DONI # 130 – 18 a 24 de Outubro de 2025
No DONI semanal, são examinados os textos que citam o governo federal, o presidente Lula ou algum personagem ou instituição do Executivo, publicados nos jornais O Globo, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo. A análise abrange manchetes, chamadas de capa, artigos de opinião, colunas e editoriais [1].
[1] Páginas 2, 3 e 4, da Folha de S.Paulo, e páginas 2 e 3, dos jornais O Globo e Estado de S.Paulo.
PRINCIPAIS DESCOBERTAS
Ministro Boulos: A nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral tem sido alvo de críticas na cobertura. Os jornais apontam ausência de justificativas claras para a escolha, que é interpretada pela mídia como um movimento de Lula em direção à esquerda e pode reacender o debate sobre “medo” associado a essa guinada.
Política Fiscal: Irritada com a ausência de cortes de gastos públicos, a imprensa incorpora o discurso do mercado financeiro de que os investidores não vão sustentar a irresponsabilidade do governo.
Posicionamento Editorial: O Estadão se mantém como o veículo mais crítico a Lula e ao governo federal.
Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[2]

Em outubro, o Estadão aparece no topo do ranking como o jornal mais desfavorável, com IV3 de – 1,17, seguido pela Folha, com –0,57, e pelo Globo, com – 0,28. O IV de outubro até o momento é de – 0,60, o menor desde agosto de 2023.
[1] Páginas 2, 3 e 4, da Folha de S.Paulo, e páginas 2 e 3, dos jornais O Globo e Estado de S.Paulo.
[2] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações do presidente ou do Governo Federal em diferentes áreas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente é retratado é negativa ou desfavorável.
[3] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual “F” é o n° de favoráveis, “C”, o n° de contrárias, “A”, o n° de ambivalentes e “N”, o n° de neutras.
Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal e de Lula

Nesta semana, a política fiscal do governo permaneceu no centro da cobertura jornalística, com predomínio de críticas à condução econômica. Os jornais destacaram alertas técnicos sobre a irresponsabilidade fiscal do governo federal e a falta de medidas efetivas de controle de gastos. Segundo as publicações, o setor privado não estaria disposto a sustentar a inconsequência fiscal, na medida em que nem mesmo a tributação sobre as aplicações financeiras seria solução adequada para equilibrar as contas públicas.
O segundo tema mais recorrente foi a autorização do Ibama para pesquisas na Margem Equatorial. Os veículos elogiam o órgão ambiental, afirmando que a medida foi acertada. No entanto, os textos também aproveitaram o episódio para criticar o governo federal por manter investimentos em combustíveis fósseis, em vez de priorizar o desenvolvimento de alternativas renováveis.
Por fim, o terceiro tópico mais comentado foi a posse de Guilherme Boulos como ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A imprensa afirma que a escolha simboliza o fim da fase de moderação de Lula, marcando uma guinada mais à esquerda que pode reavivar um discurso de “medo”. Os jornais sustentam que não há justificativa consistente para nomeação em termos de governabilidade. O movimento é interpretado como político-eleitoral.
Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[4]

No período analisado, o Estadão priorizou posicionamento negativo nos editoriais, com sete textos. A Folha apresentou as chamadas e editoriais desfavoráveis, com três textos cada. Já o Globo registrou quatro colunas contrárias.
[4] Neste gráfico, vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na seção de opinião, por meio de colunistas e artigos de convidados.
Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal

Em outubro, o Estadão continua como jornal mais crítico a Lula, com IV de – 1,09, seguido pela Folha, com – 0,40, e O Globo, com -0,24. O IV de outubro até o momento é de – 0,51, o menor índice desde novembro de 2023.
Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

O Estadão focou as críticas ao presidente nos editoriais — com sete textos contrários. O Globo, por sua vez, apresentou posicionamento desfavorável a Lula mormente em colunas, com quatro publicações negativas. Na Folha, as chamadas se sobressaíram, com cinco publicações desfavoráveis ao presidente.
Nesta semana, as três principais publicações retomaram os assuntos da pauta econômica, com foco na defesa da tese do desequilíbrio fiscal e da consequente necessidade de corte de gastos. Mais uma vez, a imprensa incorpora o discurso do mercado financeiro ao ressaltar que os investidores não vão apostar na irresponsabilidade do governo. Também abordou a decisão do Ibama de autorizar as pesquisas na Margem Equatorial, e criticou o Executivo por insistir na produção de combustíveis fósseis. Por fim, a escolha de Guilherme Boulos para a Secretaria Geral foi classificada como eleitoreira, e interpretada como um marco do alinhamento de Lula mais à esquerda do espectro político. Se fôssemos fazer uma síntese do posicionamento da imprensa grande brasileira nessa semana diríamos que é um ambientalismo de centro direita, ou seja, ao passo que defende a pauta da transição energética, contra a exploração da Margem Equatorial, pretende que Lula adote uma disciplina fiscal rigorosa ao mesmo tempo que preencha seu gabinete com ministros mais conservadores. Seria até cômico, se esses meios não tivessem ainda tanto poder comunicativo em suas mãos.
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DONI
O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.
Expediente:
Natália Paiva – Coleta e codificação de dados
Eduardo Barbabela – Revisão de dados, análise e redação
Pollyanna Brêtas – Redação e revisão
João Feres Junior – Revisão, redação e análise
André Madruga – Divulgação
Lidiane Vieira – Divulgação
[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.
[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.
[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.
