O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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5 a 11 de agosto, 2019

Por Natasha Bachini e João Feres Jr.

Entre os dias 5 e 11 de agosto de 2019, as 158 páginas que monitoramos publicaram 6.739 posts, que geraram 2.961.326 compartilhamentos. As páginas que mais postaram nessa semana foram: Exame (422 posts), Veja (409 posts) e Estadão (380 posts).
Entre os dias 5 e 11 de agosto de 2019, as 158 páginas que monitoramos publicaram 6.739 posts, que geraram 2.961.326 compartilhamentos. As páginas que mais postaram nessa semana foram: Exame (422 posts), Veja (409 posts) e Estadão (380 posts).

Entre os dias 5 e 11 de agosto de 2019, as 158 páginas que monitoramos publicaram 6.739 posts, que geraram 2.961.326 compartilhamentos. As páginas que mais postaram nessa semana foram: Exame (422 posts), Veja (409 posts) e Estadão (380 posts).

Tabela 1: 20 posts mais compartilhados da semana (5/8/2019 a 11/8/2019)[1]

semana 91

Os 20 posts da tabela acima concentram 20% dos compartilhamentos obtidos pelas 158 páginas ao longo do período. Os recursos mais frequentes nos posts foram o vídeo (50%), seguido de foto (25%) e link (25%).

Os temas mais presentes nos posts da lista estão associados, de alguma maneira, ao Ministério da Justiça. O post mais compartilhado da semana é uma notícia do Estadão que aborda a indignação do presidente Bolsonaro e do ministro da Justiça, Sérgio Moro, no Twitter com o direito à “saidinha” no dia dos pais de Alexandre Nardoni, condenado por matar a filha, Isabella, em 2009. Ambos consideraram o fato imoral, defenderam mudanças na lei atual, para impedir que fratricidas e parricidas tenham esse direito, e pediram apoio ao projeto da Lei Anticrime. Os mesmos argumentos foram observados na live semanal de Bolsonaro, que contou com a presença do ministro.

A Operação Lava Jato foi mencionada indiretamente em quatro posts por conta da repercussão do áudio obtido pela Operação Cravada, da candidatura de Deltan Dallagnol à Procuradoria-Geral da República (PGR) e do veto do Supremo à transferência do ex-presidente Lula.

Com relação à Operação Cravada, uma liderança do Primeiro Comando da Capital (PCC) afirmou em conversa grampeada pela Polícia Federal que com o governo Bolsonaro, com Moro na pasta da Justiça, as regras do cárcere foram endurecidas e que durante as gestões petistas, havia diálogo entre os presos e o governo. As matérias com esses áudios foram amplamente compartilhadas pelas páginas da direita, sobretudo pelas páginas de Eduardo Bolsonaro, Álvaro Dias e Kim Kataguiri, com o objetivo de mostrar a probidade do atual governo e associar o PT ao crime organizado. Parte dessas notícias vinha acompanhada do contraditório do PT. O partido declarou que as falsas acusações foram oportunisticamente capturadas pela Polícia Federal a interesse do seu superior, o ministro Sérgio Moro, e que este sim deve esclarecimentos ao Brasil dadas as revelações da Operação Vaza Jato. Nas palavras do partido, “quem dialogou e fez transações milionárias com criminosos confessos não foi o PT, foi o ex-juiz Sérgio Moro, para montar uma farsa judicial contra o ex-presidente Lula, com delações mentirosas e sem provas. É Moro que deve se explicar à Justiça e ao país pelas graves acusações que pesam contra ele”.

Além disso, ao comentar em sua live a Portaria 666, que permite a expulsão sumária de estrangeiros considerados “perigosos” do território nacional, Bolsonaro afirmou, fazendo referência a Glenn Greenwald, que o documento “não tem nada a ver com o jornalista espertalhão que acusou Moro de querer expulsá-lo do Brasil”.

Por outro lado, a página do Vem Pra Rua voltou ao ranking após muitas semanas, defendendo a Operação Lava Jato, apoiando a candidatura de Dallagnol à PGR e criticando o “tratamento diferenciado” obtido por Lula junto ao Supremo. No último caso, a página comparou a celeridade da suspensão da transferência do ex-presidente para o presídio paulista à demora da avaliação, pela Corte, do caso de uma cidadã mineira que morreu esperando conseguir o custeamento de um  remédio caro.

O presidente Bolsonaro foi o político que mais emplacou posts na lista. Atacou a imprensa em resposta a sua crescente cobertura negativa, sobretudo no que se refere às perdas decorrentes da proposta de isentar a indústria de games de alguns impostos e aos alarmantes dados divulgados sobre o desmatamento da Amazônia. Intitulando-se como “capitão motosserra”, Bolsonaro sugeriu que a imprensa é petista e indagou, ironicamente, sobre como alguns veículos sobreviverão após ele isentar as grandes empresas de terem que pagar para divulgar seus balanços na imprensa oficial.

Em suas publicações, Bolsonaro também destacou a  inauguração da primeira etapa da Usina Solar Flutuante, no reservatório de Sobradinho (BA), e sua proposta de legalizar a exploração de reservas indígenas, sobretudo com garimpo. Para tanto, participaram de sua live o ministro do Meio Ambiente e alguns indígenas da reserva Raposa Serra do Sol. Estes alegaram que “os índios querem ganhar a vida deles, sem a intervenção do Estado. (…) querem garimpar, usar transgênico na plantação, criar bois e ter energia elétrica”. Os índios acusaram também as ONGs e a Igreja Católica de saquearem seus recursos. Bolsonaro completou a transmissão defendendo a atuação evangélica nas comunidades.

Ainda sobre “questões ambientais”, repercutiu negativamente na imprensa e na rede, em especial a partir dos posts do G1 e de Fernando Haddad (PT), a “solução” de Bolsonaro para reduzir a poluição ambiental. Ao ser questionado por um jornalista se é possível o país preservar o meio ambiente e se desenvolver economicamente, o presidente respondeu: “É só você deixar de comer menos um pouquinho. Quando se fala em poluição ambiental, é só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também, está certo?”.

O presidente continuou justificando o desmatamento e as políticas favoráveis ao agronegócio como necessidades: “Segundo o Ministério da Defesa, 2 milhões de pessoas nascem no Brasil todos os anos, (…) as pessoas têm que comer. (…) E como é que você tem que estimular o agronegócio? É a parte da economia que mais está dando certo no Brasil. Nós concorremos com Austrália, Estados Unidos, então temos que colaborar com esse setor”.

Em resumo, assuntos relacionados à esfera jurídica e ao Judiciário em si pautaram o debate na rede ao longo desta semana. O governo federal se engaja na rede para convencer a opinião pública dos seus projetos sob a justificativa da moralidade e do desenvolvimento econômico. Entretanto, a superficialidade e a grosseria dos argumentos, principalmente sobre a questão do desmatamento, vem sendo observada negativamente tanto pela imprensa quanto por parte da população. Vejamos quais deles passarão pelas instituições e quais não.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[1] Excluímos da lista desta semana um post do G1 por não tratar de Política.

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