O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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DONI # 26 – 23 a 29 de setembro

No DONI semanal são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente, ou algum personagem ou Instituição do Governo Federal, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. Esta semana foram analisados 115 textos.

Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[1]

A Folha foi a mais negativa, com IV[2] de 1,07, seguida pelo Estadão com – 0,5 e o Globo, com – 0,09.

Essa disparidade de IVs é bastante incomum entre os jornais, que costumam apresentar cobertura bastante similar em seu perfil de valências. Pode sinalizar uma tendência de realinhamento dos meios em relação ao Governo, coisa a ser testada nas próximas semanas.

Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal

Outro dado que corrobora a leitura de uma mudança de tendência da cobertura é que, no geral, ela se apresentou muito mais negativa do que observamos anteriormente. O principal tema foi o voo da FAB para São Paulo, utilizado pela ministra Anielle Franco em uma missão oficial durante a final da Copa do Brasil. Houve críticas de abuso de recursos públicos por parte da ministra. Após as críticas, Anielle tentou se defender, afirmando estar trabalhando em um domingo e se privando de momentos com suas filhas para trabalhar, o que justificaria o uso do voo. Em seguida, contudo, vieram a público comentários racistas feitos por assessora do MIR contra a torcida do São Paulo. Ambos os eventos repercutiram negativamente. A fala de Anielle Franco, considerada desastrosa pelos jornais, foi comparada às de Lula e alimentou a narrativa de que ambos geram desgaste ao governo e à esquerda quando se expõem assim. Já a publicação da assessora resultou em sua demissão e em devassa nas contas de outras assessoras de Marielle por parte da imprensa.

O caso de Anielle também reforçou o debate sobre os ministros que não possuem fortes apoiadores no governo e que acabam perdendo espaço e sendo demitidos, como foi o caso de Ana Moser e Daniela Carneiro. Os jornais revisitaram também os casos da própria Anielle, além de Silvio Almeida e Nísia Trindade.

Outro tema recorrente e de grande relevância nesta semana foi o debate sobre os precatórios. A proposta do governo de tentar utilizar os precatórios como despesa primária foi duramente criticada pelos jornais, que o acusaram de tentar maquiar a realidade e usar “contabilidade criativa” para evitar lidar com a dívida.

Por fim, a nova polêmica sobre a escolha do próximo ministro do STF se instalou nas páginas dos jornais. Primeiro, discutiram a definição de Lula sobre os critérios de sua próxima escolha, indicando que não seria definida por gênero ou raça. A imprensa afirmou que, caso o presidente realmente não escolha uma mulher negra, ele estará indo contra seu discurso de representatividade e demonstrará que prioriza muito mais a lealdade a ele próprio como fator de escolha.

Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[3]

Como indicamos na análise dos IVs, os perfis das coberturas foram diversos. O Estadão manteve o tom crítico ao governo, se deixar de publicar textos neutros, ou seja, houve alguma moderação. O Globo fez uma cobertura relativamente benigna ou equilibrada. Já a Folha se posicionou no outro polo do espectro, produzindo uma enxurrada de chamadas negativas em relação ao Governo, o que denota uma orientação editorial para enviesar o noticiário e guiar o leitor a notícias de um determinado viés, no caso, negativo. 

Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal

Essa semana a Folha ficou na liderança da negatividade, com IV de –0,61, seguida pelo Estado, com –0,5 e o Globo com – 0,2.

Gráfico 5. Temas mais presentes na cobertura do Presidente Lula

Essa semana o principal foco da cobertura sobre Lula foi a discussão acerca do próximo ministro do STF. Como mencionado anteriormente, os jornais apresentaram uma análise crítica à posição do presidente e apontaram uma possível contradição em relação ao seu discurso de maior representatividade racial e de gênero. Além disso, outros dois temas ganharam destaque: as relações entre o Brasil e os EUA e o veto de Lula ao Marco Temporal.

Os posicionamentos de Lula e de Biden, aproximando Brasil e Estados Unidos nas discussões sobre o mundo do trabalho, foram amplamente elogiados. Os jornais ressaltaram que essa união possui um componente político relevante ao tentar evitar que esse grupo de trabalhadores precarizados seja cooptado pela direita. Lula foi elogiado pelos jornais por supostamente revisar a lógica de cooperação com os Estados Unidos após tantos anos.

Outro tema de grande relevância foi a decisão de Lula de vetar o Marco Temporal. Os jornais limitaram-se a analisar essa questão como uma situação extremamente delicada para o presidente, que se encontrava entre uma bancada ruralista forte, capaz de barrar projetos, e um eleitorado que esperava avanços nas questões relacionadas aos indígenas. No final, Lula optou pelo veto, mas liberou a base do Congresso para votar livremente, o que poderia resultar na derrubada do veto e na aprovação do Marco Temporal, sem que o presidente pudesse evitar.

Gráfico 6. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

A cobertura em torno de Lula permanece menor em comparação àquela dedicada ao Governo Federal. Esta semana, notamos três abordagens distintas: o Estadão concentrou-se em chamadas, colunas e editoriais, todos apresentando textos negativos, com apenas duas colunas favoráveis a Lula. Na Folha, a cobertura abrangeu todos os tipos de texto, com uma concentração de artigos de opinião favoráveis ao presidente em contraste com os demais tipos de texto, todos com valência contrária a Lula. Já O Globo adotou uma abordagem mais equilibrada, com textos negativos concentrados em artigos de opinião, chamadas e colunas. Editoriais e manchetes apresentaram textos com valência neutra ou ambivalente.

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DONI

O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.

Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.

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[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.

[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula , na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.

[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.

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Criado em 2014, o Manchetômetro (IESP-UERJ) é o único site de monitoramento contínuo da grande mídia brasileira. As pesquisas do Manchetômetro são realizadas por uma equipe com alto grau de treinamento acadêmico e profissional.

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