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Boletim Editorial 10

Por Juliana Gagliardi, Eduardo Barbabela, Lidiane Vieira e João Feres Júnior

Juliana Gagliardi, Eduardo Barbabela, Lidiane Vieira e João Feres Júnior

 

No período de 16 a 22 de outubro, os editoriais da grande imprensa[1] abordaram as temáticas listadas na Figura 1. Consideramos, a partir de hoje, para análise mais específica em nosso boletim, as temáticas presentes simultaneamente nos três jornais, que nesta semana foram: a prisão em segunda instância, a crise do PSL, o derramamento de óleo no Nordeste e a crise chilena.

A Figura 2 apresenta, a título de acompanhamento, a posição dos editoriais sobre o presidente Jair Bolsonaro.

Figura 1: Temáticas presentes nos editoriais (16/10 a 22/10/2019)

 

PRISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA. O julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da prisão em 2a instância foi um desses temas e os três jornais, de forma unânime, defenderam a manutenção dessa prerrogativa. Para a Folha, não deveria haver mudança no entendimento “de que o segundo julgamento, este por corte colegiada, marca o momento a partir do qual o réu condenado deveria perder a prerrogativa de recorrer em liberdade.”[2] O Globo opina que alterar isso poderia aumentar a insegurança jurídica, e dá destaque para as prisões de vinculados ao PT, atribuindo responsabilidade pelo “esquema corruptor” ao “lulopetismo”. Também responsabiliza a Vaza Jato (sem citar seu nome ou do Intercept) pela discussão acerca da revisão da prerrogativa.[3] Seguindo o mesmo caminho, O Estado de S. Paulo (OESP) também defende que o STF mantenha a jurisprudência sobre a prisão após decisão de 2a instância,[4] e insinua ser essa a vontade da sociedade e o símbolo de um “pacto que nos livra da barbárie”.[5]

 

CRISE NO PSL. As disputas que ocorrem dentro do Partido Social Liberal (PSL) também mereceram espaço nos três jornais no último dia 19. O Globo critica a briga entre Bolsonaro e Bivar e argumenta, como justificativa, a disputa em torno do caixa do partido. Ao fim, conclui que, no meio dessa briga está a votação da reforma da Previdência e das outras reformas, conclamando os presidentes da Câmara e do Senado a ajudarem a conduzi-las até que o presidente volte para os eixos.[6] A Folha apresenta um histórico da crise, das ações de Bolsonaro e da reação do partido, e destaca as consequências para o presidente, como a questão do fundo partidário e a dependência de outras siglas, como o Democratas (DEM). O jornal também menciona a reforma da Previdência, dando crédito às siglas que buscam sua aprovação no Congresso,[7] e atribui a Bolsonaro a culpa por acirrar a briga com sua “ação desastrada”. OESP também critica a atuação de Bolsonaro e do partido  na disputa pela liderança da sigla.[8]

 

DERRAMAMENTO DE ÓLEO. O óleo derramado, que atinge as praias do Nordeste brasileiro, é o terceiro assunto presente em todos os jornais, que criticaram a forma pela qual o governo lida com o ocorrido. O Globo critica a lenta resposta e a demora para desvendar o que aconteceu. Para o jornal, “Isso põe em xeque os sistemas de vigilância e monitoramento da costa” “e não apenas do ponto de vista ambiental”.[9] A FSP[10] e OESP[11] também criticam o governo pela sua letargia e por dar atenção  a teorias conspiratórias, como acusações sobre a Venezuela, em vez de trabalhar na busca de alternativas. A Folha menciona o fato de o governo ter extinguido dois comitês integrantes do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), assinado no governo Dilma Rousseff, mas explicita dúvida sobre se esses comitês dariam resposta mais veloz ao ocorrido. Para o jornal, o atual governo “não se ajuda”.

 

CRISE NO CHILE. A onda de protestos que ocorre no Chile foi o quarto tema presente nos editoriais desta semana. Os três jornais traçaram comparações entre o que ocorre no país andino e os protestos de 2013 no Brasil. A Folha destaca a posição e as reformas liberais chilenas como um caso de sucesso.[12] O Globo descreve a tensão nas ruas do Chile, mas descola a revolta da população das reformas e medidas de austeridade econômica do governo de centro-direita, argumentando que a razão para o quadro atual é a “má qualidade dos serviços públicos”. E defende o governo Piñera dizendo que são “inegáveis os avanços chilenos”, embora a renda tenha ficado mais concentrada.[13] OESP aborda a questão concluindo que lá, como aqui, há desigualdade misturando pobreza e alta taxa de desemprego. O jornal destaca, ainda, o risco de o Brasil passar por caos semelhante caso não atente para esse quadro.[14]

Figura 2: Valências da abordagem a Jair Bolsonaro nos editoriais (16/10 a 22/10/2019)

 

[1] Para este boletim, consideramos 52 editoriais publicados por Folha de S. Paulo, O Estado de S.

Paulo e O Globo.

[2] Chega de guinadas, Folha de S. Paulo (FSP), 17/10/2019.

[3] Sérias implicações de um retrocesso em julgamento no STF, O Globo, 16/10/2019.

[4] Respeito ao STF e à jurisprudência, O Estado de S. Paulo (OESP), 17/10/2019.

[5] A sociedade e o Supremo, OESP, 23/10/2019.

[6] Briga de baixo clero ameaça governo, O Globo, 19/20/2019.

[7] A implosão, FSP, 19/10/2019.

[8] A estirpe e as práticas do PSL, OESP, 19/10/2019.

[9] Manchas de óleo no Nordeste expõem vulnerabilidade da costa, O Globo, 16/10/2019.

[10] Derrame de inépcia, FSP, 21/10/2019.

[11] Águas turvas, OESP, 23/10/2019.

[12] Jornadas chilenas, FSP, 22/10/2019.

[13] Ineficiência estatal e concentração da renda provocam revolta chilena, O Globo, 22/10/2019.

[14] A grave crise do Chile, OESP, 22/10/2019.

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