DONI # 109 – 24 a 30 de Maio de 2025
No DONI semanal, são examinados os textos que citam o governo federal, o presidente Lula ou algum personagem ou instituição do Executivo, publicados nos jornais O Globo, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo. A análise abrange manchetes, chamadas de capa, artigos de opinião, colunas e editoriais [1].
[1] Páginas 2, 3 e 4, da Folha de S.Paulo, e páginas 2 e 3, dos jornais O Globo e Estado de S.Paulo.
PRINCIPAIS DESCOBERTAS
IOF: A decisão do governo de implementar uma nova alíquota sobre o imposto foi duramente criticada. A imprensa afirma que o governo emprega uma tática recorrente de propor projetos, que não são aprovados, só para depois tentar impor sua agenda novamente.
Desunião: Os textos destacam que o governo não tem atuado de forma coesa e unida. Para ilustrar a crítica, citam os ataques à Marina Silva e a falta de defesa de aliados políticos.
Posicionamento Editorial: O Estadão mantém-se como o veículo mais crítico a Lula, enquanto a Folha novamente fez a cobertura mais negativa do governo federal.
Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[2]

Ao final do mês de maio, a Folha mantém o papel de mais desfavorável, com IV[1] de – 2,77, seguida pelo Globo, com – 1,93, e pelo Estadão, com – 1,88. O IV de maio até o momento é de – 2,13, o mais negativo desde o início do governo, em 2023.
[1] Páginas 2, 3 e 4, da Folha de S.Paulo, e páginas 2 e 3, dos jornais O Globo e Estado de S.Paulo.
[2] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações do presidente ou do Governo Federal em diferentes áreas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente é retratado é negativa ou desfavorável.
[3] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual “F” é o n° de favoráveis, “C”, o n° de contrárias, “A”, o n° de ambivalentes e “N”, o n° de neutras.
Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal e de Lula

Nesta semana, o principal tema foi a Política Fiscal. As publicações enfatizam que o governo tem subestimado as despesas orçamentárias e superestimado as receitas, além de apresentar falhas na alocação e na execução dos recursos. Os jornais também apontam um padrão recorrente na atual do Executivo: com o lançamento de medidas, que diante da repercussão negativa e da pressão do Congresso, acabam sendo revistas ou retiradas.
O segundo assunto mais abordado foi o próprio governo federal. Os jornais retomam as críticas à falta de coesão interna e à ausência articulação dos ministérios, tendo como exemplo a flexibilização das regras ambientais. As declarações do presidente do União Brasil, com críticas diretas ao governo, foram reproduzidas para ilustrar a desarticulação dentro da base aliada.
O terceiro destaque da semana foi a Comissão de Infraestrutura do Senado. O embate entre a ministra Marina Silva e senadores continuou a gerar repercussão. Embora a imprensa tenha apontado falhas na atuação do governo e do presidente Lula em defender Marina, os periódicos classificaram como constrangedora a atuação dos membros da Comissão e destacaram o apoio da opinião pública à ministra.
Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[4]

Nesta semana, a imprensa intensificou seu tom desfavorável. O Estadão priorizou posicionamento negativo nos editoriais e nas chamadas, com seis em cada seção. A Folha e o Globo concentraram o tom contrário nas chamadas, com dez e doze textos, respectivamente.
[4] Neste gráfico, vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na seção de opinião, por meio de colunistas e artigos de convidados.
Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal

Em maio, o Estadão continua como o jornal mais crítico a Lula, com IV de – 2,95, seguido pela Folha, com – 2,00, e O Globo, com -1,70. O IV total de maio até o momento é de – 2,11, o segundo mais negativo da série histórica desde 2023.
Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

O Estadão focou as críticas ao presidente nos editoriais — com 7 textos contrários. O Globo, por sua vez, apresentou posicionamento desfavorável a Lula em colunas, com quatro publicações negativas em cada seção. Na Folha, os editoriais concentraram oito menções contrárias ao presidente.
Nesta semana, as três publicações continuaram a explorar a proposta de aumento da alíquota do IOF. A narrativa dos jornais é a de que o governo toma decisões equivocadas e, somente após a repercussão negativa, volta atrás. Os bastidores dos ministérios também ocupam o noticiário com foco na desarticulação política entre ministros e a base aliada. O caso dos ataques à Marina Silva na Comissão de Infraestrutura é empregado como exemplo de falhas na negociação.
A falta de pluralismo externo da imprensa brasileira, tantas vezes anotada nos DONIs, deixa uma dúvida sobre duas possíveis interpretações dos dados: (1) os jornais só agendam notícias que são potencialmente ruins para o Governo; ou (2) praticamente todas as notícias que agendam são enquadradas de modo desfavorável ao governo, deixando de lado interpretações alternativas dos fatos. Provavelmente, as duas práticas são altamente nocivas à boa saúde do debate público em nosso país.
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DONI
O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.
Apoio:
[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.
[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.
[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.