DONI # 96 – 22 a 28 de Fevereiro de 2025
No DONI semanal, são examinados os textos que citam o governo federal, o presidente Lula ou algum personagem ou instituição do Executivo, publicados nos jornais O Globo, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo. A análise abrange manchetes, chamadas de capa, artigos de opinião, colunas e editoriais[1].
[1] Páginas 2, 3 e 4, da Folha de S.Paulo, e páginas 2 e 3, dos jornais O Globo e Estado de S.Paulo.
PRINCIPAIS DESCOBERTAS
Falta de “Cavalheirismo”: A forma como Lula conduziu a demissão da ministra da Saúde, Nísia Trindade, é considerada equivocada. Os jornais avaliam que a ex-ministra foi submetida a uma “fritura” e destacam descortesia do presidente em seu tratamento.
Vida Doméstica: Os textos também afirmam que Lula demonstra desinteresse pela vida política e se mostra mais entusiasmado com sua vida ao lado de Janja.
Posicionamento Editorial: Os principais jornais brasileiros de circulação nacional intensificaram a cobertura negativa em fevereiro, tornando o mês o terceiro mais desfavorável para o novo governo Lula.
Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[2]

O mês de fevereiro termina com uma cobertura extremamente desfavorável para o governo. O Estadão continua como o jornal mais crítico, com IV[1] de – 2,00, seguido pela Folha, com – 1,48, e pelo Globo, com – 1,33. O IV de fevereiro é – 1,57, o terceiro mais negativo na cobertura dos dois anos de análise do governo petista, perdendo apenas para março de 2023 e junho de 2024.
[2] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações do presidente ou do Governo Federal em diferentes áreas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente é retratado é negativa ou desfavorável.
[3] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual “F” é o n° de favoráveis, “C”, o n° de contrárias, “A”, o n° de ambivalentes e “N”, o n° de neutras.
Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal e de Lula

Nesta semana, o principal assunto da cobertura dos jornais foi o próprio governo Lula. Os jornais sugerem que existem rumores de que Lula não teria mais interesse na vida política e seu entusiasmo se concentra agora na vida doméstica ao lado de Janja. Os textos também criticam o uso da rede nacional de rádio e televisão em pronunciamento oficial do presidente para anunciar os programas Farmácia Popular e Pé-de-Meia.
O segundo tema mais abordado foi a reforma ministerial. Os jornais destacam a saída da ex-ministra Nísia Trindade, que teria sido “fritada” e submetida a constrangimentos antes de ser dispensada por Lula. Os periódicos destacam que Nísia nunca se apresentou como uma figura de perfil político e apontam falhas de Lula na mudança no Ministério da Saúde. Além das críticas ao presidente por seus maus modos na demissão de ministros, há menções elogiosas ao suposto “cavalheirismo” da gestão FHC.
Por fim, a possibilidade de exploração petróleo na margem equatorial também foi amplamente debatida. Os jornais criticam Lula, acusando-o de intransigência em relação ao tema e de tentar interferir em processos internos do Ibama. Apesar das críticas ao presidente, apontam que há um equívoco no debate: a ideia de que as sondas utilizadas pela Petrobras causariam devastação a Foz do Amazonas se espalhou, distorcendo a discussão.
Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[4]

Nesta semana, o Estadão distribuiu seu posicionamento negativo nos seus editoriais, chamadas e colunas, com seis, cinco e cinco, respectivamente. O Globo priorizou as colunas e as chamadas contrárias, com nove e sete textos de cada tipo, respectivamente. Já na Folha, as colunas e as chamadas foram as mais desfavoráveis, concentrando cinco textos cada uma, além de 3 editoriais e quatro manchetes. A cor vermelha domina claramente o gráfico.
[4] Neste gráfico, vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na seção de opinião, por meio de colunistas e artigos de convidados.
Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal

O mês de fevereiro começa com uma cobertura extremamente desfavorável para Lula. O Estadão continua como o veículo mais contrário ao presidente, com IV de – 2,50, seguido pela Folha, com – 1,74, e pelo Globo, com – 1,47. O IV de fevereiro foi de – 1,87, o terceiro IV mais negativo do período Lula 3.
Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

O Estadão espalhou as críticas ao presidente nos editoriais, chamadas e colunas, com seis textos contrários em cada seção. O Globo, por sua vez, adotou um posicionamento desfavorável a Lula em chamadas, com nove publicações negativas. Na Folha, as colunas e os editoriais registraram cinco menções contrárias cada.
Em síntese, a análise dos textos temáticos dos jornais brasileiros sobre o governo Lula evidencia uma abordagem predominantemente crítica, com destaque para o Estadão. A cobertura se intensificou, adotando um tom mais rígido, e fez de fevereiro o terceiro mês com maior volume de conteúdo negativo direcionado ao presidente e à sua gestão.
As três publicações concentraram-se em Lula e suas decisões. A demissão de Nísia Trindade, marcada pelo que classificaram de “maus modos” do presidente, e rumores de que ele estaria mais interessado na vida doméstica do que condução do governo definiram o tom da cobertura. Além disso, houve críticas à suposta tentativa do presidente de interferir no Ibama para viabilizar a exploração de Petróleo na Foz do rio Amazonas. Contudo, os textos também ressaltam que é precipitado afirmar que a atividade causaria destruição no local. Os jornais claramente mantêm times de colunistas prontos para atacar o governo e o presidente, ou seja, a seguir sua linha editorial, como podemos notar nos gráficos 3 e 5. Esse dado revela a grave deficiência de pluralismo interno dessas publicações. E essa falta de pluralismo só representa um lado. A campanha contra a figura do presidente está atingindo um grau de ativação inédita na série de relatórios do DONI.
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DONI
O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.
Apoio:
[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.
[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.
[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.