DONI # 72 – 07 a 13 de Setembro de 2024
No relatório DONI semanal, são analisados os textos que mencionam o Governo Federal, o presidente Lula ou figuras e instituições do Executivo publicados nos jornais O Globo, Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo. A análise abrange manchetes, chamadas de capa, artigos de opinião, colunas e editoriais[1]. Nesta semana, foram examinados 110 textos.
[1] Páginas 2, 3 e 4, da Folha de S. Paulo e páginas 2 e 3 dos jornais O Globo e Estado de S. Paulo.
Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[2]
O mês de setembro mantém o Estadão como o mais desfavorável, com Índice de Viés[3] (IV) de -2,7, seguido pelo Globo, com -0,87, e a Folha, com -0,80. O IV de setembro até o momento é de -1,25.
[2] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações do presidente ou do Governo Federal em diferentes áreas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente é retratado é negativa ou desfavorável.
[3] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual “F” é o n° de favoráveis, “C”, o n° de contrárias, “A”, o n° de ambivalentes e “N”, o n° de neutras.
Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal e de Lula
O Gráfico 2 apresenta os temas mais frequentes e suas valências agrupados por jornal, permitindo uma análise do agendamento de cada veículo. O destaque da semana é a cobertura do governo federal, abordando a demissão de Silvio Almeida, a política fiscal e a crise ambiental.
Os textos avaliaram positivamente a nota sobre a demissão do ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Silvio de Almeida (sem partido), que foi motivada por acusações de assédio moral e importunação sexual. Contudo, os jornais desaprovaram a resposta tardia do governo ao caso, uma vez que as acusações eram conhecidas há mais de um ano. Além disso, a indicação da deputada estadual Macaé Evaristo (PT-MG) para chefiar o MDHC gerou críticas devido a um processo por improbidade administrativa referente ao período em que atuou como secretária Municipal de Educação em Belo Horizonte.
O segundo tema mais debatido foi a política fiscal. Os jornais mantêm o posicionamento das últimas semanas: uma postura negativa em relação aos gastos públicos e uma visão positiva sobre os mecanismos de controle e redução de despesas, descritas como “gastança”. A proposta de simplificação do regime tributário apresentada pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB-MS), foi elogiada, assim como a disposição do Executivo de revisar benefícios a partir de 2025 também foi destacada de forma favorável.
Finalmente, a crise ambiental no país foi o terceiro assunto com maior recorrência. As queimadas em várias regiões geraram um consenso crítico entre os jornais, que esperavam ações mais eficazes da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), e do presidente Lula. As medidas adotadas foram consideradas desarticuladas e insuficientes, com a proposta de criação da Autoridade Climática sendo vista como uma tentativa ineficaz de autopromoção do presidente.
A análise dos temas abordados pelos jornais revela uma crítica renitente à gestão atual do governo federal, refletida em três áreas principais. A demissão do ministro Silvio de Almeida foi elogiada por alguns, que a viram como tempestiva, mas criticada por outros que a tomaram como tardia, além de criticarem a escolha de sua sucessora. Os jornais mantêm os julgamentos negativos à política fiscal com críticas aos gastos públicos e elogios às medidas de controle. Por fim, os jornais também cobraram ações mais eficazes na mitigação da crise ambiental.
Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[4]
A imprensa subiu o tom contra o Governo Federal esta semana. O Estadão apresentou posicionamento negativo em todos os tipos de texto, priorizando novamente as abordagens desfavoráveis nos editoriais: foram onze, no total. A Folha apresentou peças contrárias nas chamadas, colunas e nas manchetes. Por sua vez, O Globo trouxe textos contrários em todas as seções em que citou o governo, com proeminência nas chamadas de capa.
[4] Neste gráfico, vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que apresentam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.
Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal
Em setembro, o Estadão continua como o jornal mais crítico a Lula, com IV de -5,33, seguido pela Folha, com -1,75, e o Globo, com -1,25. O IV total de setembro é de -2,33.
Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto
Nesta semana, o Estadão citou o presidente negativamente em nove editoriais, quatro chamadas, quatro colunas e uma manchete. O Globo dividiu suas críticas nos mesmos tipos de texto, apenas em quantidades distintas: foram quatro editoriais, quatro chamadas, quatro colunas e uma manchete. Na Folha, o destaque desfavorável foi distribuído nas quatro chamadas de capa, três editoriais, duas manchetes e uma coluna. Houve ainda um artigo de opinião favorável a Lula, o único de toda a amostra contendo o conteúdo integral das 3 páginas principais dos 3 jornais.
A análise dos textos sobre os temas agendados revela que as três publicações descrevem um governo que frequentemente age de forma reativa e ineficiente, focando mais na imagem pública do que em ações concretas. Tanto no caso de Silvio Almeida quanto no combate às queimadas, os textos supõem lentidão e superficialidade nas medidas, sugerindo que estas visam a beneficiar principalmente a imagem de Lula, em vez de atacarem os problemas de maneira efetiva. Chegam até a argumentar que o comportamento de Lula comprometeria a percepção do governo como progressista.
Em relação à política fiscal, os jornais continuam a insistir que os gastos públicos são excessivos, insistentemente ignorando outras visões acerca da gestão econômica governamental que não a ortodoxa.
Continuamos a observar baixíssimo pluralismo interno nos três jornais, refletido, por exemplo, no balanço de valências dos diferentes tipos de texto: quase sempre o tom negativo impera e os textos opinativos e chamadas seguem a “orientação” dos editoriais. O pluralismo externo, se é que podemos empregar essa expressão, se resume a um espaço entre a total negatividade do Estadão, que se dedica diuturnamente a bombardear o governo e Lula, e os outros dois jornais que se revezam em um tratamento sempre desfavorável e com pouquíssimo espaço para opiniões alternativas a suas orientações editoriais.
Para baixar o nosso relatório, clique aqui.
DONI
O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.
Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.
Apoio:
[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.
[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.
[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.