Vaza Jato nos jornais – 18 de junho
Por Eduardo Barbabela, Juliana Gagliardi e João Feres Junior
A partir de hoje o Boletim da Vaza Jato adiciona o Jornal Nacional ao conjunto de meios analisados.
O Globo, Folha e Estadão
O nono dia após a eclosão do escândalo traz uma cobertura com crescimento dos textos neutros/ambivalentes, impulsionado principalmente pelas discussões acerca do futuro da Operação Lava Jato.
O Estadão continuou sendo o meio que menor atenção deu ao escândalo, com apenas seis textos, contando com as chamadas de capa, quatro deles neutros. O destaque recai sobre a entrevista do procurador da Lava Jato Carlos Fernando Santos Lima, que afirma ser o objetivo dos vazamentos “libertar Lula e destruir Moro”. Santos Lima ainda diz que o “ataque” aos procuradores é criminoso e que a liberdade de imprensa não deve ser utilizada para proteger o sigilo de comunicações obtidas de forma ilegal.
O jornal O Globo apresenta cobertura também tímida: seis textos, e sem chamadas de capa. A cobertura é bastante crítica a The Intercept, com três textos contrários Em dois textos de opinião, os autores argumentam que, apesar de possíveis ilegalidades de Moro e Dallagnol — informação que os textos reforçam teria sido obtida ilegalmente –, é preciso defender as conquistas da Operação Lava Jato e a sua importância para o Estado de Direito. O jornal também traz matéria na qual o ministro Alexandre de Moraes declara ser necessário prender os hackers e atestar a veracidade das falas. O único contraponto a esse enquadramento é dado por entrevista com o jurista estadunidense Bryant Garth, que afirma ser a conversa entre juiz e promotor razão para anulação de processo.
A Folha de São Paulo novamente destoa de seus pares, com 8 textos sobre o escândalo, cinco neutros e três críticos a Moro. O jornal paulista apresenta os bastidores da oposição ao governo para recepcionar Sérgio Moro em seu depoimento ao Senado Federal. Além disso, os textos de opinião discutem as táticas dos apoiadores bolsonaristas que buscam desacreditar Greenwald, principalmente por meio do perfil Pavão Misterioso.
A cobertura de hoje, dia 18 de junho, deu destaque à discussão sobre a importância da Lava Jato e de seus resultados, mas pouco abordou as questões relativas ao comportamento de Moro e dos promotores. A possibilidade de o STF anular decisões da Lava Jato induziu ao aumento da publicação de loas à Operação e à necessidade de manter suas decisões visando o combate a corrupção. As novas revelações do Intercept, prometidas para a noite de hoje, devem lançar mais lenha nessa fogueira.
Jornal Nacional – edição de 17/6
Na edição de ontem (17/6) do Jornal Nacional, a matéria principal sobre a Vaza Jato informa: “O marido do jornalista que divulgou as mensagens atribuídas a Sergio Moro diz que foi ameaçado de morte”. Embora a notícia parta da ameaça, a chamada não diz que David Miranda é deputado federal (Psol-RJ). Dos 5 minutos e 39 segundos dedicados, 1m45s são dedicados a Miranda, com reprodução de sua fala concedida ao jornal. Logo em seguida, a narrativa se desvia para Moro, dizendo que o ministro se ofereceu para ir ao Senado falar sobre as conversas atribuídas a ele e a integrantes do Ministério Público Federal. O âncora declara que, segundo o site Intercept, as conversas mostram que Moro não foi imparcial ao julgar e condenar o ex-presidente Lula. São reproduzidas fala do deputado federal Paulo Delgado (PT-MG), que critica as atuações de Moro e Dallagnol, do presidente Jair Bolsonaro defendendo o ministro e afirmando que contar com ele seria uma “honra e orgulho para todos os brasileiros de bem”, e do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, dizendo que é preciso investigar a autenticidade do material e defendendo a Operação Lava Jato. Segundo Moraes, que não é membro da turma que vai julgar o pedido do habeas corpus de Lula, vazamentos, fake news “são questão de polícia”. O ministro afirma, ainda, que “isso é crime”. Sobre o conteúdo das conversas, o ministro ressalta que somente com a íntegra do material será possível atestar sua veracidade e autenticidade. Ao fim, a matéria reforça que Moro e Dallagnol não reconhecem a autenticidade do material, embora afirmem que não há nenhuma impropriedade nele.
Assim como nos dias anteriores, o telejornal continua dando mais espaço à narrativa que reforça a possibilidade de inautenticidade do material e seu caráter supostamente criminoso do que à crítica às ações relevadas por seu conteúdo. Seguindo o padrão dos dias anteriores, o “outro lado”, o da crítica a Moro, é representado ou pelos advogados de defesa de Lula ou por políticos do PT. Dessa forma, ao não apresentar com o mesmo peso as críticas à conduta dos agentes da Justiça e suas consequências para o Estado democrático, o Jornal Nacional dá preponderância à versão favorável a Moro, além de promover a interpretação polarizada de que as críticas à Vaza Jato devem ser entendidas no contexto de um embate Lula/PT vs. Operação Lava Jato, no qual criticar um é defender o outro.