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Boletim Editorial 4

 

Por Juliana Gagliardi, Eduardo Barbabela, Lidiane Vieira e João Feres Júnior

Período: 4/9 – 10/9/2019 Número de editoriais: 52 Jornais: Folha de S. Paulo/O Estado de S. Paulo/O Globo.
Período: 4/9 – 10/9/2019
Número de editoriais: 52
Jornais: Folha de S. Paulo/O Estado de S. Paulo/O Globo.

No período de 4 a 10 de setembro, os jornais abordaram em seus editoriais as temáticas listadas na Figura 1. Consideramos, para análise mais específica em nosso boletim, os três temas mais frequentes: Bolsonaro, Reformas e Economia.

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Figura 1: Temáticas presentes nos editoriais (4/ a 10/9/2019)

O presidente Jair Bolsonaro continua no topo das temáticas mais frequentes nos editoriais. Há predominantemente críticas à sua atuação, que se concentram, nesta semana, na Folha de S. Paulo (FSP) e n’O Estado de S. Paulo (OESP). Parte das críticas tem por objeto seus “destemperos verbais”[1]. Mas também houve aquelas direcionadas a assuntos específicos como a indicação do novo procurador-geral da República sem considerar os nomes sugeridos pelo Ministério Público (MP). Para a Folha, essa atitude evidencia desprezo pela independência do MP, tratado erroneamente como se fosse parte do Governo Federal.[2] Alternativamente, OESP defende a indicação feita pelo presidente, argumentando não ser decisão anticonstitucional e critica duramente o MP por suas reação no caso e pelos traços de “sindicalismo” que apresentou.[3]

De modo geral, o enquadramento econômico está presente na maioria dos outros textos, especialmente no OESP. Embora o jornal aponte que há sinais de recuperação da economia, atribui essas mudanças exclusivamente à “reação orgânica” do mercado e ressalta que o governo Bolsonaro tem sido incapaz de acelerar e sistematizar esse processo,[4] fato evidenciado pelo fraco desempenho da indústria brasileira.[5] Também conforme opinião editorial da Folha, o cenário econômico negativo sofre impactos do comportamento do presidente, pois ele “fomenta a instabilidade política e torna menos previsível a agenda de seu governo”.[6]

A hesitação do mandatário em manter o teto de gastos também teve espaço. OESP elogiou o fato de Bolsonaro ter voltado atrás da sugestão de alterar o teto. Mas as mudanças de opinião frequentes do presidente são, para o jornal, sinal de incompetência administrativa. OESP o acusa de cometer repetidamente “grave confusão entre governar e dar ordens como um chefete voluntarioso”.[7]

A educação foi outro polo de críticas ao governo no OESP. A assinatura, pelo presidente, do decreto que regulamenta a adesão ao Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares abre, segundo o jornal, “acirrado debate político sobre o tipo de ensino básico que seu governo pretende desenvolver”.[8] No dia seguinte, o jornal criticou a atuação do MEC, afirmando que o governo não tem um projeto de educação e encara esse campo apenas pelos vieses fiscal, com contingenciamento imposto pelo Ministério da Economia, e ideológico, rejeitando argumentos de especialistas.[9] O estrangulamento do setor de pesquisa pelo governo Bolsonaro foi criticado pela Folha.[10] O jornal atribuiu a falta de recursos ao descontrole de gastos orçamentários dos governos anteriores, mas afirmando que o campo de ciência e tecnologia sofre mais em consequência do viés anti-intelectual da atual gestão.

O segundo eixo temático mais frequente nos editoriais englobou as reformas da Previdência, trabalhista e tributária. A da Previdência é defendida em peso pelos jornais. A Folha, por exemplo, defende em editorial a inclusão de estados e municípios, elogia a tramitação na Câmara e demonstra preocupação que o Senado “faça concessões” no início da tramitação.[11]

O Globo aponta o “ânimo do Legislativo” em aprovar a reforma da Previdência como um sinal promissor ao defender o avanço da pauta de discussão tributária e de modernização do Estado, além da “simplificação” e a “desburocratização” nas relações de trabalho necessárias, segundo o jornal, para ampliar o mercado de trabalho e “destravar” o empreendedorismo.[12] Para o jornal, a reforma da Previdência e outras são necessárias para equilibrar as contas públicas do país no longo prazo e comemora que o Legislativo tenha percebido isso e esteja, em acordo, liderando sua aprovação.[13]

OESP, como a Folha, defende a  inclusão de estados e municípios na reforma da Previdência em tramitação no Senado.[14] O jornal se mostra favorável às reformas do Estado de modo geral e apresenta dados econômicos para defendê-las.[15] Em um editorial genérico sobre idade e trabalho, OESP defende, de modo subliminar, medidas como as da reforma da Previdência como forma de “dignificar” o homem de idade.[16]

O terceiro eixo temático mais frequente é Economia. No que diz respeito ao mercado de trabalho, editorial da Folha comenta o programa de incentivo à geração de empregos que está sendo estudado pelo governo Bolsonaro e defende que a recuperação do mercado de trabalho seja produto de investimento privado[17], destacando como problema a falta de investimento em construção civil. A solução para esse quadro, segundo o jornal, “depende de concessões à iniciativa privada de obras de infraestrutura e da remoção do entulho burocrático-legal que trava setores como telefonia, gás e saneamento”. Em outro editorial, o jornal trata da situação negativa das contas públicas e, para enfrentá-las, defende ações de austeridade.[18]

Já OESP, considerando o quadro geral, faz uma ressalva: apesar dos dados ruins de emprego e da lenta recuperação da economia, os preços não dispararam e a inflação se mantém sob controle, o que seria um alívio em um contexto já caótico.[19]

Conclusão

Os três temas principais da semana passada se repetiram essa semana. As críticas referentes ao estilo e à atuação do presidente Bolsonaro continuam predominantes. No que diz respeito às reformas, os três jornais continuam apresentando posicionamento similar e favorável, destacando o que julgam ser sua inevitabilidade para equilibrar as contas públicas. Em assunto conexo, defendem que  a recuperação da economia se dará pela implementação da agenda de diminuição do Estado via privatizações e corte de gastos públicos.  Em suma, enquanto rejeitam o comportamento do presidente, os jornais estão fortemente alinhados com a agenda econômica liberalizante de seu governo.

[1] Borduna na Carta. Folha de S. Paulo, 5/9/2019.

[2] Bolsonaro revela desprezo pela autonomia do Ministério Público com indicação. Folha de S. Paulo, 5/9/2019.

[3] A escolha do procurador-geral. O Estado de S. Paulo, 7/9/2019.

[4] Governo aposta em setembro. O Estado de S. Paulo, 4/9/2019.

[5] O motor enfraquecido. O Estado de S. Paulo, 10/9/2019.

[6] O fator Bolsonaro. Folha, 10/9/2019.

[7] Novo acerto em novo recuo. O Estado de S. Paulo, 6/9/2019.

[8] As escolas cívico-militares. O Estado de S. Paulo, 8/9/2019.

[9] A falta de um projeto de educação. O Estado de S. Paulo, 9/9/2019.

[10] O conto do grafeno. Folha de S. Paulo, 11/9/2019.

[11] Falsa bondade. Folha de S. Paulo, 5/9/2019.

[12] Simplificar e desburocratizar ajudam a aumentar o mercado de trabalho. O Globo, 8/9/2919.

[13] Hora da liderança legislativa na Previdência. O Globo, 5/9/2919.

[14] O exemplo de São Paulo. O Estado de S. Paulo, 8/9/2019.

[15] Desigualdades latino-americanas. O Estado de S. Paulo, 9/9/2019.

[16] Trabalhando com a idade. O Estado de S. Paulo, 10/9/2019.

[17] Emprego em pacote. Folha de S. Paulo, 7/9/2019.

[18] Rumo ao teto. Folha de S. Paulo, 9/9/2019.

[19] Pelo menos a inflação alivia. O Estado de S. Paulo, 7/9/2019.

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