O Manchetômetro é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP). O LEMEP tem registro no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e é sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.

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DONI # 29 – 11 a 18 de novembro

No DONI semanal são computadas todas as manchetes, chamadas, artigos de opinião, colunas e editoriais que citaram o Governo Federal, o presidente, ou algum personagem ou Instituição do Governo Federal, nas capas e páginas 2 e 3 dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo. Esta semana foram analisados 96 textos.

Gráfico 1. Cobertura do Governo Federal por jornal (valências)[1]

A Folha foi a mais negativa, com IV[2] – 1,8º, seguida por O Globo, com – 0,8 e o Estadão, com IV de – 0,7.

Gráfico 2. Temas mais presentes na cobertura do Governo Federal

O principal tema da semana foi novamente a polêmica envolvendo a visita da “dama do tráfico amazonense” ao Ministério da Justiça, o que fez os jornais levantarem questões sobre o capital político do governador Flávio Dino, colocando sua liderança em xeque. A visita foi interpretada por alguns como demonstração de conivência do governo com o crime, levantando preocupações sobre a integridade e a ética na gestão pública. A transferência de responsabilidade por parte de Dino para subordinados em relação à visita é mencionada, sugerindo uma tentativa de se isentar da culpa por parte do ministro. Além disso, a situação é interpretada como reveladora da necessidade de a pasta da Justiça revisar seus interlocutores em discussões sérias. A má repercussão do episódio levou o Ministério da Justiça a mudar os critérios de entrada, indicando uma reação às críticas. Essa mudança é apontada como um fator de grande desgaste para o governo Lula, devido à sensibilidade do tema.

O segundo lugar foi ocupado pela discussão sobre a Meta Fiscal. O destaque inicial é dado ao presidente da Câmara, Arthur Lira, que lembra as consequências previstas no próprio arcabouço fiscal caso o governo não cumpra a meta. Isso sugere uma abordagem crítica e atenta por parte do Legislativo em relação às obrigações fiscais do Executivo. O governo expressa a intenção de aprovar medidas de arrecadação, indicando uma abordagem proativa para garantir o alcance da meta fiscal. A medida também é vista como uma estratégia para dar tempo para que Fazenda consega arrecadação adicional. Os discursos de Lula sobre estabilidade econômica, no entanto, são caracterizados como vagos, indicando uma percepção de falta de clareza ou comprometimento nas declarações do ex-presidente em relação aos aspectos econômicos do governo. Mesmo com a meta inalterada, é observado que o governo precisa de receitas extras consideradas irreais.

Na terceira posição, a repatriação de brasileiros da faixa de Gaza é destacada. Os jornais enfatizam a eficiência do Itamaraty nesse processo, contrastando com as críticas de Lula e Celso Amorim a Israel. Enquanto o Itamaraty recebe elogios pela sua condução responsável e eficaz, as declarações de Lula e Amorim são apresentadas como discordantes, ressaltando diferenças potenciais na abordagem política brasileira em relação ao conflito em Gaza. A crítica a Lula e Amorim sugere uma postura divergente em relação às ações do Itamaraty, evidenciando o impacto de declarações públicas nas relações diplomáticas.

No quarto lugar, a relação entre Brasil e Israel é examinada. As ações de Lula, que equipara Israel ao Hamas, são criticadas por sua simplificação e falta de discernimento sobre o conflito. Esta abordagem é vista como limitadora da influência de Lula em política externa e potencialmente prejudicial à sua credibilidade. A reação negativa do Congresso e da comunidade judaica às declarações do ex-presidente também é enfatizada, indicando desaprovação a esta postura.

Gráfico 3. Cobertura do Governo Federal por tipo de texto[3]

Esta semana, os jornais intensificaram as críticas ao Governo. Os editorias foram desproporcionalmente negativos, com destaque para a Folha, que publicou somente editoriais com esse viés. Seguindo a orientação dos editoriais, o resto da cobertura desse jornal paulista foi também marcadamente negativa.

Gráfico 4. Cobertura do Presidente Lula por jornal

Essa semana, a Folha ficou na liderança da negatividade, com IV de –2, seguida pelo Globo com –1,33, e pelo Estadão, com IV igual a –0,88.

Gráfico 5. Temas mais presentes na cobertura do Presidente Lula

Da mesma forma que ocorreu na cobertura do Governo Federal, as discussões sobre as relações do Brasil com Israel, a Meta Fiscal, a crise no Ministério da Justiça e a atuação do governo na repatriação dos brasileiros da faixa de Gaza ocuparam parte significativa das notícias relacionadas ao Presidente Lula. No entanto, na cobertura do presidente, a diferença está no foco sobre as falas de Lula em relação a Israel, que dominaram as citações do presidente na imprensa esta semana.

Gráfico 6. Cobertura do Presidente Lula por tipo de texto

A cobertura em torno de Lula permanece menor quando comparada àquela dedicada ao Governo Federal, mas superior em negatividade. Os três jornais criticaram fortemente o presidente em seus editoriais, sendo que a Folha estendeu o viés negativo para suas manchetes, chamadas e colunas.

Considerações finais

Os jornais parecem estar, semana após semana, se aproximando de nível de viés negativo na cobertura do governo petista e de Lula similares aqueles recebidos pelo petista durante seu segundo governo ou por Dilma ao longo de seus dois governos. Os pontos de conflito são vários, mas a agenda econômica tem centralidade na cobertura jornalística, sempre pronta a censurar o governo e o presidente quando ensaiam se afastar de uma postura fiscalista. Essa semana, o conflito no Oriente Médio também se transformou em assunto de crítica exacerbada, revelando o alinhamento da imprensa nacional com a agenda pró-Israel da mídia mainstream da Europa e EUA. Mas isso não é tudo, o incidente da visita da “dama do tráfico”, em si uma operação de branding produzida pela grande imprensa, mostrou o potencial de colaboração da mesma grande imprensa com a máquina de desinformação da extrema direita. Veja o relatório no. 6 do Observatório das Redes para maiores detalhes.

Para baixar o nosso relatório, clique aqui.


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DONI

O De Olho Na Imprensa! (DONI) é um relatório semanal produzido pela equipe do Manchetômetro, que é um projeto do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ.

Utilizamos as metodologias da Análise de Valências e Análise de Enquadramentos para avaliar o posicionamento dos jornais.

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[1] As valências no gráfico estão associadas às posições e ações tomadas pelo presidente ou pelo Governo Federal em relação aos temas. Por exemplo, um texto sobre economia com valência Negativa para Lula significa que o texto versa sobre economia e que a maneira como o presidente nele é tratado é negativa ou desfavorável.

[2] O Índice de Viés (IV) é calculado pela fórmula , na qual F é o n° de favoráveis, C o n° de contrárias, A o n° de ambivalentes e N o n° de neutras.

[3] Neste gráfico vemos mais claramente o posicionamento dos jornais, em seus editoriais e na opinião que representam em suas páginas, por meio de colunistas e artigos de convidados.

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Criado em 2014, o Manchetômetro (IESP-UERJ) é o único site de monitoramento contínuo da grande mídia brasileira. As pesquisas do Manchetômetro são realizadas por uma equipe com alto grau de treinamento acadêmico e profissional.

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