do ano de 2025, atrás apenas de fevereiro, e o quinto colocado na série histórica desde 2023. Maio começa especialmente negativo, com o Estadão como o mais desfavorável ao presidente, com IV de – 6,00, seguido pela Folha, com – 4,00, e O Globo, com IV de – 1,75. O IV dos dois primeiros dias de maio foi de – 3,40.
Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto
O Estadão focou as críticas ao presidente nos editoriais — com 7 textos contrários. O Globo, por sua vez, apresentou posicionamento desfavorável a Lula em colunas, com sete publicações negativas. Na Folha, os artigos de opinião concentraram cinco menções contrárias ao presidente.
Em resumo, a análise dos textos temáticos dos jornais brasileiros sobre o governo Lula revela uma contínua abordagem negativa, com destaque para o Estadão, na cobertura contrária ao presidente Lula e ao governo.
Esta semana as três publicações continuam a discutir a proposta de política fiscal do governo. A narrativa dos jornais de que o Executivo não apoia o BC no processo de desacelerar a economia é retomada e fortalecida com afirmações de que Haddad estaria incomodado com o aumento dos gastos de outros ministérios. A composição do governo também é um dos principais temas da semana. Os jornais pontuam que não há justificativa para as escolhas do presidente para os conselhos das estatais e que isso prejudica o país. Finalmente, a crise no INSS foi novamente um tema importantíssimo. O desdobramento das investigações da Polícia Federal e os reflexos da crise na imagem do governo foram recorrentemente explorados.
Os jornais parecem ter subido um grau nas críticas, que já eram intensas. A Folha de S.Paulo passou a liderar no tratamento negativo do Governo Federal e o Estadão continua sendo o mais avesso a Lula. O mais importante é notar que a falta de pluralidade interna e externa dos jornais continua sem dar sinal de trégua. Os jornais não somente têm linhas editoriais muito parecidas, particularmente no que toca a defesa de um modelo fiscalista de política econômica, como continuam a contratar colunistas e articulistas que fazem nada mais do que concordar com os editores, para perda geral da qualidade do debate público em nosso país.
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DONI
O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.
Apoio:
[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.
[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.
[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.
