DONI # 9 – 27 de maio a 2 de junho de 2023
No DONI semanal são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente, ou algum personagem ou Instituição do Governo Federal, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. Esta semana foram analisados 168 textos.
Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal
Essa semana, o Globo e a Folha aumentaram a cobertura sobre o Governo Federal, principalmente a negativa. O Estadão diminuiu reduziu os textos sobre o governo.
Calculando o Índice de Viés (IV) segundo a fórmula (F-C)/(A+N), na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras, o Globo liderou a negatividade com IV de -3,2, seguido pela Folha com –1,0 e o Estadão com -0,86.
Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal
As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.
As discussões sobre a relação entre o executivo e a Câmara dos Deputados dominaram cobertura intensamente negativa para o Governo essa semana, que foi creditado com a responsabilidade pelo impasse entre os poderes. Outros dois temas relevantes que receberam cobertura bastante negativa foram o incentivo dado à produção de carros populares e a política externa brasileira, com foco nas críticas feitas pelos jornais ao relacionamento entre Lula e Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.
Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto
Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.
Como já indicava o alto IV do Globo, essa semana o jornal carioca dedicou ao governo federal cobertura intensamente negativa, e, como podemos constatar no gráfico acima, em todos os formatos de texto. Destaque ficam com os colunistas de opinião, que produziram 12 artigos contrários ao governo. Já os editoriais dos três jornais mostram que tal posicionamento negativo é partilhado por todos.
Todos os tipos de texto são opinativos, com exceção das chamadas, que misturam referências a reportagens e textos opinativos dentro do jornal. Assim podemos constatar que os três jornais basicamente só trazem opiniões contrárias ao governo. Mais negativo que esse viés de cobertura seria se as reportagens também trouxessem viés contrário, o que já aconteceu durante os governos Dilma e no segundo governo Lula.
Gráfico 4. Enquadramentos mais presentes na cobertura do Governo Federal
Os enquadramentos dizem respeito ao modo como a mídia trata os diversos temas apresentados, associando a eles argumentos e narrativas, para além da pura negatividade ou positividade capturada pelas valências.
Entre os sete enquadramentos, cinco são críticos ao governo federal. Dois deles criticam diretamente o governo enquanto outros dois atacam o presidente. O último mira no arcabouço fiscal. Aqui vemos os jornais novamente manifestarem fobia pela Venezuela, posição essa contaminada por uma adesão ideológica bastante hipócrita à defesa da democracia, enquanto não manifestam a mesma repulsa por países como China e as ditaduras do oriente médio, com as quais o agronegócio brasileiro tem negócios bilionários.
Gráfico 5. Cobertura do Presidente Lula por jornal
Calculando o Índice de Viés segundo a fórmula (F-C)/(A+N) , na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras, temos o Globo na liderança da negatividade, com -3,33, seguido pelo Estadão com -2, e a Folha com -1,69.
Essa semana O Globo mudou o tom que vinha imprimindo à sua cobertura, optando por atacar intensamente o governo e, particularmente, Lula. Como não há praticamente favoráveis e ambivalentes e neutros tem um sentido similar, o IV do jornal pode ser entendido como aproximadamente 3,33 textos contrários para 1 neutro.
Gráfico 6. Temas mais presentes na cobertura do Presidente Lula
Durante a semana, a crise entre o Executivo e o Legislativo respingou em Lula, considerado responsável pelos problemas de articulação do governo. Mais negativa e intensa ainda foi a cobertura dedicada ao tema da aproximação com a Venezuela, que aparece em duas colunas no gráfico acima. Retornaram as acusações de que Lula faz uma política externa ideológica. A indicação de Cristiano Zanin ao STF, que surgia há algumas semanas, também contou com quantidade significativa de textos, predominantemente negativos.
Gráfico 7. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto
Essa semana Lula apareceu muito em chamadas e nas colunas de opinião de O Globo e Folha, com viés bastante negativo. No Globo, todos os cinco editoriais que citam o presidente foram negativos.
Gráfico 8. Enquadramentos mais presentes na cobertura do Presidente Lula
Essa semana os seis enquadramentos associados ao presidente Lula trazem críticas a ele. A principal delas ataca a indicação de Cristiano Zanin para o STF, afirmando que o advogado não é qualificado para o cargo e seria apenas uma escolha pessoal de Lula. A recepção a Nicolás Maduro também rendeu muitas críticas ao presidente. No entanto, a principal crítica ao governo se mantém: a pecha de governabilidade confusa, que vimos no relatório da semana passada. Lula é acusado de não se preocupar com seu governo, de não ter um plano para o país e principalmente de não conseguir alinhar a relação do Executivo com o Legislativo.
Análise da Semana
Ao longo dessa semana, a cobertura do Governo Federal teve três temas principais. O primeiro deles é recorrente: a difícil relação entre o Governo Federal e o Congresso. A narrativa essa semana continuou a pontuar os contínuos problemas na relação entre os dois poderes. A despeito da cobertura associar a crise a Lula e a Lira, a culpa foi jogada desproporcionalmente no colo do petista, que, de quebra, que foi acusado de preocupar-se mais com a política externa do que com a interna.
O segundo tema foi a visita de Nicolás Maduro ao Brasil. A recepção a Maduro e principalmente a fala de Lula sobre a Venezuela não foram bem recebidas pela mídia, que o criticou duramente, aproveitando para isso das falas dos presidentes do Chile e do Uruguai, como contraponto. A cúpula sul-americana foi pouquíssimo coberta e o foco dos jornais esteve em atacar Lula e sua aproximação com a Venezuela.
Finalmente, o terceiro tema foi a indicação de Cristiano Zanin para o STF. Os jornais apresentaram duas narrativas: a primeira atacava a escolha por ser o advogado pessoal de Lula, a segunda afirmava que Zanin não possuía as características necessárias para ser ministro do STF.
Os três temas da semana reforçam a maneira com que a mídia tem apresentado de Lula nos últimos meses. Na visão dos jornais, a crise com o Congresso confirma os argumentos contrários às escolhas políticas de Lula, que não seriam adequadas para o presente; as falas sobre Maduro reforçaram a imagem de populista e de que é pouco afeito a democracia; por fim, a escolha de Zanin denota um Lula personalista e que prioriza aliados e não aqueles que seriam os melhores para o cargo.
Novamente notamos que Lula recebe cobertura mais negativa que seu governo, como demonstrados pela comparação dos IVs de ambos. O Globo liderou ambos os rankings de IVs essa semana.
Como a maior parte dos textos analisados pelo DONI é de natureza opinativa, o viés detectado funciona como boa estimativa do nível de pluralidade da cobertura. O fato de termos uma cobertura intensamente negativa significa que os argumentos, versões e narrativas do governo e de seus aliados não estão sendo apresentadas ao público, ou estão sendo apresentadas, mas em proporção muito inferior às interpretações desfavoráveis. Tal problema da grande imprensa brasileira, a falta de pluralidade, que contribui contaminar o processo de formação de opinião, continua a se mostrar renitente.
DONI
O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.
Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.
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