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Boletim Editorial 13

No período de 6 a 11 de novembro, os editoriais da grande imprensa abordaram as temáticas listadas na Figura 1.
No período de 6 a 11 de novembro, os editoriais da grande imprensa abordaram as temáticas listadas na Figura 1.

Por Juliana Gagliardi, Eduardo Barbabela, Lidiane Vieira e João Feres Júnior

No período de 6 a 11 de novembro, os editoriais da grande imprensa[1] abordaram as temáticas listadas na Figura 1. Consideramos, para análise mais específica em nosso boletim, as temáticas presentes simultaneamente nos três jornais, que nesta semana foram a crise boliviana, a prisão em segunda instância e o leilão do pré-sal.[2]

A Figura 2 apresenta, a título de acompanhamento, a posição dos editoriais sobre o presidente.

Figura 1: Temáticas presentes nos editoriais (6 a 11/11/2019)

 

BOLÍVIA. O Globo é o único que nomeia o que ocorreu como um “golpe preventivo”,[3] mas não sem antes atribuir a responsabilidade a Evo Morales. Os três jornais sublinham a suposta ambição do ex-presidente boliviano de perpetuar-se no poder e, após uma série de críticas sobre a forma que lhe garantiu a possibilidade de disputar mais um pleito e sobre suspeitas de fraude eleitoral, devolvem a ele a alcunha de golpista, autor de manobras. De modo geral, focam em Evo e o culpam pelo golpe. Não aprofundam a abordagem aos personagens e medidas polêmicos e de extrema violência física e simbólica postos em prática pelas forças de oposição, conforme imagens que tomaram as redes. Se mencionam a oposição, isso é feito pontualmente. Novamente, a responsabilidade do atual contexto político é atribuída, portanto, a exclusivamente a Evo, sem tampouco abordar o quadro político e social boliviano mais amplamente. O contexto instável é visto apenas como um desdobramento do vácuo de poder em consequência da renúncia de Evo.[4] Mais uma semelhança é que vislumbram uma saída positiva para o golpe. A Folha evoca genericamente que  “qualquer solução que não passe pelo respeito à legalidade constitucional deve ser repudiada”, como se isso já não tivesse acontecido, e aponta uma nova eleição como único caminho adequado.[5] O Globo indica a construção de um “governo provisório e a realizar eleições gerais limpas e justas, com supervisão internacional, antes de 21 de janeiro, quando terminam os mandatos legislativos” como única saída aceitável, para que “conflitos naturais numa democracia não levem forças autoritárias, de qualquer lado, atentar aventuras”, como se isso já não tivesse acontecido. Ou seja, o golpe não é apresentado como ruptura, mas como porta democrática.

 

 

PRISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA. A decisão do STF contrária à prisão em segunda instância também foi tópico de editoriais nos três jornais. De forma unânime, os jornais criticam o impedimento da prisão em segunda instância. A decisão foi vista, de modo geral, como um retrocesso, uma vez que teria ampliado a possibilidade de poderosos serem presos desde o Mensalão.[6] Segundo a Folha, o “efeito colateral” provável será estimular crimes do colarinho branco. Globo e OESP chamam o Congresso a discutir o assunto e mudar a legislação. Enquanto OESP critica a Constituição por permitir este tipo de decisão,[7] O Globo circunscreveu a decisão à interpretação de um artigo do Código do Processo Penal, sem vinculá-lo à cláusula pétrea (Artigo 5) da Constituição brasileira.[8]

 

LEILÃO DO PRÉ-SAL. A realização do megaleilão do pré-sal e a decepção com seus resultados também foi tema editorial nos jornais que monitoramos. OESP discute os reflexos dos péssimos resultados do leilão na política fiscal do país.[9] A Folha fala dos impactos do transporte de indivíduos e os custos altos para os brasileiros (maiores do que com alimentação).[10] Já O Globo aborda o leilão a partir do endosso à opinião do ministro Paulo Guedes de que o fracasso se deve ao modelo imposto de partilha, que restringe a concorrência. O jornal carioca critica o tamanho da participação estatal, atribuindo, ainda, a paternidade desse modelo ao PT: “Essa opção do PT teve inspiração no método disseminado por alguns exploradores franceses na África. Baseia-se em maior ingerência do Estado no negócio de exploração e produção de petróleo”.[11]

Figura 2: Valências da abordagem a Jair Bolsonaro nos editoriais (6 a 11/11/2019)

 

[1] Para este boletim, consideramos 51 editoriais publicados por Folha de S. Paulo (FSP), O Estado de S. Paulo (OESP) e O Globo.

[2] Outros cinco temas ficaram fora do ranking, mas foram abordados por dois jornais cada na última semana. O Enem foi abordado em editoriais da FSP e de OESP; a discussão sobre estados e municípios apareceu em O Globo e na FSP; Lula foi tema central de editoriais de FSP e OESP; o muro de Berlim apareceu também na FSP e em OESP; e a política externa de Bolsonaro foi criticado no Globo e no OESP.

[3] Democracia tem de ser a referência na crise boliviana, O Globo, 12/11/2019.

[4] Bolívia desgovernada, OESP, 12/11/2019.

[5] O triste fim de Evo, FSP, 12/11/2019.

[6] Retrocesso penal, FSP, 9/11/2019.

[7] O mundo não acabou, OESP, 9/11/2019.

[8] Congresso deve debater prisão em segunda instância, O Globo, 10/11/2019.

[9] O megaleilão do pré-sal, OESP, 8/11/2019.

[10] Leilões frustrados, FSP, 8/11/2019.

[11] Leilão do pré-sal mostra que o modelo precisa mudar, O Globo, 9/11/2019.

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